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Com efeito, ligar a estabilidade política à simples aritmética parlamentar revelou-se, como era aliás de esperar, um raciocínio simplista e sobretudo falso.
Em primeiro lugar, porque é profundamente anormal, em termos democráticos, a união sob um programa comum de Governo de dois partidos que se apresentaram ao eleitorado cada um deles como alternativa do outro. O eleitorado escolheu assim entre dois projectos que além de serem distintos se diziam alternativos.
Ao contrário pois do que acontecera mm a Aliança Democrática, nunca os eleitores se pronunciaram sobre um governo do bloco socialista e aqui reside uma primeira e insanável frustração. O actual Governo nascido desenraizado do eleitorado tem a sua paternidade nos estados-maiores dos partidos que o formam, é, em democracia, o que se poderia com propriedade chamar, um "Governo proveta".
Formou-se para preencher um vazio, para resolver problemas imediatos, para tentar a pilotagem da conjuntura económica. Numa palavra é um governo do e para o curto prazo e como era previsível nele se está a esgotar.
Sem um projecto nacional sufragado pelos eleitores o bloco apoiante do Governo sobrevive sem convicção e em angústia permanente não vá de um momento para o outro romper-se o precário equilíbrio das forças coligadas.
Atente-se, Sr. Presidente e Srs. Deputados, no recente processo de escolha dos gestores públicos e de alguns altos funcionários da administração central. Homens sérios, técnicos competentes, com experiência adquirida ao longo de uma vida de trabalho, afastados por não merecerem confiança política. O que esteve em causa não foi a capacidade técnica e profissional dos gestores ou dos funcionários e em alguns casos nem sequer a invocada confiança política, mas apenas e tão-só o equilíbrio de forças na repartição do poder entre os partidos da coligação. "Pataca a mim, pataca a ti", como diz o povo, foi esta a regra na escola dos titulares de cargos públicos.
Como vai longe o tempo em que Francisco Sá Carneiro renunciava à direcção do seu partido par considerar tais funções incompatíveis com os deveres de Estado decorrentes do exercício do cargo de Primeiro-Ministro.
Detenhamo-nos em seguida sobre o processo que conduziu à aprovação do projecto de lei do Partido Socialista relativo à liberalização do aborto.
Em matéria de extrema importância para a consciência moral dos cidadãos, o Partido Socialista avança com um projecto próprio e, desprezando por completo a posição do seu parceiro de coligação, fá-lo aprovar por maioria diferente daquela que sustenta o Governo. Tivemos assim em simultâneo duas maiorias: uma do Partido Socialista com o Partido Comunista, que funcionou quando necessário na Assembleia da República; outra do Partido Socialista com o PSD para continuar a manter o Governo. Daí a ausência do Executivo nesta Assembleia aquando da discussão deste projecto de lei. E que tudo se passava com uma maioria diferente da sua, pelo que o Governo teria de se mostrar alheado, reticente, se não mesmo discordante.
Singular situação esta a que a democracia portuguesa penso que ainda não nas habituara. Uma maioria que legisla, outra que governa.

Analisemos agora o processo de lançamento de candidatura à Presidência da República aberto caro mais de um ano e meio de antecedência em relação à data prevista para as eleições.
Num país que atravessa uma das mais graves crises da sua história e que teve eleições há menos de 1 ano, depois de longos meses de interregno político, seria de esperar que todas as atenções e todas as energias estivessem agora mobilizadas no combate aos gravíssimos problemas que afligem a Nação. Quando muito, poder-se-ia admitir que as futuras eleições presidenciais fossem encaradas numa óptica de Estado como uma oportunidade de introduzir as indispensáveis reformas no sistema político e assim unir os Portugueses em torno de um projecto mobilizador eminentemente nacional.
Os partidos do Governo, porém, não encaram esta questão por este prisma.
E assim enquanto o Partido Socialista já tem, desde o último congresso, o seu candidato "pronto-a-vestir" na expressão feliz do Ministro Almeida Santos ...

Risos.

... e que coincide com a figura do actual Primeiro-Ministro, o PSD, seu parceiro de Governo, só comunga de momento numa certeza - a de que não apoiará a candidatura do Dr. Mário Soares à Presidência da República.
Ou seja, também a estratégia presidencial a ano e meio de distância das respectivas eleições divide irremediavelmente os dois parceiros do bloco.
Perspectiva-se assim um quadro institucional deveras anómalo e que teoricamente se traduziria na possibilidade de poderem vir a coexistir em Portugal 3 diferentes maiorias: uma que apoia o Governo; outra que elege o Presidente da República e ainda outra que de quando em vez funciona nesta Assembleia.

Demonstra-se assim que os comportamentos do bloco socialista estão a conduzir Portugal para uma situação politicamente insustentável. E o País sente-o. Daí a instabilidade política que gera no cidadão a desconfiança e a insegurança.
Sr. Presidente, Srs. Deputados: Os Portugueses têm com efeito razões de sobra para se sentirem desconfiados e inseguros. Gerado pela instabilidade política este estado de espírito tende a agravar-se com os resultados globais da acção governativa.
Primeiro foram os impostos retroactivos entre os quais o imposto extraordinário para fazer face a uma despesa pública sempre a aumentar.
Depois a desvalorização do escudo a acentuar-se, o investimento a baixar, a produção a diminuir e a inflação a crescer.
O futuro hoje para muitas empresas quer do sector privado quer do sector público é a falência com o consequente despedimento de milhares de trabalhadores que vão engrossar a extensa legião de desempregados.
Desemprego, salários em atraso, aumento do custo de vida, ausência de esquemas de segurança social e de seguro de desemprego minimamente suficientes. Este é o quadro real que configura uma situação social extremamente preocupante, com tendência a agravar-se num futuro próximo.
O CDS tem a plena consciência que muitos desses sacrifícios eram inevitáveis fosse qual fosse o Governo.