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5242 | I Série - Número 095 | 17 de Junho de 2004

 

Foi, sem dúvida, um dos Deputados mais combativos que passaram por aqui, pelo nosso Parlamento. E não foi só um dos rostos e uma das referências do Grupo Parlamentar do Partido Comunista Português, ele foi, é e ficará como um rosto e uma referência da Assembleia da República. Creio que, com a sua acção, ele dignificou a política e dignificou a nobre missão de representante do povo e de Deputado.
Quero deixar também aqui uma palavra ao militante antifascista, ao resistente, desde a sua juventude até ao papel destacado que desempenhou depois, na CDE, a toda a sua acção na oposição democrática que o levou à prisão e à tortura. Ele, aliás, como já foi lembrado, era um daqueles presos políticos que foram libertados com a Revolução do 25 de Abril.
Mas quero também lembrar o seu empenho e a sua acção na reforma agrária, porque ele foi também um dos rostos e uma das vozes da reforma agrária. E seja qual for a posição que se tenha sobre a forma e o conteúdo que tomou a reforma agrária, naquelas circunstâncias históricas, não se pode pôr em causa o interesse, o apego e o profundo empenho e a convicção que ele pôs nesse combate, que foi uma das causas da sua vida. Aliás, um dos seus últimos actos foi a apresentação aqui, na Assembleia, do livro Reforma Agrária - Da utopia à realidade, que é necessário ler, para uma reflexão crítica sobre a utopia e também para um reflexão crítica e um novo olhar sobre a realidade dos campos do Sul, a que ele esteve sempre ligado.
Quero ainda falar de um outro lado do Lino, porque quem conheceu Lino de Carvalho apenas como Deputado e o viu aqui, muitas vezes, atacando, contra-atacando e respondendo, com aquela combatividade que lhe era peculiar ou mesmo, por vezes, com dureza, há-de pensar que era um homem duro. É que havia um outro lado, que nós conhecemos bem: era um lado de grande afectividade, de grande afabilidade, de uma grande finura de trato. Era, pois, também, um homem de afectos, um homem de cultura, que gostava de livros e de conversar sobre eles, um militante comunista por profunda convicção, até ao fim, um homem de diálogo, capaz de dialogar com quem não pensava da mesma maneira.
Era um homem de esquerda, que se interrogava sobre os caminhos da esquerda e sobre o seu futuro e que defendia o entendimento e a convergência das forças de esquerda em Portugal.
Foi um homem de grande firmeza nas suas convicções mas de grande afabilidade e também de grande abertura na convivialidade, que nós tivemos, aliás, ocasião de presenciar nos nossos almoços… Na primeira quinta-feira de cada mês, vai ser difícil ver aquela cadeira vazia naqueles almoços onde, entre todos nós, se criaram relações de convívio e até de amizade e onde pudemos apreciar esse outro lado do Lino e até o seu sentido de humor e depois a maneira sóbria e de grande coragem e dignidade com que enfrentou a doença.
Por isso, em nome do Grupo Parlamentar do Partido Socialista, quero deixar aqui, à sua família, à Ana e aos seus dois filhos, de quem ele tinha grande orgulho, um abraço de profunda solidariedade; aos seus camaradas do Grupo Parlamentar do Partido Comunista Português, deixo também um abraço de grande solidariedade; ao Lino, onde quer que ele esteja, um fraterno abraço, de resistente a resistente e de militante a militante.

O Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado Guilherme Silva.

O Sr. Guilherme Silva (PSD): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: Muitas vezes, pensa-se que estas sessões são um mero ritual, que não deixamos de cair na tentação de, sobre quem, em vida, fomos críticos, depois da morte, só salientarmos as qualidades. Tenho a profunda certeza de que, relativamente a esta homenagem que estamos a prestar ao Deputado Lino de Carvalho, tudo aquilo que ouvimos, desde a intervenção do Sr. Presidente da Assembleia da República à leitura do voto apresentado pelo Partido Comunista, à intervenção do Sr. Deputado Manuel Alegre, às palavras que vou aqui dizer e às que se seguirão, tudo é profundamente sentido.
Efectivamente, seria difícil termos uma figura cuja perda, nesta Assembleia, nos irmanasse tão profundamente no desgosto que a todos causou a morte do Deputado Lino de Carvalho.
Naturalmente, tivemos discordâncias e discordâncias profundas. As suas opções ideológicas, políticas e partidárias estavam, as mais das vezes, nos antípodas daquelas que eu próprio comungo e defendo. Mas é exactamente aí que, nestas ocasiões, encontramos o homem na sua dimensão adequada. O homem que, apesar dessas divergências, apesar da diferença de pontos de vista, sabia, democraticamente, com tolerância, conviver com aqueles que tinham pontos de vista diferentes, sem prejuízo do empenho e da exaltação com que defendia as suas ideias e convicções. E Lino de Carvalho fê-lo sempre, quer como Deputado, aqui, na bancada do PCP, quer quando dirigia os trabalhos, com cuidado excepcional de isenção e de respeito pelas várias forças com assento parlamentar.
Estas são, realmente, marcas indeléveis que, para além das opções ideológicas, revelam que há pessoas que têm a democracia dentro de si próprias e a expressam no seu quotidiano, na convivência com os demais, que pensam de forma diferente da sua. Este era o aspecto mais particular que queria salientar da

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