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1781 | I Série - Número 044 | 04 de Outubro de 2002

 

"no fio da navalha", no desrespeito de promessas eleitorais.
E em Lisboa? Em Lisboa, Sr.as e Srs. Deputados, faites vos jeux - façam as vossas apostas! O presidente da câmara municipal acabou de apresentar uma solução para o Parque Mayer, que é bem o retrato da nova gestão: é fácil, é barato e dá milhões! A decisão de instalar um casino no Parque Mayer foi imposta, mesmo depois de a assembleia municipal aprovar, por unanimidade - repito, por unanimidade -, que qualquer decisão sobre esta matéria deveria passar pelo seu crivo.
Mas o presidente não pensou assim e impôs o facto consumado! Uma decisão de tamanha importância ficará entre o Presidente da Câmara Municipal de Lisboa e o Sr. Stanley Ho - assim se faz cidade, no nosso País.
Por parte do Bloco de Esquerda, a gestão camarária terá a máxima oposição contra esta proposta. Opomo-nos, porque ela é má no método, nas consequências e no projecto de cidade que transporta.
Ela é má no método, Sr.as e Srs. Deputados, porque afasta os órgãos democráticos e os cidadãos da decisão. Ainda há pouco mais de um ano, PSD e PP defendiam uma discussão pública sobre o elevador do Castelo de São Jorge. Concordámos e batemo-nos contra o projecto, mas parece que os autarcas de agora não se revêem na oposição do passado: fazem o mesmo que a gestão anterior, com menor transparência e maior leviandade! Como somos coerentes, contarão com a nossa oposição.
A solução é perigosa, nas suas consequências, abre uma "caixa de Pandora": hoje, Lisboa; amanhã, Matosinhos; depois de amanhã, Gaia; no dia seguinte, o Porto. Hoje - soubemo-lo há pouco, Viana do Castelo!
No Porto, esta questão junta-se ao novo riquismo político do seu autarca, porque não bastavam os cortes de 60% da actividade cultural da cidade, ainda dança música "pimba" com o Sr. Ministro da Cultura!
Mas, por todo o lado, parece que se quer apostar em transformar Portugal nas Las Vegas da Europa. O "Casino Portugal" passará a ser a solução milagrosa para cada financiamento que se precise. É preciso construir uma estrada? Há dinheiro da roleta! É necessário reabilitar um bairro? Venham as slot machines! Não é preciso ter muito bom senso para ver a imoralidade desta política, o facilitismo da solução, a falta de rigor deste caminho.
A nova aposta cultural do País, Sr.as e Srs. Deputados, parece ser o jogo de azar.
A proposta do casino para Lisboa é também incongruente. "O País está em crise", dizem-nos todos os dias. "Os portugueses têm que fazer um esforço", diz a Sr.ª Ministra das Finanças. E no preciso momento em que tal é dito aos portugueses, é o Estado, é o Governo que autoriza o casino no centro da cidade! É o Estado que aposta no endividamento das famílias e dos cidadãos, seduzindo-os para o jogo, para o dinheiro rápido, que, como sabemos, pela lei das probabilidades, rapidamente desaparecerá para fazer crescer a fortuna de Stanley Ho! A Stanley Ho, a ele sim, sairá o jackpot!
Por fim, a proposta do casino contraria tudo o que Lisboa e a Avenida da Liberdade precisam. A Avenida da Liberdade precisa de gente para combater o fenómeno da desertificação e a fantasmagoria da noite! Precisa de gente que trabalha, que se diverte, que passeia, que estuda, que vai ao cinema, que vai às esplanadas! A Avenida da Liberdade precisa de vida, e a vida não está no casino! As crianças não vão ao casino! Os estudantes não vão ao casino!
Lisboa precisa de menos espectáculo, mas precisa de ser cuidada, e tem sido tão descuidada nas últimas décadas!
O que propomos para o Parque Mayer é que ali se faça um centro de comunicações avançado, um lugar de trabalho onde se associe actividade cultural, habitação, fruição e lazer, para que a avenida não se esvazie às 8 horas da noite. Há alternativas sólidas, alternativas assentes em parcerias pública e privados, mas que apostam na diversidade, na inovação, na qualidade e no desenvolvimento tecnológico.
A pergunta é muito simples: queremos uma cidade-casino ou preferimos equipamentos polivalentes, flexíveis, onde é possível conciliar, volto a dizer, informação, fruição e formação cultural?
Em Lisboa, como em qualquer outra cidade, Sr.as e Srs. Deputados, revitalizar um espaço cultural às expensas de um casino é um exercício de imposição de um padrão de entretenimento e de fruição cultural que limita seriamente a possibilidade de aí coexistirem públicos variados. O casino, na sua programação - todos o sabemos - escolhe públicos relativamente restritos, mercantiliza as actividades culturais, aposta "no que está a dar" e jamais permite a experimentação, a inovação, o cosmopolitismo e outros repertórios. Fecha o campo de possibilidades, em vez de o abrir.
Além do mais - e esta é uma questão da maior importância, não a escamoteemos! -, o negócio do jogo encontra-se intimamente ligado ao submundo do branqueamento de dinheiro e de inúmeras actividades ilícitas. Temos, na nossa história recente, aliás, muito possivelmente e para bandas do Oriente, um significativo exemplo destas questões. O nosso caminho é o outro: discutam-se as opções; alimente-se o debate; acabemos de vez com a preocupante centralização de poderes nos presidentes de câmara.
Com tais implicações na decisão de construir um casino no Parque Mayer, os lisboetas têm de ser ouvidos. É altura, por uma vez, de lhes perguntar se querem que lhes continuem a destruir a cidade, a esvaziá-la , a tirar-lhe vida.
O Bloco de Esquerda, Sr.as e Srs. Deputados, irá associar-se a todos os cidadãos de Lisboa que se queiram pronunciar, através de um referendo local, sobre esta opção para o Parque Mayer e para a Avenida da Liberdade. Contra política de casino, a economia de casino e a sociedade de casino, defendemos, outrossim, a opção maior da escolha democrática!

Aplausos do BE.

O Sr. Presidente: - Para pedir esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado Telmo Correia.

O Sr. Telmo Correia (CDS-PP): - Sr. Presidente, Sr. Deputado João Teixeira Lopes, fico só com uma dúvida sobre a intenção concreta desta sua intervenção. A dúvida e a preocupação que tenho é saber onde é que o Sr. Deputado quer chegar com esta sua intervenção. Isto porque não percebi, no meio…

Neste momento, regista-se um grande burburinho na Sala.

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