O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

5608 | I Série - Número 105 | 09 de Julho de 2004

 

Apoiou activamente as candidaturas de Mário Soares e Jorge Sampaio à Presidência da República, de cujas Comissões de Honra fez parte. Esteve em muitos outros combates, antes e depois do 25 de Abril.
Assim foi Sophia, aquela que disse: 'A terra onde estamos - se ninguém a atraiçoasse - proporia/Cada dia a cada um a liberdade e o reino.'
O que dela fica é o esplendor da sua escrita. Mas fica também a beleza da sua pessoa e da sua vida.
A Assembleia da República presta homenagem a esta grande voz da poesia, da liberdade e de Portugal, sem dúvida uma das grandes vozes portuguesas de todos os tempos, e apresenta as mais sentidas condolências aos seus filhos Miguel, Isabel Sophia, Maria, Sophia e Xavier, aos seus netos e a toda a sua família."
Tem a palavra o Sr. Deputado Manuel Alegre.

O Sr. Manuel Alegre (PS): - Sr. Presidente, Srs. Deputados, Caros Xavier, Sophia, Maria, Isabel Sophia: Na missa de corpo presente, Frei Bento Domingues disse que, quando morrem, os artistas e os poetas são injustiçados, porque se fala das obras e se esquece as pessoas.
Eu não esqueço a pessoa de Sophia, não esqueço a beleza e a grandeza da sua pessoa, nem a festa e o milagre da sua amizade.
Também não esqueço que Sophia passou por esta Casa como Deputada do PS na Assembleia Constituinte.
Mas agora ela está na eternidade, enquanto houver língua portuguesa e enquanto houver poesia.
E não diria mais nada. Creio que este é o momento de fazer ouvir a palavra de Sophia.
"Dizer que a obra de arte faz parte da cultura é uma coisa um pouco escolar e artificial. A obra de arte faz parte do real e é destino, realização, salvação e vida.
Sempre a poesia foi para mim uma perseguição do real. Um poema foi sempre um círculo traçado à roda de uma coisa, um círculo onde o pássaro do real fica preso. E se a minha poesia, tendo partido do ar, do mar e da luz, evoluiu, evoluiu sempre dentro dessa busca atenta. Quem procura uma relação justa com a pedra, com a árvore, com o rio, é necessariamente levado, pelo espírito de verdade que o anima, a procurar uma relação justa com o homem. Aquele que vê o espantoso esplendor do mundo é logicamente levado a ver o espantoso sofrimento do mundo. Aquele que vê o fenómeno quer ver todo o fenómeno. É apenas uma questão de atenção, de sequência e de rigor.
E é por isso que a poesia é uma moral. E é por isso que o poeta é levado a buscar a justiça pela própria natureza da sua poesia. E a busca da justiça é desde sempre uma coordenada fundamental de toda a obra poética. Vemos que no teatro grego o tema da justiça é a própria respiração das palavras. Diz o coro de Ésquilo: 'Nenhuma muralha defenderá aquele que, embriegado com a sua riqueza, derruba o altar sagrado da justiça.' Pois a justiça se confunde com aquele equilíbrio das coisas, com aquela ordem do mundo onde o poeta quer integrar o seu canto. Confunde-se com aquele amor que, segundo Dante, move o sol e os outros astros. Confunde-se com a nossa confiança na evolução do homem, confunde-se com a nossa fé no universo. Se em frente do esplendor do mundo nos alegrarmos com paixão, também em frente do sofrimento do mundo nos revoltamos com paixão. Esta lógica é íntima, interior, consequente consigo própria, necessária, fiel a si mesma. O facto de sermos feitos de louvor e protesto testemunha a unidade da nossa consciência.
A moral do poema não depende de nenhum código, de nenhuma lei, de nenhum programa que lhe seja exterior, mas, porque é uma realidade vivida, integra-se no tempo vivido. E o tempo em que vivemos é o tempo duma profunda tomada de consciência. Depois de tantos séculos de pecado burguês a nossa época rejeita a herança do pecado organizado. Não aceitamos a fatalidade do mal. Como Antígona, a poesia do nosso tempo diz: 'Eu sou aquela que não aprendeu a ceder aos desastres.' Há um desejo de rigor e de verdade que é intrínseco à íntima estrutura do poema e que não pode aceitar uma ordem falsa.
Mesmo que o artista escolha o isolamento como melhor condição de trabalho e criação, pelo simples facto de fazer uma obra de rigor, de verdade e de consciência, ele irá contribuir para a formação duma consciência comum. Mesmo que ele fale somente de pedras ou de brisas, a obra do artista vem sempre dizer-nos isto: que não somos apenas animais acossados na luta pela sobrevivência mas que somos, por direito natural, herdeiros da liberdade e da dignidade do ser.
Acima de tudo estamos reunidos por aquilo a que o padre Teilhard de Chardin chamou a nossa confiança no progresso das coisas.
E não há nada que possa separar aqueles que estão unidos por uma fé e por uma esperança."

Vozes do PS: - Muito bem!

O Sr. Presidente: - Tem a palavra a Sr.ª Deputada Luísa Mesquita.

Páginas Relacionadas
Página 5607:
5607 | I Série - Número 105 | 09 de Julho de 2004   Na pessoa do Dr. Gilberto
Pág.Página 5607
Página 5609:
5609 | I Série - Número 105 | 09 de Julho de 2004   A Sr.ª Luísa Mesquita (PC
Pág.Página 5609
Página 5610:
5610 | I Série - Número 105 | 09 de Julho de 2004   literário de mais de 50 a
Pág.Página 5610
Página 5611:
5611 | I Série - Número 105 | 09 de Julho de 2004   que é um grande patrimóni
Pág.Página 5611
Página 5612:
5612 | I Série - Número 105 | 09 de Julho de 2004   da sua poesia e é por mui
Pág.Página 5612