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1232 | I Série - Número 032 | 07 de Fevereiro de 2002

 

verdadeiro parlamentar republicano, à boa maneira de parlamentar republicano - e foi aqui que o comecei a estimar e a respeitar.
Ateu, maçon, de esquerda republicana - aí, no republicanismo, entre mim e ele não nos afastávamos, porque eu também sou profundamente republicano, mas, quanto ao resto, havia, efectivamente, um afastamento. No entanto, poucas pessoas respeitei tanto como ele, aqui.
E como eu me revia nele, quando ele, entusiasmado, batia com as mãos nas bancadas, dando prova de uma vitalidade enorme naquilo que pensava, às vezes pouco compreendido por quem estava a falar. Havia, no fundo, o debate das ideias, havia, no fundo, não a bavardage parlamentar, que tanto criticam, mas o confronto sério, o confronto duro entre ideias que ele representava e que, creio, é o cerne da vida parlamentar.
Em meu entender, mais do que a função legislativa ou a fiscalização ao Governo, o debate das ideias e o confronto de opiniões são o cerne da vida parlamentar, que ele apreendeu como ninguém.
Fundamentalmente, como se refere no voto de pesar, o que fica é o seu carácter, é a sua abertura de espírito. E que longa conversa, a última que tive com ele, na Livraria Sá da Costa, onde nos encontrámos, já ele muito doente… E como foi bom falar com ele. Nessa altura, eu estava afastado da política e como foi bom verificar a independência que ele tinha mesmo em relação ao seu próprio partido, fundamentalmente em relação ao seu próprio partido.
É desses homens livres que nós precisamos, é dessa gente livre que nós precisamos para melhorar a nossa própria acção política. Esses homens têm de ser lembrados, não devem ser excluídos. Devem ser ajudados, apoiados, entronizados, porque a democracia passa por eles, não passa, seguramente, por aqueles que estão permanentemente ligados aos directórios partidários nem por aqueles que estão sempre de servis baixa a dizer «sim» a tudo.
Raúl Rêgo não era nada disto. E nisso nós estávamos juntos, encontrávamo-nos aí. Como nos encontrámos na rua, no jornal República. Eu também estava lá, a defender a liberdade que ele representava ali como ninguém! Esse é o grande encontro que vale a pena ser vivido.
Hoje, tudo aquilo que nos afastou só serve para melhor o lembrarmos e mais o respeitarmos, como ele nos respeitava a nós, na diferença. Aí está o grande valor da democracia: não há inimigos, há adversários, e há adversários que, muitas vezes, são mais amigos do que os correligionários!

Aplausos gerais.

O Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado Bernardino Soares.

O Sr. Bernardino Soares (PCP): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: Em nome da bancada do PCP e em meu nome pessoal, também nos associamos ao voto que o Sr. Presidente nos apresenta sobre a morte do Dr. Raúl Rêgo, valorizando e salientando o seu combate contra o fascismo durante tantos anos da sua vida; valorizando e salientando a sua participação e intervenção parlamentar tão rica, mesmo quando estivemos em divergência.
O respeito que tinha pela instituição parlamentar e a valorização que sempre entendeu fazer da instituição parlamentar penso que é uma das marcas que fica da vida e do contributo de Raúl Rêgo.
Pela nossa parte, fica-nos bem na memória a última imagem que tivemos de Raúl Rêgo nesta Assembleia, ao vir assumir, com esforço e em condições de saúde já precárias, uma questão de princípio, uma questão de vontade própria importante, já aqui referida, aquando da votação sobre a interrupção voluntária da gravidez.
Julgo que foi um acto de coragem e de valorização dos seus princípios que fica bem como a imagem de Raúl Rêgo nesta Assembleia da República.

Aplausos gerais.

O Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado Francisco Louçã.

O Sr. Francisco Louçã (BE): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: Associo-me, naturalmente, às palavras, ao sentido e à emoção do voto que é presente à Assembleia da República e queria transmitir aos amigos, em particular àqueles que o acompanharam desde sempre, os Drs. António Reis e Almeida Santos, e a todo o Partido Socialista, as minhas condolências e as do Bloco de Esquerda por esta perda tão trágica.
Quando olhamos para trás e pensamos numa figura como a do Dr. Raúl Rêgo, olhamos para o que foi o século XX português. Talvez dele se possa dizer - dele e de algumas outras pessoas, mas seguramente dele - que cada um de nós vive no seu tempo, constrói o seu tempo e nele encontra algumas encruzilhadas. Há quem tenha essa força de fundar caminhos novos, de contribuir para caminhos novos e quem, em contrapartida, veja passar o tempo que vai sempre passando.
Raúl Rêgo foi um fundador. Foi seminarista e, depois, escolheu ser anticlerical, ser maçónico, ser democrata, ser republicano, bater-se pelas suas ideias. E não é extraordinário que, nesta Assembleia, apesar de tantas diferenças que marcaram as fronteiras do debate político e da contraposição política, ele possa ser respeitado e elogiado pela sua frontalidade e pela sua clareza, como estamos a ver ao longo deste debate e da emoção que lhe emprestamos. Foi justamente assim: uma figura fundadora.
Assim foi Raúl Rêgo e assim nos devemos lembrar dele.
Olhando para ele, olhando para o que nos deixa, percebemos que o século XX foi também um tempo que passou e que o combate ao fascismo, à ditadura, que marcou a evolução dessa trajectória política, deu origem a um Parlamento, a um sistema democrático e a um sistema de liberdades políticas, em que a responsabilidade continua a ser necessária, tão necessária, mais necessária do que nunca e, por isso, talvez não seja surpreendente que nos lembremos dele pelo que foi, pela última memória que ele trouxe a esta Assembleia ao votar, em 1997, a lei despenalizando o aborto e por aquilo que foi deixando, pelo trabalho inacabado que é a República que está por fazer.

Aplausos gerais.

O Sr. Presidente: - Tem a palavra a Sr.ª Deputada Isabel Castro.

A Sr.ª Isabel Castro (Os Verdes): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: Não tendo tido o privilégio, como outros colegas nesta Câmara, de conhecer mais de próximo o

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