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3626 I SÉRIE-NÚMERO 82

igualdade já não diremos no trabalho exterior à casa (embora também aí as desigualdades, em muitos casos, sejam notórias) mas na vida familiar? A maioria das mulheres trabalhadoras, de qualquer ramo de actividade, faz um horário profissional igual ao do homem, mas aguenta depois sozinha as lides domésticas e a ocupação com os filhos e outros familiares. Esta discriminação foi e continua a ser feita ao nível da educação recebida. Quantos casais não continuam hoje a educar assim os filhos!

Por isso, entre a proclamação dos princípios, e a sua aplicação, a distância é grande. Falta a muitos homens a sensibilidade para interiorizar autênticos comportamentos de igualdade da mulher. Já nem vale a pena falar na situação da mulher exclusivamente dona de casa, cujo trabalho o companheiro nem sempre valoriza como tarefa social de igual estatuto ao do seu trabalho profissional masculino remunerado.

Sr. Presidente, Srs. Deputados: Estamos no século xx e colhemos os benefícios da cultura e civilização ocidental, às quais nós mulheres também demos e damos o nosso contributo.

Neste momento histórico e com estas coordenadas culturais, a reivindicação da mulher é, acima de tudo, a reivindicação da diferença humana relativamente ao homem. A própria ciência não desvendou ainda todas as diferenças que separam os 2 sexos, mas o homem e a mulher podem hoje compreender-se melhor naquilo que os separa por educação e naquilo que os opõe por deformações da própria sociedade.

Mas pergunta-se: o homem e a mulher conhecem-se? Esse grau de conhecimento é suficiente para encontrarem vias de entendimento, de complemento, de solidariedade? Ou, pelo contrário, homem e mulher não passarão de 2 estranhos, sem possibilidade de partilha e comunhão da existência comum? Parafraseando Sócrates, poderíamos dizer: «Homem e mulher, conhecei-vos um ao outro.» E aceitai-vos tal como sois, acrescentaríamos nós.

Sr. Presidente, Srs. Deputados: Não se trata só de conhecer e de reconhecer a diferença.

Vozes do PS: - Muito bem!

A Oradora: - Importa que o homem e a mulher exaltem a diferença, no que ela comporta, da riqueza humana diversa de si própria. Importa que anulem as diferenças criadas pelos preconceitos, pela deseducação, pela opressão de um sexo sobre o outro. A recusa do passado, segue-se a promessa do futuro; à recusa da mulher oprimida, a proposta da verdadeira mulher; à missão limitada do passado, uma nova missão; ao destino mareado desde o berço, a escolha do próprio destino; à relação opressora, a relação da igualdade. Enfim o pleno desenvolvimento da sua personalidade.

Aplausos do PS, do PCP e da ASDI.

Mulher, falando da libertação das mulheres, na comemoração de mais um «Dia Internacional das Mulheres», mas dirigindo-me igualmente a homens e mulheres, termino a minha evocação com as palavras de um dos nossos maiores poetas de sempre, ele próprio incansável na luta pela libertação dos seres humanos Miguel Torga, no Diário XIII, recentemente publicado:

A Mulher! Não me canso de exaltar, o que o homem é a seu lado! Um Adão inocente, um 13dipo perplexo, um Otelo cego. Flor emblemática da Criação, perfumada de fertilidade, só ela sabe pecar sem remorsos, propiciar sem glória, entender sem lógica e sofrer paradigmaticamente, já que foi sempre a Antígona heróica da grande tragédia da vida. Dona do mundo e depositária do futuro, nunca o quis parecer sequer. Gentilmente, deixou essa presença ao companheiro, que depois de tantos milénios de convívio continua a revolucionar os tempos, sem perceber que é Ela, Ela a Mulher, o cordão umbilical da História.

Aplausos do PS.

Ser mulher hoje, Sr. Presidente e Srs. Deputados, é afirmar a supremacia da vida sobre a rotina, é corporizar a esperança em actos que acrescentem à vida o ânimo, a vontade e a coragem de nos assumirmos como bloco criador.

Aplausos do PS, do PSD, da ASDI e de alguns deputados do PCP.

O Sr. Presidente: - Srs. Deputados, deu entrada na Mesa um voto de saudação assinado por Srs. Deputados do PCP, do PS e do PSD e que, por consenso, vai ser lido para, posteriormente, ser votado.

Foi lido. G o seguinte:

Considerando que hoje, 8 de Março, se comemora internacionalmente o dia da Mulher;

Considerando que este dia é, por todo o País, motivo não só de festa mas também de reflexão e consciencialização face aos problemas sociais;

Considerando que as razões da jornada de 8 de Março de 1877 das operárias têxteis de Nova Iorque são ainda hoje pertinentes factores de marginalização e discriminação da mulher;

Considerando justa e necessária a forma actuante e participante da mulher na luta por uma sociedade mais justa, de direitos e deveres igualmente assumidos, os deputados abaixo-assinados do PCP, do PS e do PSD propõem que a Assembleia da República aprove o seguinte voto de saudação:

A Assembleia da República saúde hoje, dia 8 de Março, a mulher portuguesa, tantas e tantas vezes ignorada e esquecida mas cada vez mais consciente da sua inadiável presença, de corpo inteiro, na construção do seu país, onde é tempo de justiça, igualdade e paz.

O Sr. Presidente: - A Sr.ª Deputada Luísa Cachado pede a palavra, para que efeito?

A Sr.ª Luísa Cachado (PCP):- Sr. Presidente, pedi a palavra para proceder à apresentação prévia do voto que acabou de ser lido pela Mesa.