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678 I SÉRIE-NÚMERO 20

mais destacados protagonistas e, assim mesmo, um dos que melhor contribuíram para enaltecer e prestigiar o significado e a acção deste órgão de soberania na sociedade portuguesa. Créditos que o Parlamento nacional grangeou junto da opinião pública portuguesa e que, nos últimos anos, por acção e, ou, omissa tem vindo a perder, infelizmente para a vida e para o sistema democrático em Portugal.
Além de Deputado pelo Partido Socialista, de que foi fundador e militante até 1985, data em que se candidatou às eleições para a Presidência da República, que lhe valeram o confronto com o que tinha sido, até então, provavelmente o seu melhor companheiro e amigo, Salgado Zenha foi, em toda a sua vida, um lutador indomável pela liberdade e pela democracia. De 1944 a 1974, foi preso cinco vezes por afrontar ou não se subjugar ao regime de ditadura. Também durante esse período, foi eleito para a presidência da Associação Académica de Coimbra, de que foi demitido por razões políticas, fundou o MUD Juvenil, participou nas campanhas de Norton de Matos e de Humberto Delgado e foi candidato pela CEUD. Entre 1974 e 1985, quando, na primeira volta das presidenciais, enfrentou o Dr. Mário Soares e, na segunda, apelou ao voto nele contra o General Soares Carneiro, o Dr. Salgado Zenha foi Ministro da Justiça no I Goveno e das Finanças no VI Governo provisórios, Deputado à Assembleia Constituinte e Presidente do Grupo Parlamentar do Partido Socialista.
Quando, no dia 1 de Novembro do corrente ano de 1993, Francisco Salgado Zenha nos deixou, de todos os quadrantes da vida pública nacional surgiram, ao mesmo tempo, palavras e sentimentos de pesar e de enaltecimento à sua figura de homem e de cidadão.
Do que foi dito e escrito então, e que valeria a pena completar para poder ter mais ampla divulgação, facilmente se conclui que Salgado Zenha, ao longo de grande parte dos 70 anos que viveu, dedicou à causa pública o melhor do seu saber, a par dê uma vida de luta, seja enquanto dirigente estudantil e oposicionista à ditadura, como preso político e defensor de presos políticos, seja como Advogado, Deputado ou Ministro. Foi, efectivamente, uma figura destacada entre os mais grados activistas da luta pela liberdade, pela dignidade humana e pela implantação do regime democrático em Portugal, antes e depois do 25 de Abril de 1974.
Sr. Presidente, Srs. Convidados, Sr.ªs e Srs. Deputados: Para homenagear a memória de um homem a quem se reconhecem sentimentos e ideias indissociáveis de uma grande preocupação ética e uma vida de lutador incansável, não encontrei melhores palavras do que lavrar hoje e aqui, na Assembleia da República, um extracto das que ele próprio pronunciou na passagem do seu septuagésimo aniversário, a propósito de valores como a amizade, a tolerância e a solidariedade. E cito:«(...) Não basta que preguemos a amizade, é necessário também merecê-la de parte a parte.
Não basta que homenageiem a liberdade, é necessário também respeitarmos os outros nas suas convicções morais e culturais - é isso a tolerância.
Não basta discursarmos sobre a solidariedade, é necessário que a sintamos como i exigência máxima de humanidade. Solidariedade para cem o nosso próximo e, mais do que isso, para com todos es povos do mundo.
Tive a sorte de ser português, mas isso não impede que, ao lado do orgulho pelo nosso passado, reconheçamos nem sempre termos seguido os melhores caminhos.
E preciso construirmos uma sociedade mais justa, sem fome, sem miséria, sem medo e sem ignorância. Mas nenhuma sociedade pode assegurar só por si a felicidade de cada um: o amor, a realização individual e o encontro consigo próprio apenas se poderão alcançar com buscas que teremos de empreender por nós próprios. E combatamos esse mesquinho pecado da inveja. Congratulemo-nos com o sucesso de todos aqueles que, de mãos limpas, ascenderam às metas que desejavam no plano da cultura ou da riqueza.
Nem sempre seguimos os melhores caminhos. Que os sigamos agora, são os meus votos. A receita é simples e, ao mesmo tempo, difícil. Que sejamos bons e que sejamos, ou tentemos ser, os melhores.
Sei que o caminho é árduo. Mas não há qualquer missão que valha a pena cumprir se não tiver dificuldades.
E sejamos modestos. A modéstia é a melhor forma da vaidade. Gostaria que todos tivéssemos a vaidade de ser modestos».
Obrigado a Francisco Salgado Zenha.
À sua família, as nossas mais profundas condolências.

Aplausos gerais.

O Sr. Presidente: - Para uma intervenção, tem a palavra o representante do Grupo Parlamentar do Partido do Centro Democrático Social - Partido Popular, Sr. Deputado Narana Coissoró.

O Sr. Narana Coissoró (CDS-PP): - Sr. Presidente, Srs. Deputados, Srs. Convidados: A homenagem que a Assembleia da República presta, hoje, ao Dr. Francisco Salgado Zenha dignifica esta Câmara e constitui, ao mesmo tempo, o cumprimento de um dever, o de exaltar uma personalidade de excepção da nossa política contemporânea.
Zenha entrou nesta Sala, quando, depois de um longo interregno imposto pelo Estado Novo, foi franqueada aos democratas - e combatentes da liberdade e, durante cerca de sete anos em que aqui se manteve, deu-nos a nós todos, que o acompanhámos dia-a-dia, o exemplo de um cidadão íntegro e impoluto, o parlamentar brilhante, o líder respeitado do partido apoiante do governo, depois da oposição, o amigo generoso dos seus pares, um exemplo de servidor indomável das causas da liberdade e dos direitos fundamentais do Homem.
Para servir a democracia e o ideário que o animava, abandonou o seu escritório de advogado de grande movimento, dedicando-se exclusivamente ao labor político-parlamentar e intervindo em todos os importantes debates, num tempo em que se lançavam os grandes alicerces do nosso actual regime. Figura de topo do Partido Socialista, definiu com mestria e, quase diria, com presciência, as estratégias, primeiro, para a afirmação do seu partido como porta-voz e símbolo das liberdades cívicas e democráticas durante a «deriva gonçalvista», lutando contra as chamadas tentações totalitárias e, depois, para construir o Estado de direito pluralista e social, em que hoje vivemos.
Democrata de raiz, Zenha nasceu para ser líder. Natural de Braga, licenciou-se em Direito pela Universidade de Coimbra com a alta classificação de 17 valores e poderia ter aceite o convite do Professor Manuel de Andrade para ali exercer uma carreira docente que, naturalmente, seria prestigiante para a Faculdade e beneficiaria a ciência do Direito. Apenas uma condição lhe era imposta: refrear os seus ataques à ditadura, que ele iniciara, quando, no seu quarto ano do curso, foi eleito, pela primeira vez, em circunstâncias excepcionais, Presidente da Associação Académica de Coimbra, a maior academia do País.
Numa entrevista dada ao jornalista Artur Portela (pai) no Diário de Lisboa, em 3 de Novembro de 1945, o jovem Francisco Zenha foi apresentado ao País nestes termos: «Simples, frio, delicado. Em vez de capa, um guarda-chuva; em vez de metáforas, um pensamento denso e