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abastanças das sociedades opulentas, todos serão obrigados a admitir que a necessidade de optar está posta quando a questão do poder, da hierarquia das potências, da tentativa de condomínio mundial pelos donos do fogo nuclear e do projecto de império mundial que anima uma das concorrentes são factos que necessariamente entram na prudência governativa das escolhas, e que esta não será a mesma para os que desejam manter a identidade e viabilidade independente de Portugal, ou para os que avançarão outras, porque consideram que existem valores mais altos de natureza ideológica a servir.

Damos por indiscutível que a coligação governamental tem como objectivo intocável a manutenção da identidade e viabilidade independente de Portugal. Tomará ela, porém, suficientemente em conta que existem preocupações sobre a questão de saber se a identidade portuguesa não está a ser, pelo menos, atacada, ou já vítima de alguma erosão, num momento em que os factores exógenos, que não podemos dominar ou modificar, parecem conjugar-se com a probabilidade de alteração qualitativa da crise interna portuguesa?

Esta foi inicialmente política, como é da natureza das revoluções, manteve este carácter ao mesmo tempo que se desenvolvia no sentido de uma crise económica e financeira, e atingiu nesta direcção um ponto agudo que deixa antever um prolongamento em grave crise social. Uma crise social em que os conflitos de interesses, entre as gerações, entre a cidade e o campo, entre as regiões, entre os estratos sociais, entre os indivíduos e o grupo, tende para sobrepor-se a um esquecido bem comum até semanticamente excomungado, instalando um clima que paralisa a moral de responsabilidade, abre caminho à corrupção, ao carreirismo, àquela apagada e vil tristeza que no tempo do Poeta aceitou a própria demissão da viabilidade independente.

As sondagens que foram publicadas sobre o problema do iberismo, além de mostrarem que a sensibilidade profissional dos observadores responsáveis por elas detectou um problema a exigir observação e estudo, e certamente por isso as efectuaram, também mostraram que as reacções foram mais amenas do que seriam quando determinadas por um inequívoco sentimento de identidade e de inequívoca determinação, no sentido de assegurar a liberdade, que se chama independência do nosso tempo. Acrescente-se a facilidade com que publicamente se adianta, contra a política atlântica do Governo, e justamente nas vésperas da discussão do nosso estatuto, não apenas jurídico, mas político, no Mercado Comum, que Portugal não tem direito a qualquer relação privilegiada com os países de expressão oficial portuguesa, entre os quais, estes líderes de opinião sempre esquecem que também está o Brasil. Acrescentem-se os números que em cada ano marcam o crescimento dos objectores de consciência. A escola, a todos os níveis, não exerce uma acção fortalecedora da identidade nacional, antes a deteriora com o menosprezo da história, quando não acontece que a essa acção vem somada uma actividade de meios de comunicação social, que todos pagamos, devotada a ridicularizar oito séculos de vida, que lhes permitem exibir aquilo que julgam ser uma criatividade esmagadora, e não passa dos pilritos a que a ciência popular limita à capacidade dos pilriteiros.

O Instituto de Altos Estudos Militares já no ano passado incluiu no seu currículo o tema "Factores de coesão e dissociação da Nação Portuguesas, sinal de que não lhe escapou também que estes últimos existem, e ainda não vimos o empenhamento governativo no sentido de enfrentar tal erosão, sobretudo no ensino, onde um poder burocrático, ou dignificado de tecnocrático, perece supor-se capaz de, com tranquilidade, medir capacidades com o poder político.
A independência abriga-se numa fronteira que delimita o chão de uma comunidade com decisão e credibilidade, e está à vista que estas últimas se deterioram por acção interna e externa, acontecendo que a principal fronteira que oferecemos à geração que agora chega à maioridade política não tem nada a ver com as seis que possuíamos na década de 40, com a dúzia que nos definia na década de 60, com a única territorial que nos pertence desde a década de 70, mas, sim, com uma entidade que invadiu a nossa vida colectiva e se chama Fundo Monetário Internacional, e na qual fronteira se defende a própria autonomia de gestão política interna e externa, aquilo que os povos que não esqueceram o patriotismo chamam a liberdade nacional sem a qual dificilmente existem outras. Na situação de penúria a que chegámos, os factores morais da forte identidade, da decisão e da credibilidade são os últimos recursos que podemos deixar afectar.

Vozes do CDS: - Muito bem!

O Orador: - Ora, anda esta Câmara preocupada com as leis complementares da Lei da Defesa Nacional, que têm prazo de apresentação, e, todavia, sem elas poderemos continuar a vegetar sem incómodo de maior, se não conseguirmos definir um conceito estratégico nacional e um conceito estratégico militar, que esses exigem alguma coisa mais do que o talento de produzir filosofias e normas, dependem da identidade nacional forte, decisão, credibilidade, e também de reservas estratégicas, de equipamentos, de contingentes, de capacidade militar crível, e todos sabemos que chegamos à situação de não termos recursos para autonomamente os pagar, nem sequer agricultura que lhes valha, em caso de emergência.

Vozes do CDS: - Muito bem!

O Orador: - Tendemos aceleradamente para a situação de país exíguo na cena internacional, com a diferença de que nenhum dos outros pequenos Estados, que aceitaram essa situação jurídica, têm uma situação interna tão degradada como a nossa, nem os constrangimentos geoestratégicos que os coloquem, como a nós, detentores de um poder simplesmente funcional chamado triângulo estratégico, entre os elementos que os sistemas estratégicos em confronto não dispensam na sua definição. No pendor da especialização de funções, que se vai perfilando cada vez mais nitidamente dentro das alianças, o horizonte que se concretiza é o de simples prestadores de serviços, que negoceiam facilidades que a força dos outros também poderá obter gratuitamente em caso de emergência internacional que nos coloque na rota da agressão.

Vozes do CDS: -Muito bem!