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I SÉRIE -NUMERO 55

(como, aliás, o sublinha), comendo e dormindo onde era possível e o que era possível, o que existia nas pobres casas por onde ela passou e onde deixou uma lembrança inapagável.
O grande mérito de Maria Lamas de se fazer ouvir e ler, entender, compreender e até apoiar, por indivíduos das mais variadas classes e opiniões, tinha as suas raízes no seu humanismo actuante, na sua formação democrática, na sua coerência política, na sua grande sede de verdade e justiça.
Vítima de perseguições do mais variado tipo pelo fascismo, de perseguições económicas, inclusive, expulsa da direcção da revista Modas e Bordados, por se recusar a abandonar a presidência do Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas, presa várias vezes, já com avançada idade, esta mulher cujo coração deixou de bater na madrugada de 6 de Dezembro, está e mantém-se ligada ao que de mais importante teve lugar no campo das forças democráticas, progressistas, culturais e pacíficas da nossa terra.
A condecoração da Ordem da Liberdade que lhe foi conferida é disso mesmo um reconhecimento.
A esperança que Maria Lamas semeava por onde passava, o amor que punha em tudo que fazia, a confiança que transmitia mesmo numa simples conversa, a paixão com que defendia o que lhe parecia justo, fizeram de Maria Lamas uma personalidade de grande relevo na vida cultural e política, nacional e internacional.
Os oprimidos, as mulheres, as crianças, os jovens, tiveram em Maria Lamas uma grande defensora dos seus direitos e também uma grande impulsionadora das forças subjacentes na sociedade capazes de operar a sua libertação e de pôr fim à sua opressão.
O País perdeu com a morte de Maria Lamas uma grande figura nacional, uma grande mulher que entrou na história.
É este acontecimento que no voto de pesar proposto pelo Grupo Parlamentar do PCP a esta Assembleia, que em vida já a homenageou, se reconhece e se sublinha.

Aplausos do PCP. do PS, do MDP/CDE, da UEDS e da ASDI.

O Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado Manuel Alegre.

O Sr. Manuel Alegre (PS): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: O Partido Socialista associa-se ao voto apresentado pela bancada do Partido Comunista Português, não só pela circunstância de Maria Lamas ter pertencido ao primeiro conselho directivo do Portugal Socialista num determinado momento, mas, sobretudo, pela dimensão humana, moral, cultural e política verdadeiramente nacional e ímpar da autora de Mulheres do Meu País.
O livro Mulheres do Meu País é, aliás, uma obra pioneira como, em muitos outros domínios, Maria Lamas foi também um espírito pioneiro. É uma obra clássica, de leitura obrigatória para todos aqueles que se interessam pela problemática da situação da mulher e da luta pela dignificação da mulher no nosso país.
Sou um dos muitos que tiveram o privilégio de privar com Maria Lamas, primeiro em Paris e depois em Argel, onde ela passou uma temporada da sua vida.
Eram tempos difíceis os de então e para nós, que éramos jovens e tínhamos deixado para trás casa, família e amigos, Maria Lamas, no seu pequeno quarto do Hotel Saint Michel, na Rue Cujas, em Paris, foi um símbolo da família, da casa, da própria Pátria perdida.
Como bem escreveu Fernando Piteira Santos, para muitos de nós ela foi a avó, a mãe, a amiga, a irmã mais velha, a companheira, a camarada. A sua vida e a sua obra foram um grande exemplo e uma grande lição de humanismo, mas, sobretudo, ela tinha uma virtude incomparável, a virtude de saber ouvir, de saber compreender e a virtude da ternura, que é importante e imprescindível nas horas difíceis, nas horas de resistência, nas horas amargas da luta pela liberdade, especialmente quando esta luta se passa nas condições difíceis do exílio.
Maria Lamas sabia ouvir, sabia compreender, sabia dar ternura e sabia também transmitir e ensinar a tolerância. Eu diria que, para além da sua obra escrita, toda a sua vida foi um acto de cultura, um acto de elegância, um acto de beleza e também um acto de fidelidade às suas convicções, aos seus ideais, aos problemas do seu povo e da sua Pátria.
Por isso, Maria Lamas merece o respeito de todos os portugueses e a sua vida e a sua obra devem ser apontadas como um exemplo às gerações vindouras. Por isso nos inclinamos respeitosamente perante a sua memória, com a certeza de que ela ficará connosco, ela que foi um daqueles espíritos raros que souberam ser contemporâneos do futuro.

Aplausos do PS, do PSD, do PCP, do MDP/CDE, da UEDS e da ASDI.

O Sr. Presidente: - Tem a palavra à Sr.ª Deputada Helena Cidade Moura.

A Sr.ª Helena Cidade Moura (MDP/CDE): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: É uma honra para esta Assembleia ter oportunidade de homenagear Maria Lamas e é uma honra especial que este voto tenha sido apresentado pela Sr.ª Deputada Alda Nogueira, também ela um símbolo de unidade e um símbolo de resistência antifascista.
É bom que se preste homenagem aos mortos, mas é bom que, ao mesmo tempo, recordemos também aqueles que estão vivos.
Maria Lamas era a imagem da procura da liberdade, a imagem do amor e, como disse Manuel Alegre, a imagem da fidelidade aos princípios e a imagem da tolerância.
Apesar de eu nunca ter estado emigrada, nas muitas conversas que tive com ela naquele quartinho do Hotel Saint Michel, nunca o peso de uma ideologia, fosse ela qual fosse, tropeçava na sua liberdade enorme de pensamento, na sua liberdade total de se dar aos outros, de se dar realmente, porque, segundo ela própria explicava, ao sair do colégio das freiras percebeu que a sua missão era dedicar-se.
Nunca houve entre ela e Cristo nenhuma ruptura, foi assim até à sua morte e, nessa linha, nós defendemos que as ideologias políticas e as ideias religiosas não se devem misturar.
Ela entendia que a responsabilidade social era uma forma de amor e uma forma de solidariedade colec-