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0163 | I Série - Número 005 | 26 de Abril de 2002

 

É esta a homenagem que presto para mostrar o quanto ele cultivava a arte, como era humanista e como sabia valorizar aqueles que mereciam a sua amizade.
Álvaro Guerra foi um grande cidadão do mundo e por isso mesmo presto esta nossa homenagem com imensa saudade.

Aplausos gerais.

O Sr. Presidente: - Tem a palavra a Sr.ª Deputada Isabel Castro.

A Sr.ª Isabel Castro (Os Verdes): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: Foi, seguramente, um grande choque a notícia da morte de Álvaro Guerra. A sensação de que nunca mais aquele homem de fino humor, aquele homem bondoso, aquele homem de fortes convicções iria poder continuar a falar connosco.
Esta partida súbita - uma partida que ele sabia anunciada, mas que fez ocultar dos seus amigos - é também ela própria um sinal da sua enorme delicadeza, da forma como ele esteve sempre no mundo e da forma como ele se relacionou com os outros.
Não é, seguramente, por acaso que Álvaro Guerra tinha uma teia tão grande e tão diversificada de amigos. Ele tinha a rara capacidade de ouvir, tinha a delicadeza, tinha a força das convicções, mas tinha, também, uma enorme capacidade de entender os outros. E foi essa enorme capacidade de ouvir e de entender o outro que permitiu que, nos vários países onde teve responsabilidades do ponto de vista diplomático, ele conseguisse estabelecer uma relação muito particular com os povos junto dos quais representou o nosso país.
Falar de Álvaro Guerra, hoje, é falar de um amigo muito querido que parte, é falar de um homem de convicções profundas, um combatente da liberdade, um homem inquieto, um homem de uma enorme ironia, que, com essa ironia, se foi interrogando sobre as transformações que viu ocorrer na nossa sociedade.
É esse homem da escrita, esse escritor, esse amante da liberdade, esse cidadão, «esse livre pensador», como disse Mário Mesquita, que partiu, que hoje estamos a lembrar. Um homem que era, a um tempo e paradoxalmente, cosmopolita, mas profundamente ligado à sua terra, terra da qual quis despedir-se e um rio ao qual quis que as suas cinzas fossem lançadas.
É, pois, este homem que homenageamos que julgo que deve ser hoje e aqui, e sobretudo a partir de agora, para os que o não conheceram, descoberto e recordado através da sua obra.

Aplausos gerais.

O Sr. Presidente: - Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado João Teixeira Lopes.

O Sr. João Teixeira Lopes (BE): - Sr. Presidente, Sr. Ministro dos Assuntos Parlamentares, Srs. Deputados: Álvaro Guerra foi e é uma personalidade plurifacetada, como plurifacetada é a vida e como plurifacetada é a realidade.
Escritor, jornalista, embaixador, homem de acção, soube demonstrar pelo seu exemplo que é possível superar aquela preguiçosa dicotomia que tantas vezes fazemos entre os que pensam, mas não fazem, e os que fazem, mas não pensam.
Álvaro Guerra teve ainda o mérito de conseguir trazer para a literatura o clamor das conversas de cafés, na sua «Trilogia dos Cafés», essas conversas aparentemente mundanas, onde se forma a opinião, onde podemos argumentar e contra-argumentar sem regras de antemão estabelecidas e onde a liberdade quotidianamente se exerce.
Álvaro Guerra foi igualmente um cidadão cosmopolita e também - é bom dizê-lo -, nestes tempos de inquietação, em que alguns se dizem, por exemplo, acima de tudo franceses ou acima de tudo portugueses, um cidadão do mundo, um cidadão do seu país e um cidadão de Vila Franca de Xira. E este é talvez o maior tributo que podemos prestar-lhe, o tributo a um cidadão, a um esteta, a um político, a um homem de acção que sempre se soube mover à vontade na diversidade.
Ao cidadão cosmopolita Álvaro Guerra a sentida homenagem do Bloco de Esquerda.

Aplausos gerais.

O Sr. Presidente: - Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Ministro dos Assuntos Parlamentares.

O Sr. Ministro dos Assuntos Parlamentares: - Sr. Presidente, Srs. Deputados: Já está tudo dito, e bem dito, acerca da justeza da homenagem a Álvaro Guerra. Por isso, quero apenas e muito rapidamente juntar a minha palavra e a do Governo às palavras, muito melhor ditas e, sobretudo, com mais profundidade, que aqui foram transmitidas nesta Câmara.
Não o faço por qualquer ritual de circunstância, faço-o mesmo com muito gosto e com uma profunda convicção, porque sou daqueles que conheceram pessoalmente Álvaro Guerra nos últimos anos, que não nos primeiros, mas nem essa circunstância me fez ter menos admiração, menos respeito pela pessoa, pela personalidade e pela maneira de ser e de estar de Álvaro Guerra.
Conheci-o, como, porventura, a grande maioria, pelos seus escritos, durante anos, de jornalista, pela sua magnífica obra literária e sobretudo passei também a admirá-lo, como muitos portugueses, independentemente de concordarem ou não com as suas ideias políticas, por ter sido não apenas um amante mas também um grande defensor e lutador pela liberdade.
Na véspera em que se comemora, de resto, mais um aniversário do dia da festa da liberdade, é importante enaltecer esta outra faceta e característica singular e idiossincrática marcante de Álvaro Guerra.
Quando, sobretudo nos últimos anos, o conheci, foi justamente já nas suas tarefas e funções de diplomata, de embaixador. O último encontro que tive com ele ocorreu há cerca de um ano, no seu último posto, em Estocolmo.
Gostava de corroborar aqui tudo quanto já foi dito, pois como diplomata, como embaixador, como servidor do Estado português, Álvaro Guerra portou-se com uma dignidade, um profissionalismo, uma competência no exercício de um direito, também aí de cidadania, de defesa da Pátria, com elevação, com profundidade, com sentido universalista e, como já aqui foi sublinhado também, com uma afabilidade que contagiava tudo e todos.
É esta a última marca, a última recordação que tenho desta personalidade singular, e por isso aqui também, em meu nome pessoal e do Governo, a homenagem à sua obra e saudade à sua memória.

Aplausos do PSD, do PS, do CDS-PP e do BE.

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