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5607 | I Série - Número 105 | 09 de Julho de 2004

 

Na pessoa do Dr. Gilberto Madaíl, cumprimento todos aqueles que trabalharam e que se disponibilizaram dedicadamente a esta organização.
Fomos também capazes no domínio desportivo. A nossa Selecção, liderada por esse grande homem que dá pelo nome de Scolari, foi simplesmente brilhante. Parabéns a todos eles.
Fomos igualmente capazes como povo. Provámos que somos um pequeno país e um pequeno território mas somos uma grande Nação. O povo português foi extraordinário. Ele permitiu o sucesso do Euro 2004. Por isso, obrigado Portugal.

Aplausos do PSD, do PS e do CDS-PP.

O Sr. Presidente: - Sr. as e Srs. Deputados, julgo que, de alguma forma, este voto já foi aclamado. Mas, para que se cumpram as formalidades, vou submetê-lo à votação.

Submetido à votação, foi aprovado por unanimidade.

Aplausos gerais, de pé.

Sr.as e Srs. Deputados, nem só de momentos de grande entusiasmo e euforia se faz a vida de uma Nação. A comunidade nacional, nos últimos dias desta fase tão entusiástica, foi atingida, tendo sofrido sentidamente, com o falecimento da grande escritora Sophia de Mello Breyner Andresen, uma das mais distintas da língua portuguesa do século XX. Também foi Deputada à Assembleia Constituinte e guardo dela uma recordação indelével.
Poucas são as pessoas que obtêm aquele reconhecimento público, que as faz serem tratadas apenas pelo seu nome próprio. Sophia faz parte do património da língua portuguesa, faz parte do património de Portugal.
Saúdo os seus familiares aqui presentes.
Vou ler, com especial gosto, o voto de pesar n.º 190/IX - De pesar pelo falecimento de Sophia de Mello Breyner Andresen, que é subscrito por todos os grupos parlamentares e por mim próprio e que é da autoria do Sr. Vice Presidente e Deputado Manuel Alegre.
"'O artista não é, e nunca foi, um homem isolado que vive no alto de uma torre de marfim. O artista, mesmo aquele que se coloca à margem da convivência, influenciará necessariamente, através da sua obra, a vida e o destino dos outros.' Estas são palavras de Sophia de Mello Breyner Andresen, ou simplesmente Sophia, nome que se tornou sinónimo de poesia e que, pela sua obra e pela sua vida, influenciou como poucos o nosso destino colectivo.
A poesia foi, no dizer de Sophia, a sua explicação com o universo. Detestou sempre as palavras da literatura. Reabilitou a palavra poética e o sentido mágico do poema. A sua escrita foi uma constante perseguição do real. Por isso, está carregada de sabores, de cheiros, dos rumores da casa onde há sempre um deus fantástico, de pássaros que cantam no jardim, de memórias, de vivências, da presença-ausência do mar, das procelárias, dos ventos, dos barcos e dos barros, das ânforas, dos ofícios, dos rostos. E também dos homens, das suas cadeias, das suas injustiças, dos seus combates. Como ela própria diz: 'O poema não fala de uma vida ideal mas de uma vida concreta.' E nesse seu falar a transfigura. É a busca de uma 'relação justa com a pedra, com o rio, com a árvore.' E quem procura uma relação justa com as coisas procura 'uma relação justa com o homem.'
E por isso é que Sophia considera que 'a poesia é uma moral' e que 'o poeta é levado a buscar a justiça pela própria natureza da sua poesia.' Este é outro aspecto essencial da poesia de Sophia: o rigor, a comunhão, a partilha, a inteligência e a intransigência da liberdade e da justiça, a contenção, a tensão e a atenção, como sinal de exigência e da responsabilidade perante si e os outros.
Como os gregos antigos, ela achava que a poesia devia ter um sentido didáctico e pedagógico. Cantou a liberdade por uma necessidade íntima. Denunciou 'o tempo de silêncio e de mordaça' e disse que 'Nunca choraremos bastante quando vemos/O gesto criador ser impedido.' Falou do 'velho abutre que alisa as suas penas' e cujos discursos 'têm o dom de tornar as almas mais pequenas.' Criticou a guerra colonial e pediu 'A paz que nasce da verdade/A paz que nasce da justiça/A paz chamada liberdade/A paz sem vencedores e sem vencidos.'
Sophia nunca se encerrou em qualquer torre de marfim. Esteve sempre do lado dos que lutaram pela liberdade e pela justiça. Foi chamada à Pide, mas ninguém conseguiu impedi-la de fazer ouvir sempre a sua voz, reclamando 'uma vida limpa e um tempo justo' e uma Pátria de 'luz perfeita e clara.' Saudou a essência do 25 de Abril em quatro versos que hoje todos sabem de cor. Mas alertou contra a demagogia e aquilo a que chamou 'o capitalismo das palavras.'
Participou na fundação da democracia, como Deputada do Partido Socialista à Assembleia Constituinte.

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