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1500 I SÉRIE - NÚMERO 40

ciente para compor livros! São sobretudo ensaios de interpretação crítica: interpretação dos grandes temas e dos grandes rumos da nossa contemporaneidade, interpretação de filósofos, de poetas, mais raramente de ficcionistas. Mas pôde ainda assim reunir, com o subtítulo "O pensamento e o reino", um significativo número de escritos expositivos de aspecto relevante do seu próprio pensamento doutrinário.
É impressionante a actualização da sua cultura, o conhecimento compreensivo de tantas e tão desencontradas formas de pensar. O que pôs à prova a sua coragem. Em Portugal era na verdade necessária muita coragem para que um jesuíta escrevesse sobre o marxismo com a abertura de espírito com que o fez pelo menos desde os anos 50.
Às páginas da Brotéria destinou a maior parte do que escreveu. Foi a militância intelectual do membro da Companhia de Jesus. Dirigiu a revista a partir de 1965. E como a renovou! Não apenas transformou em coisa viva - que antes pouco era - mas na melhor revista cultural portuguesa do tempo. Também por isso pagou. A censura oficial tornou-se atenta e interveniente e o director optou por ocultar-se sob múltiplos pseudónimos. O seu próprio nome teve de desaparecer do cabeçalho da revista nos 2 últimos anos do regime deposto em 25 de Abril.
Exemplo vivo de tolerância, era também um cidadão independente. Um amigo da liberdade, um democrata convicto. Chegou mesmo a ser, embora em sua casa, interrogado pela PIDE.
Serena e criticamente, viveu a democracia restaurada como cidadão activo e intelectual atento. Repensar Portugal evidencia o rigor e a riqueza do seu pensamento político.
Foi sem sombra de dúvida uma das maiores figuras da cultura portuguesa destas décadas. Um homem que, em qualquer parte do Mundo, teria sido alguém.
Aplausos do PS, do PSD, do CDS e da ASDI.

O Sr. Presidente: - Para uma declaração de voto, tem a palavra o Sr. Deputado José Manuel Mendes.

O Sr. José Manuel Mendes (PCP): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: A figura do padre Manuel Antunes merece todo o respeito à bancada do Partido Comunista Português, por razões que bem se depreendem.
O seu labor, enquanto professor e intelectual, contribuiu, de forma poderosa, para o desenvolvimento da nossa cultura viva, em domínios tão distintos e tão conformes como os da história, da filosofia ou os da literatura.
Nas páginas da revista Brotéria, legou-nos, dispersos, muitos dos seus melhores escritos, justamente aqueles em que, do ângulo da reflexão, pôde abordar alguns dos mais candentes problemas da nossa cultura.
Deixou também, enquanto professor, junto dos seus alunos e daqueles que com ele privaram, a imagem de um espírito aberto, dialogante e fraternizador.
Tanto bastaria - até porque de pouco se não cura - para que honrássemos a sua memória através da votação a que acabámos de proceder.
Bom seria que a este acto, sem dúvida oportuno e justo, se seguissem outros que pudessem projectar para o futuro, no tempo e no espaço, a obra desse pensador que enriquece e honra a nossa cultura.

Vozes do PCP: - Muito bem!

O Sr. Presidente: - Para um declaração de voto, tem a palavra o Sr. Deputado Adriano Moreira.

O Sr. Adriano Moreira (CDS): - Sr. Presidente, Srs. Deputado: Associamo-nos, com a maior emoção, ao voto de pesar que acaba de ser votado pela Câmara, a propósito da perda nacional que constitui o falecimento do padre Manuel Antunes.
Gostaria de dizer que tive a honra de algumas vezes colaborar com ele na Faculdade de Filosofia de Braga, na Brotéria e na introdução em Portugal das primeiras meditações sobre o pensamento de Theillard Chardin. O professor Manuel Antunes não teve apenas aquela actividade esgotante e devotada de professor da Faculdade de Letras de Lisboa, pois já na instituição que hoje se chama Faculdade de Filosofia de Braga - e que, então, era juridicamente considerada uma Faculdade fechada -, desenvolvia uma intensíssima actividade extra-muros.
E foi, certamente, dos ministros da Igreja - católica, apostólica, romana - o primeiro que se inquietou ou que esteve na primeira linha dos que se inquietaram com a situação da Igreja no mundo. E podemos, talvez, dizer que foi um dos primeiros conciliares, antes do Concílio Vaticano II.
O País deve-lhe muito. Ele deixa uma herança que enriquece o nosso património.

Aplausos do CDS.

O Sr. Presidente: - Para uma declaração de voto, tem a palavra o Sr. Deputado Cardoso Ferreira.

O Sr. Cardoso Ferreira (PSD): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: Desejo também, em nome da bancada do Partido Social-Democrata, associar-me ao voto proposto pelo Sr. Deputado Sottomayor Cardia, subscrevendo inteiramente todas as considerações que aqui foram feitas pelas diversas bancadas. 15to porque, seguramente, eu não o faria melhor.

Aplausos do PSD.

O Sr. Presidente: - Para uma declaração de voto, tem a palavra o Sr. Deputado Magalhães Mota.

Sr. Magalhães Mota (ASDI): - Sr. Presidente,

Srs. Deputados: Também nos associamos ao voto de pesar que esta Câmara acaba de formular pela perda

do padre Manuel Antunes.
Pensamos que sem cair no lugar-comum, se trata de facto de uma perda para a cultura portuguesa contemporânea.
Creio que se muita coisa já foi dita nesta Assembleia, importará que se acrescente o testemunho pessoal de quem com o padre Manuel Antunes aprendeu alguma, coisa. O testemunho de quem aprendeu, essencialmente com ele, a ser exigente consigo próprio, a ser exigente com o seu próprio sentido de generosidade e de apegamento, pensando que, tal como uma geração inteira, também deve ao padre Manuel Antunes alguma coisa de um ensino muito próprio que ele teve ao ensinar a amar Portugal.
Penso que essa faceta do ensino do padre Manuel Antunes não poderá ser esquecida nesta Assembleia da República.
Ele, de facto, ensinou a amar Portugal.