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21 DE JANEIRO DE 1987 1325

literário e para realizar um jornalismo intensivo, traduzido no seu excelente Litoral - jornal que dirigiu até ao último sopro de vida.
A par disso, foi, ao longo dos anos, uma espécie de sentinela vigilante do património artístico de Aveiro, sempre atento, quer a monumentos mais significativos, quer aos testemunhos de actividades mais humildes de edifícios e templos; quer ainda a elementos das chamadas artes menores, particularmente da cerâmica, inventariando, com cuidados quase paternais, a barrística aveirense do século XVIII.
Por esta última razão, regeu cursos sobre cerâmica na Universidade de Aveiro e dirigiu, proficientemente, o Museu de Porcelanas e Vidros da Vista Alegre.
Afanoso pesquisador de tudo que dizia respeito à sua terra, reuniu uma riquíssima biblioteca em que as espécies de aveirografia tinham posição electiva, ao mesmo tempo que juntou uma rica colecção de obras de arte e de recordações de eventos e pessoas da sua terra.
Porque não são frequentes os homens que, como David Cristo, se devotam com tal constância e com tal afinco às coisas da terra que os viu nascer, a personalidade que hoje homenageamos transcende os limites fronteiriços, onde, voluntariamente, se confinou, para merecer ser recordada nesta Casa.
E é pena que os limites temporais de que disponho não me permitam debruçar-me sobre o muito mais que havia a dizer do nosso preiteado. Mas ouso pedir permissão para não fechar esta nota impressiva sem lembrar que, de entre as múltiplas actividades culturais a que viveu vinculado, David Cristo ainda arrancou disponibilidades para se ocupar intensivamente do voluntariado dos bombeiros de que era presidente da mesa de congressos, intitulando-se, a si próprio, «bombeiro sem farda» e dando sempre provas de devoção ao semelhante.
Por tudo isto - muito sumariamente referido -, é com toda a sinceridade que apoiamos o voto de pesar que esta Assembleia, justamente, aprovou.

Aplausos gerais.

O Sr. Presidente: - Para uma declaração de voto, tem a palavra o Sr. Deputado Valdemar Alves.

O Sr. Valdemar Alves (PSD): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: Pela sua frequência os votos de pesar apresentados na Assembleia da República poderão correr o risco de se banalizarem. Por outro lado, é sinal que na nossa sociedade existem, felizmente, muitas personalidades que «pelas suas obras se vão da lei da morte libertando», muitos vultos se distinguiram na arte, na cultura, na política, no espírito da solidariedade, no sentimento de bem servir o semelhante. Gastar breves momentos nesta Assembleia da República e prestar-lhes singela homenagem no reconhecimento dos seus méritos só nos pode prestigiar.
Está neste caso a figura ímpar do aveirense que foi David Cristo. A sua acção em prol do aveirismo, no campo da solidariedade social (aqui destacamos o trabalho desenvolvido com o Corpo de Escutas e dos Bombeiros Voluntários), no campo da arte e defesa do património artístico e cultural, na imprensa regional e nacional, etc., mais que justificam o voto de pesar apresentado pelo meu partido, o Partido Social-Democrata.
É uma homenagem demasiado simples esta que prestamos a David Cristo, mas estamos certos de que se coadunaria com a alma simples deste ilustre aveirense.
Simplesmente, pois, aqui fica o nosso reconhecimento ao Dr. David Cristo.

Aplausos do PSD, do PS, do PRD e do CDS.

O Sr. Presidente: - Para uma declaração de voto, tem a palavra o Sr. Deputado Horácio Marçal.

O Sr. Horácio Marçal (CDS): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: O Dr. David Cristo era um advogado distinto, um homem culto e de grandes dotes oratórios.
Grande defensor do voluntariado nos bombeiros, director do Galitos, do Beira-Mar e de outras colectividades desportivas e culturais de Aveiro, jornalista distintíssimo e director do jornal O Litoral, pintor e escultor, o Dr. David Cristo foi o pioneiro do denominado «movimento do aveirismo».
Com a sua morte, no passado dia 15, o distrito de Aveiro e o País ficaram mais pobres.
O CDS associa-se a este voto de pesar, como se associou o povo de Aveiro no passado sábado, dia 17, no acompanhamento à sua última morada.
Prestando aqui, neste Parlamento, uma modesta homenagem ao Dr. David Cristo, não fazemos mais do que cumprir o nosso dever perante um homem que soube ser realmente grande, não só nas artes, como nas letras, como na sua profissão. Daí o nosso voto favorável ao pesar pela morte do Dr. David Cristo.

Aplausos do CDS, do PSD, do PS e do PRD.

O Sr. Presidente: - Para uma declaração de voto, tem a palavra o Sr. Deputado José Manuel Mendes.

O Sr. José Manuel Mendes (PCP): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: Os Aveirenses conheceram e memoram a personalidade rica de David Cristo, que pôde, em vida, dividir-se por actividades muito diversificadas, em todas elas colocando uma energia e um entusiasmo que, publicamente, não deixaram nunca de ser reconhecidos como grandes.
Advogado e, provisoriamente, professor, dedicou-se, desde sempre, a apoiar as iniciativas das colectividades populares no domínio do desporto e na sustentação do trabalho desenvolvido pelos bombeiros da sua terra.
Monografista, dele se conhecem os ensaios em torno da personalidade de Egas Moniz e de Jaime Magalhães Lima.
Litrato e jornalista, dele nos ficam, sobretudo, as peças de cerâmica, as telas, os sonhos que deixou ligados às suas gentes e às suas paisagens, por muito daquilo em que hoje inteiramente o podemos evocar.
Daí que o Grupo Parlamentar do PCP se associe ao voto de pesar apresentado na Câmara, exprimindo que, em circunstâncias deste jaez, não é apenas Aveiro que merece o lucro de um homem, mas o País inteiro e, portanto, a Assembleia da República, que politicamente o representa.

Aplausos gerais.

O Sr. Mendes Bota (PSD): - Sr. Presidente, peço a palavra para interpelar a Mesa.

O Sr. Presidente: - Tem a palavra, Sr. Deputado.

O Sr. Mendes Bota (PSD): - Sr. Presidente, ao abrigo do que está regimentalmente exposto, pediríamos a suspensão dos trabalhos por meia hora.