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96 I SÉRIE-NÚMERO 4

com o mais elevado aproveitamento, a Faculdade de Estudos Sociais e de Direito, mas foi na Universidade de Coimbra que, em 1919, fez o exame de Estado da parte complementar de Ciências Jurídicas, com a classificação de «Muito Bom».
Ainda como estudante, elaborou e publicou trabalhos como «Lições de Direito Internacional Público» e «Lições de Economia Social», revelando preocupações e fascínio pelas tarefas da pesquisa científica quando, aos 18 anos de idade, se dedicou à realização de um inquérito sobre as possibilidades do desenvolvimento da indústria em Portugal, tarefa que ainda hoje jé polémica e permanece em aberto no País, apesar da contribuição ter sido dada através do estudo publicado em 1915.
Logo após a conclusão do curso de Direito, iniciou, em Lisboa, a carreira de advogado, tendo sido consultor jurídico de algumas das mais importantes empresas nacionais e estrangeiras e publicado variados trabalhos forenses de doutrina e crítica. Foi administrador de sociedades como o Banco Nacional Ultramarino e a SACOR e presidente da Assembleia Geral do Banco de Portugal.
A par do reconhecido prestígio atingido no domínio profissional, Azeredo Perdigão empenhou-se e desenvolveu acções de intervenção nos domínios académico e literário, tendo sido fundador da revista Seara Nova, com Raúl Brandão, Aquilino Ribeiro e Raúl Proença, entre outros fazendo parte do corpo directivo da revista entre 1921 e 1923, na qual publicou diversos estudos e comentários sobre problemas económicos e financeiros.
Leccionou sobre assuntos jurídicos na Faculdade de Direito da Universidade Central do Rio de Janeiro, na Faculdade de Direito da Baía e na Faculdade de Direito de Coimbra.

A riqueza que transparece destas referências à vida pública de Azeredo Perdigão, essencialmente como advogado e jurista, mas igualmente relevante no domínio da intervenção cultural, corresponde ao que optámos por classificar por primeira etapa da sua vida e que culmina com a distinção que lhe é prestada, em 1962, pela Faculdade de Direito de Coimbra ao atribuir-lhe um dos mais altos valores do Direito em Portugal: o grau de Doutor Honoris Causa.
Mas os verdadeiros reflexos do prestígio alcançado e atribuído a uma vida activa intensa e apaixonante, de mais de 40 anos de jurista e de advogado, não eram ainda descortináveis nesta altura. Foi a partir de 1956, com a ascensão à presidência do Conselho de Administração da Fundação Calouste Gulbenkian, transformada no único pólo da sua vida pública, que a obra do Dr. Azeredo Perdigão se projectou na sociedade portuguesa com uma dimensão e intensidade que justificam a sentida homenagem que hoje tem lugar destacado na Assembleia da República.
Beneficiando do prestígio alcançado e servindo-se dos conhecimentos e da experiência adquiridos, projectou sobre a sua presidência da Fundação Calouste Gulbenkian uma enorme sensibilidade humanista, que transparece numa obra ímpar, a qual, podemos dizê-lo, transformou a sociedade portuguesa e projectou, indelevelmente, a História e a Cultura de Portugal rio mundo.
Dando cumprimento à vontade de Calouste Sarkis Gulbenkian, que esteve na origem da criação da Fundação em Portugal, a qual tinha por primeiro objectivo encontrar um espaço que concentrasse todo o seu património de coleccionador de obras de arte dispersas pelo mundo, projectou e construiu o que hoje podemos chamar de Complexo Cultural - Parque Calouste Gulbenkian - que, estando situado no centro da cidade de Lisboa, foi implementado de modo a criar um ambiente paisagístico agradável e sóbrio, formando um conjunto harmonioso entre edifícios e espaço envolvente, em nossa opinião contrastando com outros projectos com pretensões idênticas mais recentes, e que têm gerado acesa polémica.
O Museu, a Biblioteca-Geral, o Grande Auditório e a mais recente construção no Parque - o Centro de Arte Moderna - articulam-se por forma a aproveitar espaços variados e amplos de animação cultural.
Ao deixar-nos, neste ano de 1993, o Presidente da Fundação Calouste Gulbenkian legou-nos uma obra incalculável a partir de alguns meios, mas, sobretudo, de uma capacidade criativa e inovadora que importa prosseguir com o mesmo empenhamento e dedicação. Este é o repto que temos de lançar àqueles que assumem a responsabilidade de prosseguir uma obra iniciada e já amadurecida, embora tenhamos provas de que já o estão fazendo.
Colocar uma instituição como a Fundação Calouste Gulbenkian ao serviço da cultura, da criação artística, da educação, da formação e da investigação científicas num país onde, ainda hoje, as estatísticas registam mais de 12 % de analfabetos e onde existe uma Lei do Património Cultural por regulamentar há 10 anos; quando sabemos que as distribuições da Fundação, no quinquénio de 1987 a 1991, atingiram o valor de 40 milhões de contos e que só em 1991 mais de 10 milhões de contos foram distribuídos segundo os seguintes fins que prossegue a Fundação: sociais - 9 %; artísticos-50 %; educativos - 30 %; científicos - 11%, cabe-nos perguntar: se não fossem o saber e a arte de Azeredo Perdigão, que País e que sociedade seria hoje a Portuguesa?
Registe-se ainda que Portugal, neste mesmo ano de 1991, beneficiou de perto de 84 % do total das distribuições da Fundação.
Ao homem e ao Presidente, Dr. Azeredo Perdigão, que foi o corpo e a alma da Fundação Calouste Gulbenkian, que tão elevados serviços tem prestado a Portugal, neste dia de homenagem, o nosso muito obrigado!

(O Orador reviu). Aplausos gerais.

O Sr. Presidente: - Para uma intervenção; tem a palavra o representante do Grupo Parlamentar do Partido do Centro Democrático Social - Partido Popular, Sr. Deputado Adriano Moreira.

O Sr. Adriano Moreira (CDS-PP): - Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Srs. Deputados: A primeira nota importante que nos parece dever ser evidenciada, ao meditar sobre as duas lições de vida de Azeredo Perdigão, é a da capacidade de intervenção e liderança da comunidade sem ter o poder político, sem aliança com o poder político, sem compromisso com o poder político.
Pertenceu a uma das linhagens de varões ilustres que se perpetua em separado daquela que mais ocupa os historiadores do Estado e dos seus feitos e que, em permanência, inquieta os donos da soberania pela simples razão de que os dispensa com inquebrantável dignidade.
Nunca são muitos no mundo, e foram raros entre os portugueses, os que puderam exercer esta liberdade que encontra uma das suas melhores expressões no tipo normativo de advogado de um tempo não desaparecido e que teve a sua referência matricial no defensor de Luís XVI: levar à Convenção a verdade numa das mãos, e a cabeça