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718 I SÉRIE-NÚMERO 19

O Orador: -... não está a tomar uma posição correcta, não está a tomar uma posição que ponha em primeiro lugar os interesses globais do País, está a assumir ama posição particularista, está a assumir uma posição sectária. É isso mesmo que reprovamos.
O Partido Socialista, quando se apresentou ao eleitorado, traçou um retrato da crise em que vivíamos e nessa altura afirmou que para vencer a crise era necessário tomar medidas drásticas e uma terapêutica que seria, eventualmente, amarga, mas que teríamos que passar por essa fase para poder salvaguardar a democracia e promover o progresso do País.
Não queremos, nem que o CDS nem que o Partido Comunista passem a bater palmas ao Governo e ao Partido Socialista! Estão no seu papel de forças da oposição. Mas que seja uma oposição responsável, uma oposição realista, que tenha em conta os problemas nacionais e não que passe o tempo a apontar o dedo e a dizer que a culpa é sempre dos outros!

Aplausos do PS, do PSD e da ASDI.

O Sr. Joaquim Miranda (PCP):- O Governo é que é responsável!

O Sr. Presidente: - Tem a palavra, para responder, Sr.ª Deputada Odete Filipe.

A Sr.ª Odete Filipe (PCP): - Sr. Deputado, começava por lamentar a sua intervenção, através da qual se verifica que o Sr. Deputado não conhece as realidades do mundo laboral no que diz respeito às mulheres trabalhadoras e até aos trabalhadores em geral!

Vozes do PCP: - Muito bem!

A Oradora: - Possivelmente o Sr. Deputado ignora, ou pensa que é mentira, a existência de 100 mil trabalhadores com salário em atraso, muitos deles mulheres! Possivelmente o Sr. Deputado poderá aqui dizer que não há aumento do custo de vida! O Sr. Deputado, possivelmente, poderá vir aqui dizer que os contratos a prazo não afectam os trabalhadores e, em especial, as mulheres, que no tocante a discriminações são as maiores vítimas! Poderá vir aqui, de facto, contrapor tudo aquilo que queira, mas a realidade é a que eu digo, e não só porque subi à tribuna e fiz um discurso, mas, sim, porque sou trabalhadora e conheço o problema dos trabalhadores.
É lamentável que o Partido Socialista, dizendo-se um partido que tem muito a ver com os trabalhadores, não tenha um conhecimento real de quais são os problemas graves que hoje afectam directamente os trabalhadores e, em particular, as mulheres trabalhadoras.

Aplausos do PCP.

É pena, Sr. Deputado, que o seu partido não tenha conhecimento disto! Ou não tem estado em Portugal, ou tem um desconhecimento real dos grandes problemas que existem no nosso país e que afectam os nossos trabalhadores.

Aplausos do PCP.

O Sr. Custódio Gingão (PCP): - Quem tem telhado de vidro, não atira pedradas!...
Neste momento, assumiu a presidência o Sr. Vice-Presidente Fernando Amaral.

O Sr. Presidente: - Para uma declaração política, tem a palavra a Sr.ª Deputada Marília Raimundo.

A Sr.ª Marília Raimundo (PSD): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: Por demais é conhecida a vida difícil e altamente carenciada a que os habitantes do distrito da Guarda - caracterizado por uma interioridade que se tem revelado opressora e esterilizante - se têm visto condenados a suportar.
É a dureza granítica da serra que, orgulho embora da sua terra, lhe faz regar de escaldante suor o magro pão das suas encostas.
É o rigor de um clima que fustiga quem não pode fugir às duras exigências da vida.
É a distância quase intransponível do litoral, dos grandes centros urbanos, dos centros de decisão, dos centros governativos e dos centros culturais.
É todo um mundo de circunstâncias que fazem com que seja bem duro viver no distrito da Guarda, e que leva muitos a emigrar, procurando noutras paragens o que na sua própria terra lhes é injustamente negado.
Mas as dificuldades não embotaram o sentir dos habitantes deste distrito do interior, antes espicaçaram a sua criatividade. A dureza da serra não amesquinhou a sua personalidade, antes temperou o seu' carácter. As rajadas ciclónicas do gélido frio não fizeram ruir os seus anseios antes lhe deram, como tão bem diz Miguel Torga «uma obstinação de caruncho, muda, modesta, inflexível, incapaz da piedade de ceder ao seu próprio cansaço».
À sombra do embrionário coração da Pátria que é a Estrela, e frente ao orgulho de Castela, o habitante desta região soube sempre ser Português, forte baluarte contra cobiças alheias e não mero espectador da história. Agarrado ciosamente às berças donde arranca o milagre da sua subsistência ele tem na história pátria consciência do seu destino «íngreme como as encostas onde cultiva a esperança» e foi-lhe sempre fiel. Tem orgulho dos seus filhos que, nascidos do pastor de pau e manta a guardar um rebanho, se impuseram em quase todos os sectores da vida nacional, subiram na vida a pulso e se guindaram a postos cimeiros.
A dureza, a seriedade, a verticalidade, a capacidade de luta e a persistência das gentes do distrito da Guarda traz-nos à lembrança as palavras do «Juiz da Beira» na farsa de Gil Vicente:

Olhai vós bem que este sam eu
Homem de boa ventura,
Empacho nunca me atura
E hei-de dizer o meu
Coma qualquer criatura

Sr. Presidente, Srs. Deputados: O distrito da Guarda orgulha-se dos seus filhos que tanto a honraram, revê-se neles e quer prestar-lhes aqui a sua homenagem. É que também as rochas são suaves quando cobertas de neve e há flotes entre o «cervum» contrariando assim a canção que diz:

Dos montes de pedras
Não nascem flores