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8 DE JUNHO DE 1995 2707

O «toque de trombetas» do PSD, para glorificar- as vitórias da cooperação, é um acto farisaico, insere-se numa encenação eleiçoeira!
No âmbito dessa campanha, o ex-Ministro Fernando Nogueira, hoje presidente do partido no poder, realizou recentemente uma tournée africana e, segundo foi noticiado, tem agendadas visitas ao Brasil e aos EUA, sobretudo para tomar contacto com as comunidades portuguesas.
A emigração, tão maltratada e esquecida, é metida, assim, à força, na «panela dos cozinhados» da propaganda da política de cooperação.
Lembra o dirigente do PSD, Dr. Fernando Nogueira, que os interesses estratégicos de Portugal não se esgotam na Europa. É verdade! Mas, a partir da enunciação desse turismo, Fernando Nogueira gosta de se embrenhar num discurso nebuloso, demagógico e pouco sensato. Em vez de ensaiar uma resposta às questões urgentes,! colocadas tanto pelas comunidades como pela problemática da cooperação, o Presidente do PSD salta para o século XXI e discorre sobre o papel que Portugal poderá assinar no próximo milénio, esboça objectivos ambiciosos de um povo que ele diz vocacionado para se afirmar como «(...) força colectiva numa era (...)» - cito de uma entrevista à LUSA - «(...) em que as relações económicas e políticas assumem um carácter cada vez mais competitivo e planetário, sem fronteira». Enfim, os ecos caseiros da linguagem de Maastricht, vazada no discurso épico, com o tempero incurável da mania das grandezas, herdada do antigamente.
Sr. Presidente, Srs. Deputados: O agendamento deste debate a pedido do PSD não teve por objectivo - repito»- é - uma discussão séria sobre a política de cooperação. Foi mais uma pirueta pré-eleitoral, mas dificilmente poderia ter sido mais desastrada a escolha do tema. A política de cooperação do Governo PSD é uma calamidade em todas as frentes.

Aplausos do PCP.

O Sr. Presidente: - Para pedir esclarecimentos,, tem a palavra o Sr. Deputado Rui Gomes da Silva.

O Sr. Rui Gomes da Silva (PSD): - Sr. Presidente, Sr. Deputado Miguel Urbano Rodrigues, com todo o respeito, diria que, quando o ouvi, estava a reler a sua intervenção de há quatro anos, onde o Sr. Deputado lambem dizia a mesma coisa, ou seja, que eram coisas conjunturais, que a história não se reescrevia, que isto era lamentável... Sr. Deputado, passados quatro anos... Também na altura dizia que o PSD iria perder as novas eleições e que nada disto se passaria a partir de 1991...

Risos do PSD.

É tudo a mesma coisa!
Dizia também, por exemplo, que «(...) virá outra vez uma política de cooperação que fará recordar Abril e teremos novamente história feita (...)» e, mais, que a história não se reescreve. Aliás, chega a dizer que Cuíto-Cuana-vale ficará na história como o acontecimento da viagem, comparável à batalha de Ain Jalout, fazendo, portanto, uma comparação entre as invasões mongóis e as guerras de Angola.
Mas há aqui uma coisa que é importante dizer. Compreendo que esta seja a preocupação do PCP, a visão do PCP, que não goste de ouvir dizer, nomeadamente aos governos dos países africanos de língua oficial portuguesa, que os períodos em que o PSD tem estado no Governo « quer com Francisco Sá Carneiro quer com Aníbal Cavaco Silva - têm sido os melhores no que diz respeito ao relacionamento com estes mesmos países, posição que, como devem imaginar, muitas vezes embaraça a própria política externa portuguesa, pois são pessoas que, ideologicamente, nada têm a ver connosco mas mais a ver com vocês.
No entanto, quando vocês ou outros partidos próximos estiveram no Governo não conseguiram estabelecer as bases de cooperação que, de um momento para o outro, se vêem, porque a cooperação é feita com bases sérias, com objectivos determinados, que nada têm a ver com questões ideológicas, programáticas mas, sim, unicamente com pragmatismo, primeiro, e relações de Estado a Estado.
Sr. Deputado, é isto que ao PCP custa muito ouvir! E, invariavelmente, cada vez que temos debates sobre a cooperação nesta Câmara, o PCP vem lamentar-se, dizendo que a cooperação está no maior caos possível e imaginário, que nada se fez... Mas, Sr. Deputado, é preciso convencer-se de uma coisa- aliás, o Sr. Deputado usa muito este argumento: não é possível reescrever a história de acordo com aquilo que nós queremos! Não há lugar para a cooperação ideológica, marcadamente ideológica.
Aliás, os senhores poderão vir a ser responsabilizados por terem induzido em erro um conjunto de países que, bem ou mal, conseguiram, passados alguns anos, descobrir que, se calhar, o marxismo não era adaptável a África, tal como o não foi a outras regiões da Europa. Logo, deixe-me dizer-lhe isto, Sr. Deputado, e peco-lhe que não leve a mal: é preciso os senhores terem, pelo menos, a honestidade - nada tem a ver com a falta de honestidade mas, sim, com a coerência ideológica - de dizer que se enganaram! Durante os anos em que fizeram cooperação com África, a cooperação foi o desastre que se viu, quando aqueles homens, que nada têm a ver com os marxistas, estavam com as pessoas que estavam lá.
Na verdade, o MLSTP nada tem a ver com o PSD, pelo menos não tinha enquanto andava próximo de vocês O MPLA, muito menos, como devem imaginar.
No entanto, o que acontece é que os governantes desses mesmos países vêm dar-nos os parabéns a cada momento e tenho a impressão de que o Sr. Ministro dos Negócios Estrangeiros, aqui presente, muitas vezes não sabe o que há-de responder-lhes quando o felicitam, porque eles são da vossa área ideológica.

O Sr. Manuel Queiró (CDS-PP): - Não leve a mal!

O Orador: - Sr. Deputado, a si, ninguém lhe liga!

Como vê, Deputado Miguel Urbano Rodrigues, é preciso ter coragem para dizer isto. Mas digam-no! Digam que, apesar de... Aliás, citei uma frase sua...

O Sr. João Amaral (PCP): - Então, o Sr. Ministro envergonha-se do que faz?

O Orador: - Não, Sr. Deputado João Amaral! É uma situação complicada pois, mesmo nos fóruns internacionais, onde os senhores estão representados, eles dizem bem de nós. Os senhores deviam meter a mão na consciência e dizer: «Enganámo-nos! Vamos acabar com este discurso e ter a coragem de dizer que nos enganámos». Mais: foram os responsáveis pelos muitos anos de história perdidos por aquelas pessoas, tentando construir e manter um esquema que, rigorosamente, não servia para nós, não serve para a Europa e muito menos para a África, como está a tentar convencer-me.

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