O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

5611 | I Série - Número 105 | 09 de Julho de 2004

 

que é um grande património não só de Portugal, não só da língua portuguesa, mas também, seguramente, um património universal.

O Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado Narana Coissoró.

O Sr. Narana Coissoró (CDS-PP): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: Sinto-me demasiado pequeno para falar dessa grande Portuguesa, dessa grande Mulher, dessa grande Poeta, que foi Sophia.
Escreveu Eduardo Lourenço que ela nasceu predestinada para ser aquilo que foi, a começar pelo nome do seu baptismo. Dizia Eduardo Lourenço: "Sophia - sabedoria mais funda do que o simples 'saber', conhecimento íntimo, ao mesmo tempo atónico e luminoso do essencial, comunhão silenciosa e sem cessar reverberante com aquilo que, por original, a reflexão e os seus intérminos labirintos deixarão intactos". E assim foi toda a vida de Sophia.
Como diz o luminoso texto do Manuel Alegre que vamos votar, "O que dela fica é o esplendor da sua escrita. Mas fica também a beleza da sua pessoa e da sua vida". O esplendor da sua escrita, nós vimo-lo por estes dias elogiado e transcrito em inúmeras homenagens no profundo sentimento de respeito e de íntimo conhecimento que o povo português sente como que brotando do seu inconsciente, dos seus maiores.
No meio da sadia "loucura" e da alegria que o Euro 2004 trouxe - o povo parecia embriagado ao viver as nossas vitórias nos relvados -, no momento em que se soube que Sophia tinha deixado de existir, de repente, o País estremeceu, os jornais, todos eles, tanto os de esquerda como os de direita, os tablóides e os de referência, de artes e letras, dedicaram as suas primeiras páginas a esta grande figura da intelectualidade, escritora, poeta política e, acima de tudo, uma pessoa de enorme sensibilidade social, uma pessoa ideologicamente forte, uma pessoa que nunca se vergou perante os oportunismos ou os interesses.
Criticou tudo quanto quis criticar; criticou a esquerda quando foi preciso verberá-la; atacou sempre a direita; admoestou os amigos quando foi preciso chamá-los ao capítulo e louvou-os quando era preciso estimulá-los.
Na inteireza do seu carácter, era a pessoa que personificava aquilo que aqui hoje foi posto mais em destaque - o seu profundo sentido de justiça. Justiça na sociedade e como exigência da sua própria vida; justiça perante a sua família; justiça perante a vida dos que sofrem e são desprotegidos; justiça perante os amigos; justiça perante o País, como tarefa do Estado; e, acima de tudo, diria mais que tudo, a liberdade, a liberdade de ser o que foi e continuará a ser onde estiver.
Gostava de viajar, gostava de contemplar tudo quanto era português. Pude testemunhar a alegria que ela sentiu, por exemplo, quando chegou a Goa e pôde ver, por uns dias, aquela terra que, depois de 40 anos de silêncio sobre a retirada de Portugal, soube vibrar, como vibrou agora no Euro 2004. Também sei que lá na minha terra, Goa, se parou uns instantes quando se soube que Sophia já lá não voltaria mais, à mesma terra, às mesmas praias, ao mesmo mar tropical.
Por isso Sophia nos faz falta. Faz-nos falta nestes dias, em que é preciso escrever o grande poema do Euro. Só pela pena dela havia de ficar para a eternidade essa grande loucura colectiva, essa grande alegria que vivemos por uns dias pelo mundo português. Sophia partiu exactamente quando nós mais precisávamos da sua pena para deixar uma lembrança poética do Euro.
À família de Sophia vão os meus sinceros pêsames.

O Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Ministro dos Assuntos Parlamentares.

O Sr. Ministro dos Assuntos Parlamentares (Luís Marques Mendes) - Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Há coisas que se fazem porque é necessário fazer, e há outras que se fazem porque dá gosto fazer. É o caso desta minha pequena, mas sentida, intervenção, para, em nome pessoal e do Governo, prestar homenagem, associando-nos ao voto que esta Câmara vai votar relativamente a Sophia de Mello Breyner.
A homenagem, desde logo, à mulher combatente da liberdade e da justiça, como ficou patente, durante anos, na sua obra, no seu exemplo, na sua atitude, nas suas palavras, na sua passagem, há muitos anos, por esta Casa.
A homenagem à escritora de excepção já aqui lindamente recordada por tantos, à poetisa de rara beleza, a alguém que marcou, marca e marcará, de uma forma indelével, a nossa poesia, a nossa cultura.
Já aqui foi dito muito de importante, embora fique sempre muito por dizer. O confronto permanente entre opostos, o bem e a justiça, por um lado, o mal e a injustiça por outro, é, na minha opinião, uma das características mais marcantes da sua obra invulgar.
Mas o confronto entre a verdade e o fingimento é, porventura, dos traços de maior força da sua escrita,

Páginas Relacionadas
Página 5614:
5614 | I Série - Número 105 | 09 de Julho de 2004   o País inteiro. Daí enten
Pág.Página 5614