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11 DE JUNHO DE 1992 2413

o buscavam domar, mais ele se revelava em todas as suas facetas. E, em Lisboa, sairia o Diário Liberal, dirigido por ele, por Hernâni Cidade e por Mário de Azevedo Gomes; o jornalismo lambem pode ser uma cátedra. E foi-o, irradiando dessa travessa do Bairro Alto, onde, quase um século antes, morrera o fundador do Partido Socialista, Henriques Nogueira.
Mas se o ensino tem de ser controlado para toda a espécie de ditadura, muito mais o tem de ser toda a informação, o ensino e a formação públicas das massas que é a imprensa. E o Diário Liberal era de tal forma anavalhado, todos os dias, pela censura que não resistiu aos maus tratos, bem se podendo dizer que foi justiçado em auto-de-fé diário, desaparecendo como tantos outros jornais e revistas.
Joaquim de Carvalho foi um mestre, não só daqueles que lhe escutaram as lições, dos que com ele conviveram, o consultaram e lhe acompanharam os passos, mas é, sobretudo, um mestre que continua vivo na sua obra, que continua a ser essencial para o estudo da cultura portuguesa, particularmente naquela viragem de rumo que foram a segunda metade do século xv e todo o século xvi, até se firmar entre nós a inquisição.
É a grande escola da vida, o jornalismo! A formadora de homens que sejam cidadãos de corpo inteiro! E se quisermos um modelo de alunos dessa escola que foram verdadeiros mestres, têmo-lo em Joaquim de Carvalho!

Aplausos gerais.

O Sr. Presidente: - Para uma intervenção sobre o mesmo tema, tem a palavra o Sr. Deputado Costa Andrade.

O Sr. Costa Andrade (PSD): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: Também nós nos associamos, com empenhada autenticidade, à evocação da memória de Joaquim de Carvalho. Fazemo-lo, naturalmente, em nome do Grupo Parlamentar do Partido Social-Democrata, mas fazemo-lo, especialmente, em nome dos Deputados de Coimbra, certo como é que, se a trajectória cultural de Joaquim de Carvalho se viria a inscrever, como ele gastava de dizer, numa trajectória que comunicava com os astros, a sua trajectória terrena se esgotou, praticamente, entre a serra da Doa Viagem e a velha e mais antiga universidade de Portugal, a Universidade de Coimbra. Foi, com eleito, em 1892 que Joaquim de Carvalho nasceu na Figueira da Foz, morrendo, ao cabo de dolorosa e prolongada doença, em Coimbra.
Nisto é possível, na escassez do tempo, privilegiar alguns dos tópicos mais salientes da sua obra, do seu exemplo ou da sua vida, até porque não é fácil distinguir o que mais admirar: se a inabarcável amplitude dos temas da sua investigação e estudo - Joaquim de Carvalho notabilizou--se em Geografia, em Etnografia, em Direito é em História da Cultura e bastará dizer que, tendo começado por se licenciar em Direito, viria a entrar na Academia de Ciências de Lisboa pela classe de Ciências -, se a profundidade e a probidade da sua investigação; se a firmeza dos seus ideais democráticos e republicanos, que lhe mereceram a hostilidade mal disfarçada do antigo regime, de que é prova sintomática o encerramento da Imprensa da Universidade de Coimbra, dirigida, emito, por este professor; se o calor da sua humanidade e a ascese da sua tolerância e a capacidade para ouvir e para dialogar; ou, por último, se a portugalidade da sua cultura e das suas preocupações, certo como é que um dos temas mais recorrentes da sua investigação foi o problema de saber se há ou não uma filosofia portuguesa.
Pressionado pelo tempo, nada talvez mais adequado para sintetizar a sua postura intelectual e de cidadão do que sua afirmação de que "filosofar, investigar, falar, comunicar era fazê-lo sem mistificação nem vassalagem, sem vozes de milícia nem engodos de suborno".
Ao evocarmos a sua memória e a sua obra, quase inabarcável, repito, que conta com quase uma centena de títulos, possa esta evocação, possa o eco que aqui nos fazemos da sua vida, frutificar como exemplo para todos nós. Se tal ocorrer, este ritual terá valido a pena.

Aplausos gerais.

O Sr. Presidente: - Para uma intervenção sobre o mesmo lema, tem a palavra o Sr. Deputado Miguel Urbano Rodrigues.

O Sr. Miguel Urbano Rodrigues (PCP): - Sr. Presidente, Srs. Deputados, apenas umas breves palavras para exprimir a satisfação com que o Grupo Parlamentar do PCP se associa a esta homenagem.
Há homenagens que são de circunstância, mas não é certamente o caso desta. Joaquim de Carvalho foi um historiador da cultura, naquela acepção da cultura profunda de que nos falam Lucien Lefébre e Ferdinand Braudel, que nada tem a ver com a cultura factual, com a cultura espumejante, que é uma caricatura da cultura. Investigador, professor, escritor, pensador, mas sobretudo, como disse, um historiador da cultura, Joaquim de Carvalho foi um mestre, e sublinho a palavra, um mestre de sucessivas gerações, às quais transmitiu o espírito daquilo que ao longo dos séculos houve de importante e continua a ser importante em Coimbra.
Como se tudo isso não bastasse, esse grande espírito foi um democrata que amou a liberdade e por ela soube combater. É, portanto, natural que o PCP, que está sempre na primeira linha de batalha pela defesa e pelo aprofundamento da cultura, se associe com o maior prazer a este voto.

Aplausos gerais.

O Sr. Presidente: - Para uma intervenção sobre o mesmo tema, tem a palavra o Sr. Deputado Adriano Moreira.

O Sr. Adriano Moreira (CDS): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: O centenário do nascimento do Prof. Joaquim de Carvalho, acontece numa data em que o essencial da sua vasta obra representa um apoio de valor inestimável para a redefinição da função do País na estrutura da Comunidade Europeia que está em curso. Das suas numerosíssimas publicações parece de salientar, nesta conjuntura, a valia dos quatro volumes que intitulou Estudos sobre a Cultura Portuguesa, publicadas entre 1947 e 1955, numa data em que poucos teriam, ao menos, o pressentimento do processo europeu e do envolvimento de Portugal nesse processo. Quando as questões da identidade ganharam a vivíssima actualidade com a qual nos defrontamos, nos últimos tempos, a obra de Joaquim de Carvalho mostra e demonstra que nenhum poder político deve ser ousado a ponto de pretender intervir soberanamente na definição do conceito estratégico nacional. O apelo e a contribuição dados no sentido de fazer crescer um pensamento nacional com raízes nativas,

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