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5 DE JULHO DE 1983 455

boios nas pontes centenárias. Falaremos noutra altura da monoindústria da Covilhã, dos seus estrangulamentos, das suas carências financeiras, das suas estruturas obsoletas. Diremos, noutro tempo, o que pensamos dos fogos florestais e da falta de repovoamento florestal de quase 300 000 ha só nos baldios de Castelo Branco. Mas não quero, desde já, de deixar aqui o testemunho importante de um guarda florestal da serra da Gardunha, citado em reportagem pelo Jornal do Fundão, que dizia: «apareceu por aí um comerciante de madeiras a oferecer metade do preço do valor de um pinhal. Dias depois houve um incêndio, e o mesmo senhor comprou a madeira queimada pelo preço que tinha oferecido. É possível que entre os dois momentos tenha sido negligentemente deixado um saco de serradura misturado com pólvora que, algumas horas depois, atacou a mata com a traição do incêndio».
Mas vamos ao que interessa: o projecto de regadio da Cova da Beira. Como VV. Ex.ªs sabem, esta região encaixa-se entre os maciços das serras da Estrela e da Gardunha, tendo como limites naturais os contrafortes destas serras, o vale da ribeira da Gaia na confluência com o Zêzere a nordeste e a serra da Malcata a este. A rede hidrográfica é constituída pelas bacias da linha de água do curso superior do rio Zêzere, linhas de água essas que são as ribeiras de Gaia, de Caria e da Meimoa, na margem esquerda, e da ribeira de Beijames, na margem direita.
A Cova da Beira tem a forma de um «V», se observada da Portela da Gardunha, abrangendo uma área irrigável de 17 800 ha. Destes, 3500 ha integram uma vasta área constituída por aluviões de I classe, 3700 ha de solos de aluvião de II classe, 5900 ha classificados como de III classe, regáveis com limitações moderadas, 1860 ha com limitações acentuadas e 1840 ha com severas limitações à prática do regadio. Trata-se, portanto, de toda uma área em que, quase metade da área irrigada, é constituída por solos aluviais.
Abrangerá 30 freguesias, sendo 3 do concelho de Belmonte, 10 da Covilhã, 12 do Fundão, 3 de Penamacor, 1 da Guarda e, igualmente, 1 do Sabugal.
Para além da recuperação dos solos aptos para o incremento da pecuária, o regadio aumentará de forma substancial a produção do milho e do trigo, poderá cultivar-se a beterraba sacarina, a fruticultura será incrementada e manter-se-á o olival, reconvertendo-o para azeitona de conserva, passando o valor acrescentado anual a ser da ordem dos 904 000 contos a preços de 1977.
Mas além do melhor aproveitamento dos solos com aptidão agrícola, outros não menos importantes benefícios se colherão com a implementação e a execução integrada do projecto da Cova da Beira. Assim, quer a jusante quer a montante da agricultura, criar-se-ão os inputs necessários à sua exploração e desenvolvimento, bem como os outputs postulados por uma industrialização adequada dos produtos e sua comercialização. Mas não só neste domínio o projecto se releva de uma importância excepcional. Também nos domínios da valência eléctrica e do abastecimento de água às populações da área, das quais a mais importante é, sem dúvida, a do concelho do Fundão, que, em verões sucessivos, tem água apenas 2 horas por dia.
Mas porquê falar aqui e agora no projecto de regadio da Cova da Beira? As infra-estruturas que a enformam são as barragens da Meimoa, do Sabugal, da Capinha, o túnel de ligação e central hidroeléctrica entre o Sabugal e a Meimoa, as redes fixa e móvel de rega, a rede de drenagem e as obras de regularização fluvial e de defesa contra as cheias. Projectos que, a preços de 1977, atingiam o montante de 2 160000 contos e que hoje, logo que o projecto se conclua, pode ir, pelo menos, a 8 500 000 contos. Como é do conhecimento de VV. Ex.ªs, o Governo Português negociou um financiamento com um banco alemão, que, há bem poucos meses, veio a público para dizer que os financiamentos poderiam ser cancelados por falta de interesse do lado português.
Vem tudo isto a propósito para, neste hemiciclo, lavrar o mais profundo protesto contra tudo aquilo que se tem passado, ou melhor, contra aquilo que não se tem passado. De facto, e de acordo com os planos iniciais, o projecto de regadio deveria estar concluído em meados de 1984, mas por razões que têm a ver com a inércia governativa anterior, só virá a concluir-se em 1990, se é que virá.
Não interessa olhar para o passado, mas apostar no futuro e na acção deste Governo. A subregião do Centro estará atenta ao desenrolar da situação pela voz dos seus deputados. Mas desde já afirmamos que o projecto terá de avançar, com ou sem contrapartidas do lado alemão. Ë que este é um subsector produtivo, cujo financiamento se impõe pelos efeitos positivos que terá no desenvolvimento sócio-económico do interior e que se projecta na riqueza do próprio País.
Bem sabemos que são escassos os recursos financeiros do País. Bem sabemos que outras regiões e outros portugueses se defrontam com problemas de real gravidade. Mas também sabemos, e quero acreditar, que é tempo de inverter o crescimento desmesurado do litoral e dos grandes centros urbanos, levando às regiões que represento um naco das dotações orçamentais.
É tempo de pensar que a insularidade é também interioridade. Ê tempo de estancar a hemorrogia das migrações, que, deixando os campos ao abandono, aumentam multidões que superpovoam os grandes centros urbanos do litoral, onde buscam casas que não se constróem, empregos que escasseiam, esperanças que secam na autofagia de bocas famintas. Ë preciso e é urgente dar resposta ao grito de angústia de Sá de Miranda, que escreveu no século XVI:

Não me temo de Castela
Donde guerra inda não soa
Mas temo-me em Lisboa
Que ao cheiro dessa canela
O reino se despovoa

E o reino, Srs. Deputados, é todo o interior do País. Aplausos do PS, do PSD, da UEDS e da ASDI.

O Sr. Presidente: - Para pedir esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado Figueiredo Lopes.

O Sr. Figueiredo Lopes (PSD): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: Referiu-se o Sr. Deputado Roque Lino ao Reino de Castela, salientando uma frase que não vale a pena repetir, também eu diria como Fernando Pessoa que «cumpriu-se o mar, cumpriu-se o império, falta cumprir Portugal».