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1478 I SÉRIE - NÚMERO 42

O Sr. Carlos Carvalhas (PCP): - Pois, e qual é a taxa de inflação para 1989?

O Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado Nuno Delerue.

O Sr. Nano Delerue (PSD): - A Sr.ª Deputada Isabel Espada acusou o Governo de, no que respeita ao índice de inflação do ano passado, não ter actuado conforme poderia para reduzir ou travar a inflação - que era, na altura, diferente da meta inicialmente prevista - e de p ter feito premeditadamente.
Gostaria que V. Ex.ª comentasse uma afirmação que resulta de uma extrapolação que faço ao seu raciocínio e que é esta: na sua opinião, é muito fácil reduzir a inflação a zero, basta reduzir o consumo a zero.

O Sr. Presidente: - Para responder, se assim o desejar, tem a palavra a Sr.ª Deputada Isabel Espada.

A Sr.ª Isabel Espada (PRD): - Sr. Deputado Vieira de Castro, a Câmara, os deputados, o Sr. Presidente, os jornalistas e os funcionários que aqui estão presentes, felizmente, tiveram a «sorte» de, durante a minha intervenção, ter a sua presença no Plenário, porque assim puderam disfrutar da opinião, «perfeitamente esclarecida», de um economista brilhante, como é V. Ex.ª, e, portanto, corrigir as «eventuais lacunas» - e já vou dizer que isso não é verdade - abordadas por uma pessoa não economista mas que se preocupa com estas questões. Aliás devo dizer-lhe que a economia não é nem deve ser só para os economistas...

Vozes do PS: - Muito bem!

A Oradora: - ..., pois é demasiadamente importante para ser só tratada em termos numéricos e econométricos. Penso que esta matéria tem um aspecto social e é esse que trago aqui. Nesse sentido, devo dizer que a Câmara beneficiou da sua presença.
De qualquer modo, tive oportunidade de referir na minha intervenção uma série de acções globais por parte do Governo relativamente ao produto interno bruto, ao desemprego, etc.
Mas nós estamos a falar de inflação e a atitude que o Governo tem tomado em relação a esta matéria tem sido uma brincadeira do princípio ao fim: o Governo tem feito chacota das suas próprias afirmações, que produz e que depois desmente; o Governo tem brincado com esta questão, que é extremamente importante, como sabe!
Ora, Sr. Deputado, o sentido da minha intervenção foi o de responder da mesma forma, mas como o Sr. Deputado não o entendeu vou explicar-lho: foi o de tentar falar de inflação com riso, porque o Governo nesta matéria apenas nos provoca riso e absolutamente mais nada! Temos que rir com as atitudes que o Governo tem tomado em relação a esta matéria! O Governo tem brincado com os portugueses que o elegeram e nós temos de brincar e rir com esta matéria, não podemos fazer mais nada!
Sr. Deputado Nuno Delerue, sinceramente não compreendi a sua pergunta, portanto dou-lhe licença para me interromper e colocar-me de novo a questão.

O Sr. Nuno Delerue (PSD): - Sr.ª Deputada, apenas fiz um comentário do mesmo tom usado por V. Ex.ª
A Sr.ª Deputada acusou o Governo de não ter actuado na altura em que tinha mecanismos para o fazer e deu alguns exemplos que vinham referenciados na entrevista que o Sr. Primeiro-Ministro concedeu ao «Diário de Notícias».
Sr.ª Deputada, por redução ao absurdo e se fizermos uma extrapolação das suas afirmações, é muito fácil termos uma inflação de 0%. Porém, o problema que se coloca e que tem de ser discutido com alguma seriedade é o seguinte: a Sr.ª Deputada não pode querer atingir um nível de inflação a qualquer preço. Portanto, alguns dos aspectos dá sua intervenção - e peco desculpa do que vou dizer - foram perfeita e inequivocamente demagógicos.

A Oradora: - Sr. Deputado, o Governo perante esta questão tem vindo sistematicamente a alterar o seu pensamento e, portanto, perante esta atitude a única coisa que posso dizer-lhe é que o Governo não tem qualquer política relativamente a esta matéria. Fixa metas de inflação e, depois, a meio do ano, quando vê que a sua política falha, vem justificar-se dizendo que é assim mesmo, porque de outra forma teria de prejudicar a vida dos portugueses.
Ora, Sr. Deputado, isto é perfeitamente ridículo e não tem discussão!
O Sr. Deputado sabe que o Governo se enganou em relação a esta matéria mas como não quer assumir os erros que cometeu vem justificar a não redução da inflação como forma de os portugueses manterem o seu poder de compra. O Sr. Deputado sabe quão ridícula é esta afirmação...!

Vozes do PS: - Muito bem!

O Sr. Presidente: - Sr. Deputado, vamos passar à votação de um voto de protesto subscrito por deputados do PSD.
Este voto já foi distribuído e, portanto, penso que os Srs. Deputados dispensarão a sua leitura.
Tem a palavra o Sr. Deputado Armando Vara.

O Sr. Armando Vara (PS): - Sr. Presidente, penso que é melhor proceder à leitura deste voto, uma vez que ele só foi distribuído às direcções de bancada.

O Sr. Presidente: - Assim sendo, o Sr. Secretário vai proceder à sua leitura.

Foi lido. É o seguinte:

Voto do Protesto

Na última quinzena o mundo civilizado ficou consternado com a notícia da «sentença de morte» pronunciada pelo Aiatola Khomeini contra o escritor Salman Rushdie por ter escrito «Os Versos Satânicos», romance que ofendeu os fundamentalistas islâmicos. Ainda mais consternados ficámos quando soubemos que, cedendo às ameaças, alguns livreiros britânicos tinham retirado o livro do mercado e que o Canadá proibira a importação da «obra maldita».
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