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6 DE JANEIRO DE 1995 1041

ta no aumento da criminalidade, entre 1990 e 1993, em 42%. Só no primeiro semestre de 1994, o crime de roubo aumentou 56,5%, relativamente a período homólogo do ano anterior.
Dez anos é um período muito longo. Os jovens que, este ano, vão votar pela primeira vez tinham oito anos quando Cavaco Silva chegou a Primeiro-Ministro. Trata-se de um período muito longo, que não consente nem manobras de virtuais, nem ilusões de conjuntura.
O resultado de dez anos de Governo do PSD, presidido por Cavaco Silva, é estarmos mais dependentes, menos preparados, mais desempregados e menos seguros.
Mas o sentimento de insegurança e incerteza do País resulta também do impasse a que o Primeiro-Ministro e o PSD conduziram a capacidade de regeneração do sistema político, no qual os portugueses vêm perdendo confiança, em resultado do pântano em que estes dez anos de hegemonia, impunidade e clientelismo do Estado «laranja» atolaram o País e que o Primeiro-Ministro e o PSD persistem em favorecer, proteger e encobrir.
Sr. Presidente, Sr.ªs e Srs. Deputados: O Sr. Deputado Pacheco Pereira terá de repetir muitas vezes o discurso que aqui fez. É que entrámos num novo ano e afirma-se gritante a urgência de romper os impasses e devolver certeza, segurança e confiança às portuguesas e aos portugueses. E é nestes momentos decisivos, de grandes opções, de mudanças estruturais, que se vê o carácter e a estatura dos homens de Estado.
Quanto ao Primeiro-Ministro, estamos entendidos: pode ser um timoneiro, mas não passará de um timoneiro de água doce.
Se o Primeiro-Ministro está farto do PSD e quer mesmo ir embora, que vá! Compreendemo-lo, aliás, muito bem, pois também nós estamos fartos do PSD, e connosco a maioria dos portugueses. A diferença, a grande diferença, é que estamos fartos do PSD, mas também estamos fartos do Primeiro-Ministro, cabeça deste gigantesco polvo clientelar em que o PSD se tornou.

Vozes do PS: - Muito bem!

O Orador: - Se o Primeiro-Ministro tem medo de enfrentar as tormentas que criou e quer mesmo ir embora, que vá, mas vá depressa, porque Portugal não pode perder mais tempo! Não seria, aliás, novidade, pois já o fez em 1980.
Se o Primeiro-Ministro sabe que vai perder e quer mesmo ir embora, à espera de regressar numa manhã de nevoeiro, que vá e que o sol brilhe para todos nós!

Aplausos do PS.

Se o Primeiro-Ministro quer mesmo ir embora agora, para voltar já nas eleições presidenciais, que vá! O Primeiro-Ministro tem o direito de escolher onde pretende ser derrotado, se nas legislativas, se nas presidenciais.
Se o Primeiro-Ministro quer mesmo ir embora, mas está preso às pressões da clientela que criou, não se preocupe, não perde pela demora, até Outubro há-de ir, com certeza, e é o povo que o põe na rua.

Aplausos do PS.

Mas, se tudo isto é uma jogada, como cada dia parece mais evidente, então, trata-se de uma monumental farsa, desde logo indigna de um Primeiro-Ministro de Portugal e que, além do mais, redundou em monumental fracasso. Se o Primeiro-Ministro pretendia que o País se levantasse, em sentida e comovente vaga de fundo, bom, efectivamente, nos últimos dias, temos visto diversas manifestações de rua, na Marinha Grande, no Pejão e em Setúbal, por parte dos taxistas, só que em nenhuma dessas manifestações se pediu que Cavaco Silva ficasse. Pediu-se, isso sim, emprego, pagamento de salários e segurança, que se perderam com o Primeiro-Ministro, o seu Governo e o PSD.

Vozes do PS: - Muito bem!

O Orador: - Com excepção de dois jantares, em que 4000 comensais do «Estado laranja» surgiram como figurantes atentos, obrigados e venerandos, mais ninguém, em Portugal, clamou pela sua permanência. Se isto lhe basta, então, já está por tudo e essa é a maior confissão de fraqueza.
Se, pelo contrário, o Primeiro-Ministro precisava deste psicodrama para tentar pôr mão no PSD, para ter força e proceder à varridela interna, como alguns barões aparecem, agora, diariamente, a sugerir, em pungente pânico, para ver se de entre mortos e feridos se vão safando, então, que dramática confissão de fraqueza! Se precisa de pôr em causa a estabilidade do País para dar um abanão aos Drs. Menezes, Arlindos e Isaltinos que povoam o PSD, então, a cabeça do polvo já está a ser asfixiada pelos seus próprios tentáculos.
De qualquer modo, a terapia é excessiva para o País, mas será sempre insuficiente para o PSD. É que um partido que chegou ao ponto de, numa disputa distrital, envolvendo membros do seu Governo, do seu grupo parlamentar e uma plêiade de titulares de cargos públicos nomeados pelo Governo, acabar na indiciação pela prática do crime de terrorismo, já lá não vai com uma varridela, do que este partido precisa é de uma muito longa e regeneradora cura de oposição.

O Sr. Rui Carp (PSD). - E em Braga, o PS?!

O Orador: - Sr. Presidente, Sr.ªs e Srs Deputados: Em qualquer destes cenários, dizemos muito claramente que estamos preparados para nos opormos, se nos mantivermos em funções, e para o derrotar, se se candidatar nas eleições legislativas ou nas eleições presidenciais.
Agora, é preciso acabar com a brincadeira, pois os tempos são senos, muito sérios, e o País não se pode dar ao luxo de se distrair com crises artificiais, quando vive uma crise bem real que tem de ser atacada e vencida.
Os órgãos constitucionais de quem o Governo depende não podem consentir que a instabilidade criada pelo Primeiro-Ministro se arraste. É que não se trata de uma questão pessoal do Professor Cavaco Silva, nem de uma questão interna do PSD. É-nos indiferente o destino pessoal do cidadão Cavaco Silva, mas não nos é indiferente, não nos pode ser indiferente, o Primeiro-Ministro de Portugal.
Para o País, os custos económicos desta crise artificial são imensos. Aliás, o próprio Dr. João Salgueiro já os considerou mesmo irreparáveis.

O Sr. Rui Carp (PSD): - Grande exemplo!

O Orador: - O descrédito para as instituições é manifesto, quando já chegámos ao ponto de até o Dr. Alberto João Jardim estar em condições de poder dar lições de racionalidade política ao Primeiro-Ministro de Portugal. Onde já chegámos!

O Sr. Rui Carp (PSD): - Já chegaram à Madeira!

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