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9 DE MAIO DE 1984 4347

Sr. Presidente, Srs. Deputados: Muitas e importantes foram as obras de produção poética, de teatro histórico, de literatura infantil, de intenção pedagógica, político-social que nos deixou.
Porém, a sua obra mais perdurável desdobra-se desde cedo na investigação histórica e sua interpretação religiosa, científica e ecuménica, sobretudo nos aspectos luso-brasileiros, iniciada com a colaboração dada à História da Colonização Portuguesa do Brasil, à História de Portugal, dirigida por Damião Peres, e, sobretudo, na sua obra de maior relevo, Descobrimentos Portugueses.
Nestes estudos condensou algumas ideias essenciais, debuxou projectos, considerou os descobrimentos portugueses como o «zénite da história nacional, a base do nosso carácter de Nação, o fundamento e a afirmação mais terminante da sua independência».
Em suma, Jaime Cortesão foi um historiador com projecção internacional.
Foi um pensador, foi, acima de tudo, um cultivador de ideias com profundo respeito democrático e com uma verdadeira veneração pelo seu semelhante.
Foi um político na melhor acepção da palavra, já que o interessaram, acima de tudo, a cultura das ideias e sempre, mas sempre, a ideia da cultura.
Sr. Presidente, Srs. Deputados: Tudo isto seria muito para que o Partido Social-Democrata homenageasse este homem.
Porém, ele deixou-nos, acima de tudo, o seu exemplo de fidelidade às origens e, por isso, para que ele esteja sempre vivo na memória de quantos têm o dever de continuar Portugal, queremos deixar bem vincado que o respeito que este vulto nos merece, exige que a sua personalidade e o seu humanismo sejam estudados e aprofundados.
Que este homem, que foi passado, seja também presente, para que Portugal possa continuar a reconhecer-se nos seus ditosos filhos.

Aplausos gerais.

O Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado Frederico de Moura.

O Sr. Frederico de Moura (PS): -Sr. Presidente, Srs. Deputados: Tem a Assembleia da República, durante esta Legislatura, a oportunidade de honrar, não apenas 3 grandes figuras da cultura portuguesa mas, e ao mesmo tempo, 3 grandes paladinos da democracia.
Refiro-me, como é evidente, às personalidades bem significativas de António Sérgio, de Jaime Cortesão e de Raul Proença.
Não somos tão ricos de valores culturais que nos seja lícito deixar, prodigamente, no olvido, nomes com tal envergadura no campo das ideias e, ao mesmo tempo, culturalmente tão expressivos.
Visam as minhas palavras alertar a Câmara para uma efeméride que a nós, como representantes eleitos do povo português, nos compete realçar perante o País e perante o povo que nos elegeu.
Refiro-me, como VV. Ex.ªs já adivinharam, a Jaime Cortesão, cujo centenário do nascimento ocorreu no passado dia 29 do mês de Abril.
Foi realmente nesta data que, na pequena vila de Anca, veio ao Mundo um homem que, pela sua riqueza de dotes intelectuais e pela sua impoluta compleição moral, constitui um motivo de orgulho para todos aqueles cuja escala de valores é capaz de ultrapassar os puros interesses materiais - que nutrem o pragmatismo mais grosseiro- e sabem guardar no escrínio da Pátria os valores intelectuais e éticos dos filhos que souberam, por obras e por atitudes, honrá-la e enobrecê-la.
Formado, como seu pai, em Medicina, logo na tese inaugural mostrou o seu pendor para a vereda literária, apresentando um trabalho académico sobre a «Arte e a Medicina» baseado numa abordagem da patografia anteriana de Sousa Martins e da personalidade de Antero de Quental. E, depois de uma passagem tangencial pelo exercício da clínica, enveredou pelo ensino da Literatura e da História, após concurso de provas públicas para professor do magistério secundário.
É em 1910 que, ao mesmo tempo que publica o seu primeiro livro de poemas - A Morte da Águia -, sofre a primeira prisão, que foi efémera, dado que, um dia depois, era proclamada a República.
Daqui em diante, a sua operosa actividade literária e cultural não sofreu qualquer colapso que abra uma zona lacunar no seu trajecto.
Desde a revista Nova Sylva que publicou, de colaboração com Leonardo Coimbra, surgindo como figura cimeira no Movimento da Renascença Portuguesa, colaborando, intensamente, na revista A Águia, e dirigindo a pouco conhecida revista A Vida Portuguesa, até ao Movimento das Universidades Livres de que foi paladino entusiástico, a sua actividade culminou na Seara Nova quando, já liberto do Movimento «Saudosista», inicia uma nova rota num ambiente mais impregnado de racionalismo. Mas, logo em 1915, toma parte num movimento revolucionário contra a ditadura de Pimenta de Castro incorporado na junta revolucionária do Porto, ao lado de Alexandre Braga, e, neste mesmo ano, é eleito deputado pela capital do Norte para, em 1917, abandonar o parlamento e rumar, como voluntário, para as trincheiras da Flandres, onde, mercê dos seus actos de coragem e abnegação, vem a ser condecorado com a Cruz de Guerra pela sua acção em campanha.
Não cessa, no entanto, a sua actividade literária, onde avulta, entretanto, o seu pendor para a História, manifestado nas suas investidas no teatro com os seus dramas em verso, o «Infante de Sagres» e o «Egas Moniz».
Mas é a partir de 1919, após a sua nomeação para director da Biblioteca Nacional, que começa a delinear-se, com maior nitidez, a nova fase da sua actividade de escritor, enveredando pelos caminhos da historiografia. Junta à sua roda um escol de personalidades notórias, como Raul Proença, António Sérgio, Aquilino Ribeiro, Gualdino Gomes, Faria de Vasconcelos, Raul Brandão, Rodrigues Migueis, etc., que veio a constituir o célebre «Grupo da Biblioteca» e que composto de homens, cada um com a sua especificidade, realizou uma obra de linha solidária em que as diferenças - ciosamente guardadas - concorriam para uma harmoniosa obra comum. Três dos mais notáveis desse grupo - Cortesão, Sérgio e Proença - é esta Câmara chamada a comemorá-los no primeiro centenário dos seus nascimentos.
Mas, certo como estou, de que nem este local nem as finalidades desta intervenção comportam pretensões de análise exaustiva da obra de Cortesão, desejo,