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4 DE NOVEMBRO OE 1983 1775

vem os problemas dos vidreiros porque ninguém está interessado em resolvê-los. Portanto, não se trata de falta de diálogo.
Se os trabalhadores têm de recorrer a formas de luta como têm recorrido, os responsáveis são o Governo e aqueles que não querem dialogar paro resolvei os problemas dos vidreiros.

Aplausos do PCP.

O Sr. Deputado Silva Marques também já nos habituou a, irresponsavelmente, inverter completamente as coisas. Só assim se poderia atribuir, ao Partido Comunista, um mínimo de responsabilidade pela crise dos vidreiros da Marinha Grande, bem como na de outros pontos do País.
Quanto ao Sr. Deputado José Luís Nunes e ainda em relação à falta de diálogo, lembro o que é necessário perguntar ao Sr. Primeiro-Ministro, inclusive, a quantas solicitações dos vidreiros da Marinha Grande já respondeu - ou não respondeu. Somos nós, os trabalhadores, que queremos o diálogo e não venham, depois, falar em formas de luta condenáveis, porque os trabalhadores têm de se fazer ouvir, corra por donde correr.

O Sr. Jorge Lemos (PCP): - Muito bem!

O Orador: - Se fecham ouvidos e as portas às soluções, os trabalhadores têm de se fazer ouvir.

O Sr. José Luís Nunes (PS): - Dá-me licença que o interrompa?

O Orador: - Faça favor, Sr. Deputado.

O Sr. José Luís Nunes (PS): - Tenho ouvido com muita atenção as suas palavras, que em muitos aspectos correspondem a pontos de vista diferentes dos meus, mas às quais não há que fazer comentários, pois reflectem os seus pontos de vista, que são claros.
A questão é, pura e simplesmente, a seguinte: a Constituição da República dá, ou não, métodos de luta suficientes aos trabalhadores para se expressarem?
Por hipótese, em face da mais terrível, errada e injusta política devem, ou não, os trabalhadores recorrer aos métodos de luta constitucionais e legais sem invadirem o terreno do ilegal?
É sobre esta questão que eu gostaria de ouvir a opinião do Sr. Deputado.

O Orador: - Sr. Deputado José Luís Nunes, respondo com uma pergunta: na realidade, quantos problemas de salários em atraso, de encerramentos de empresas e de despedimentos se resolveram através de conversações com qualquer departamento estatal ou qualquer ministério?

Vozes do PCP: - Muito bem!

O Orador: - Os trabalhadores só vão para formas de luta como as que têm utilizado, porque se lhes fecham todas as portas.

Vozes do PCP: - Muito bem!

O Orador: - Por último, queria dizer que o Sr. Deputado tem de melhorar os seus conhecimentos da história sobre a luta dos vidreiros da Marinha Grande. Foi relativamente ao 18 de Janeiro de 1934 que o Secretário do Partido Comunista Bento Gonçalves - assassinado aliás pelo fascismo no Campo de Concentração do Tarrafal - se referiu a uma «anarqueirada».
Mas isso não anula, se o senhor quiser ver as coisas como devem ser, a homenagem que Bento Gonçalves prestou aos trabalhadores da Marinha Grande, dos quais 99 % eram comunistas e foram ter a todas as prisões do País - ao Tarrafal, onde morreram.

O Sr. Dias Lourenço (PCP): - E tu estiveste lá! É bom que saibam!

O Orador: -Também lá estava. Não estive no 18 de Janeiro, porque nessa altura já o fascismo me tinha metido na cadeia por lutar pela defesa dos interesses dos trabalhadores. Apesar disso, conheço a situação ao vivo.
A luta dos operários vidreiros na década de 30 foi feita pelo Partido Comunista, pelas únicas forças que lutavam na altura contra o fascismo e que assim continuaram até ao 25 de Abril de 1974.

O Sr. Presidente: - Para protestar, tem a palavra o Sr. Deputado Silva Marques.

O Sr. Silva Marques (PSD): - Começo pela parte final das afirmações do Sr. Deputado Joaquim Gomes e também com o fim de participar na reconstituição histórica.
Todos sabemos com que militantismo V. Ex.ª também participou nas lutas da Marinha Grande e não está em causa a sua pessoa.
Mas já que se trata de reconstituição histórica, convém lembrar - e V. Ex.ª sabe - que as lutas travadas na Marinha Grande em 1933, foram feitas contra o Partido Comunista. Foram sobretudo fomentadas pela central sindical daquela altura, que não era, efectivamente, de tendência comunista. Antes pelo contrário, os comunistas tinham uma grave divergência com aquela central sindical. Houve, efectivamente, uma participação de comunistas nessas lutas. Porém, não é disso que se trata, mas sim de se saber se o Partido Comunista deu ou não o seu acordo às lutas da Marinha Grande de 1933.
E como V. Ex.ª sabe, o Partido Comunista não deu o seu apoio. Por isso, Bento Gonçalves mais tarde vem chamar de «anarqueirada» a essas lutas.
Isso, tal como agora, se classifica um pouco de desespero individualista a greve da fome do Rui Romano.
Quando as lutas são feitas de acordo com a conveniência do comité central, elas são lutas justas, mas quando são feitas fora do calendário do comité central ou de qualquer outra organização com os mesmos vícios sectários elas são «anarqueirada».
Desculpe esta participação, mas era no sentido da reposição histórica.
Ficámos realmente esclarecidos sobre a sua opinião quanto aos cortes de linha, ocupação de repartições de finanças, etc.