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2640 I SÉRIE - NÚMERO 59

nefastos, ou para serem empalhados ou ainda envenenados acidentalmente por ingerirem animais mortos com pesticidas.
O mesmo se aplica ao abutre, que se encarrega de fazer desaparecer as carcaças dos animais mortos, que, em períodos de epidemia, constituem um sério problema sanitário. O seu número está muito reduzido, encontrando-se já em poucos locais, como no Alentejo, ou no Douro Internacional.

Mas igualmente se falou da fauna e flora subaquática e da vegetação que fixa as dunas, obstáculos naturais à propagação para o interior da linha da costa, fenómeno que está a ser compensado por todo o País através da construção de dispendiosas e quantas vezes ineficazes muralhas e esporões de pedra. O desaparecimento ou deslocação das dunas resulta muitas vezes da acção humana, como são as edificações sobre elas ou a exploração ilegal de areias para construção.

Esta é de má qualidade, saliente-se devido ao seu teor em sais. Porém, o problema não é de quem a lá vai buscar de um modo gratuito, mas de quem vai comprar a casa feita com cimento em que tal areia foi incluída! Um dos casos referidos foi, por exemplo, em Vila Nova de Gaia, na foz do rio Douro.

Aliás, a exploração de areias, vulgo «areinhos», nos nossos rios é responsável pelo desaparecimento gradual dos nossos mais apreciados peixes, como a lampreia do rio Minho, por exemplo, criando problemas a quem vive da sua pesca.

15to, claro, onde o nível dos produtos tóxicos oriundos das explorações agro-pecuárias ou lançados por esgotos domésticos e industriais permitem ainda que estes sobrevivam.

E não somos ainda um país com alto nível de industrialização!

É verdade que indústrias só significam poluição se não existirem filtros e sistemas de reciclagem. Mas quem é que nos garante que as futuras fábricas virão a cumprir regras rigorosas de controle de efluentes?

Muitas empresas nem sequer cumprem hoje as regras de segurança e higiene na protecção do seu pessoal, como é o caso, igualmente, de certas explorações mineiras, uma das quais esteve recentemente entre nós na Assembleia da República, representada pelos seus trabalhadores que nos expuseram os seus problemas.
Existem muitas centenas de fábricas sem sistema anti-poluição que ameaçam encerrar se fossem obrigadas a instalá-los, dados os seus preços e o estado de descapitalização em que muitas delas afirmam encontrar-se.
E os governantes fecham os olhos e ignoram tais crimes. É a crise, e perante ela se curvam todos aqueles que não compreendem que apostar na vida, apostar no futuro, é combater hoje as múltiplas causas da agonia das nossas águas que se espalha por elas como um cancro.
Mas por vezes o problema é já não a poluição da água doce mas sim a sua ausência ou a sua substituição por água salgada.
O primeiro caso, devido à falta de cobertura vegetal e de locais onde as águas fluviais se armazenem como pequenas barragens de terra, por exemplo, a evaporação é grande e a infiltração pequena, diminuindo a toalha aquífera rapidamente. No segundo caso, a sua extracção em furos cada vez em maior número leva a que o seu nível baixe e seja substituído, nos vales, por água salgada que se infiltra desde o mar.

É a destruição lenta dos solos de lavoura, pelo sal. Tal facto também acontece devido à canalização de grande parte do caudal de um rio para canais de rega ou para fins industriais, como vai acontecer ao pobre Mondego para alimentar a nova fábrica da pasta de papel da Figueira da Foz. As consequências nos arrozais e no nível friático serão conhecidas dentro em breve. A lista de atentados é, porém, interminável; é a velha questão das ilhas, dunas, escarpas, praias e pinhais costeiros, invadidos pela construção clandestina, normalmente para fins de veraneio ou comércio sazonal, é o espectáculo dos lixos acumulados junto de aglomerados de tendas cujos proprietários não merecem o nome de campistas, etc., etc., etc.

Mesmo os desportistas, como os espeleólogos, os montanhistas, os praticantes de desportos náuticos, os pescadores e mergulhadores, criam inadvertidamente sérios problemas às espécies animais que somente sobrevivem ainda nas montanhas e arribas agrestes, devido ao isolamento em que têm vivido até hoje.

Com a fuga dos tempos livres do homem da cidade para o seio da natureza e com o desenvolvimento dos meios de transporte, o efeito perturbador do motor chegou a todo o lado. São de censurar as práticas de motocross sobre as dunas e nas proximidades de sapais e outras zonas em que nidificam ou descansam aves migradoras que dependem desses locais para continuar as suas longas viagens entre continentes. E que dizer dos «habilidosos» que fazem gincanas à beira-mar, seja com motos, ou com veículos todo-o-terreno, em praias públicas, como no Guincho ou em Cascais, por exemplo, incomodando, com o ruído, quem procura nesses locais o descanso para o stress de uma semana de trabalho?
E o caso relatado no colóquio sobre zonas ribeirinhas de um helicóptero militar que, depois de se aproximar tanto de 2 biólogos que os forçou a deitarem-se no chão, perseguiu uma águia que aqueles investigadores estudavam?
E o exercício de fogos reais militares que não levam em conta o equilíbrio ecológico, por vezes frágil, das zonas em que se desenvolvem, com incêndios frequentes, facto que já levantou protesto dos próprios bombeiros?

E os caçadores que caçam nos parques e reservas devido ao facto de só existir um guarda e de avançada idade?

E a construção de marinas de recreio, como, por exemplo, se planeiam para o Sado (Tróia) e ria de Alvor, com a destruição de áreas ecológicas e paisagísticas sensíveis?
São conhecidos exemplos no estrangeiro de zonas tão exploradas turisticamente que foram mais tarde abandonadas por perderem as características que atraíram inicialmente o turismo. São um aviso para Portugal, que pretende fazer desta actividade uma fonte de receita. Mas atenção ao tipo de turismo que pretendemos oferecer e quanto tempo ele durará.
É o que espera a nossa costa do Sudoeste, Alentejana e Algarvia, que se encontra na mira de negociantes que planeiam o seu esquartejamento total, a exemplo do que se passa numa conhecida urbanização perto de Aljezur.