O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

5610 | I Série - Número 105 | 09 de Julho de 2004

 

literário de mais de 50 anos.
Sophia escreveu sobre a beleza, a vida, o amor, a liberdade. Sophia era a própria beleza na imagem e na palavra e uma voz autêntica e genuína da própria liberdade.
Destacou-se na resistência à ditadura, empenhou-se na construção da democracia, como Deputada à Assembleia Constituinte e, depois, à Assembleia da República.
Foi uma mulher inteira, verdadeira e livre.
Consagrada pelos mais prestigiados prémios da crítica internacional, traduzida em inúmeras línguas, condecorada pela República. Todos os prémios foram merecidos, todos honrosos, todos foram poucos para o que lhe devemos.
Deixou uma vastíssima obra, que, para nosso bem, podemos recordar.
Quero destacar os livros chamados para crianças, que muitos adultos nunca esquecerão. A este propósito, permitam-me uma brevíssima nota pessoal: no dia da sua morte, e como forma de aligeirar, dei comigo a pensar como poderia eu homenagear Sophia e julgo que encontrei uma forma feliz de o fazer. Entrei numa livraria e saí com a fantasia na palma da mão: A Menina do Mar, A Fada Oriana, A Floresta e O Cavaleiro da Dinamarca. Ofereci-os à minha filha, que tem três anos, que não terá a felicidade de conhecer Sophia, e expliquei-lhe que aqueles livros foram escritos por uma linda mulher que partiu para longe, mas quis deixar às crianças um presente precioso para toda a vida.
O Grupo Parlamentar do PSD exprime o seu mais profundo pesar pelo falecimento de Sophia de Mello Breyner Andresen, uma enorme perda para todos nós e para a cultura portuguesa, e apresenta à sua família o seu profundo desgosto.

O Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado Francisco Louçã.

O Sr. Francisco Louçã (BE): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: Quando, daqui a algum tempo, olharmos para o passado dos dias que estamos a viver, sentiremos talvez que houve emoção desportiva e uma crise política, mas perceberemos sobretudo que, nestes momentos, ficamos mais pobres do futuro.
A perda de Sophia, "musa incandescente" - dizia Eduardo Lourenço -, diminuiu a cultura portuguesa tanto quanto a engrandeceu em vida a obra que nos deixou.
Para Sophia a poesia é essencial, a poesia é iluminação, a poesia é claridade, é magia e é acção.
Sophia, a sua família, a sua tradição anti-miguelista, anti-autoritária e contra a guerra, representou o melhor de Portugal durante toda a sua vida. Contra Salazar, "O velho abutre é sábio e alisa as suas penas/A podridão lhe agrada e seus discursos/Têm o dom de tornar as almas mais pequenas". Contra a guerra, contra a incompetência, contra a insensatez.
Sophia propôs-se transformar o mundo, porque sabia que só vive o mundo quem transforma esse mundo. Dizia ela: "Sei que seria possível construir o mundo justo/As cidades poderiam ser claras e lavadas" - e essa possibilidade era o seu programa -/"A terra onde estamos - se ninguém atraiçoasse - proporia/Cada dia a cada um a liberdade e o reino/Na concha na flor no homem e no fruto" - e esse era o seu programa, dela Sophia -/"Sei que seria possível construir a forma justa/De uma cidade humana que fosse/Fiel à perfeição do universo" - e esse programa era a escrita, era a poesia, era a força da palavra -/"Por isso recomeço sem cessar a partir da página em branco/E este é meu ofício de poeta para a reconstrução do mundo".
Devemos a Sophia ter começado, com outros, junto de outros, melhor do que outros, o que ninguém nunca acabará - a reconstrução do mundo. Fê-lo em nome de si própria, em nome de nós todos, por essa religião da luz e da esperança, que era ela própria, Sophia, a reconstrução do mundo.

O Sr. Presidente: - Tem a palavra a Sr.ª Deputada Isabel Castro.

A Sr.ª Isabel Castro (Os Verdes): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: Penso que tudo o que se pode dizer de Sophia corre o risco de excesso ou de escassez e da perda desse equilíbrio que Sophia tanto prezava.
Porventura, depois de tantas palavras ditas, aquilo que eu gostaria de lembrar é Sophia, ela própria, como A Menina do Mar. E, se calhar, lembrando A Menina do Mar, aquilo que me ocorre neste momento são as suas palavras e devolver-nos todos nós àquilo que ela própria escreveu nesse magnífico e belíssimo texto que acompanhou gerações e gerações, que povoou o nosso imaginário, que nos encantou, que foi a invisível companhia na nossa meninice, na dos nossos filhos e, seguramente, será, por muitas e muitas gerações, uma relíquia imensa que todos jamais deixaremos de partilhar.
E essas palavras são precisamente desse maravilhoso texto sobre a saudade: "Saudade é a tristeza que fica em nós quando as coisas de que gostamos se vão embora". Este comentário é, seguramente, aquele que me ocorre num momento, que é de dor, da partida de alguém que é imenso na poesia, na literatura e

Páginas Relacionadas
Página 5612:
5612 | I Série - Número 105 | 09 de Julho de 2004   da sua poesia e é por mui
Pág.Página 5612