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5845 | I Série - Número 107 | 29 de Julho de 2004

 

relatar a ilustríssima portuguesa que recordamos enunciando a sua extensa e preciosa biografia, feita de dados que soam a meramente formais para falar de uma pessoa que não era feita do lugar onde lhe calhava estar mas que questionava e contestava permanentemente.
Perguntada lá fora sobre o que fazia, nas múltiplas arenas que requeriam a sua participação - muito mais lá fora do que cá dentro -, respondia que era um político freelancer em Portugal, como há quase dois anos, nesta Casa, confessou a alguns de nós. Deveriam achá-la original aqueles que a ouviam, como genuinamente original e única ela era.
O mundo da política em que se moveu é certamente dos que mais dificilmente tolera e absorve a originalidade. Julgo que, por isso, não fomos capazes de lhe reconhecer em vida, como devíamos, o valor que encerrava. Julgo que, por isso, lá fora ela foi mais apreciada e ouvida.
Não partilhei com quem hoje homenageamos muitas convicções e muitos caminhos, o que faz com que tanto mais à vontade me sinta para dizer quão próxima tantas vezes me sei, numa espécie de espaço em que as mulheres se encontram e em que aprendem ou sabem, que há potencialidade nossas de mudar e que mudaremos quando tivermos o poder real para o fazer.
Esta é uma homenagem que presto em nome do Grupo Parlamentar do PSD, mas faço-o de uma forma muito especial como mulher, qualidade que inundava a forma como Maria de Lourdes Pintasilgo vivia e se expressava, e que penso que ela deixava, como poucas de nós, que a impregnasse ostensivamente.
Fica a homenagem do meu grupo parlamentar, a expressão do nosso pesar ao Graal e o meu profundo reconhecimento pessoal.

O Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado Jerónimo de Sousa.

O Sr. Jerónimo de Sousa (PCP): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: Permitam-me que, em nome do Grupo Parlamentar do PCP, subscreva o voto de homenagem e de pesar pela morte de Maria de Lourdes Pintasilgo.
As palavras ajustadas já foram ditas, sobre o seu papel, sobre o seu percurso, sobre o facto de ter sido a primeira mulher que, em 1979, nos obrigou a um tratamento novo na Assembleia da República, ao dizermos, até com alguma dificuldade, "Sr.ª Primeira-Ministra", com todo o valor simbólico que isso tinha para a causa da igualdade e da emancipação da mulher, porque era mulher e porque era progressista.
Num percurso fascinante a nível nacional e internacional, o que marcou a sua vida foi Abril, as suas causas e valores, os seus anseios, a sua participação activa no plano político, no exercício da cidadania, na busca de um País e de um mundo socialmente mais justos, onde a paz prevalecesse, onde a mulher tivesse um papel e um lugar que acabará por ter na sociedade futura.
Num tempo de inquietações, de desigualdades e injustiças, num tempo de inseguranças e precariedades, num tempo em que prevalecem os valores do egoísmo, do individualismo e do "salve-se quem puder", do dobrar dos servis aos poderosos e ao lucro desmedido, Maria de Lourdes Pintasilgo fez uma opção: ficou do lado de Abril, do lado dos seus ideais libertadores e emancipadores, do lado dos que menos têm e dos que menos podem.
Essa é a razão funda e principal do voto e da homenagem da bancada do Partido Comunista Português.

O Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado Alberto Martins.

O Sr. Alberto Martins (PS): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: Maria de Lourdes Pintasilgo foi uma personalidade excepcional, um dos raros portugueses que cruzou o seu destino pessoal com o nosso destino colectivo.
Primeira mulher a ser Primeira-Ministra de Portugal, procurou radicar na consciência colectiva a ideia simples de que a inumanidade do poder é filha da abdicação, por ignorância ou inconsciência, dos detentores dos poderes efectivos de uma sociedade: pessoas, grupos, associações, comunidades.
"A política é de todos e de todos os dias", disse-o num dos traços rutilantes a que deu vida e projecto, sempre a perseguir a ideia referencial e solidária de que à liberdade não basta a liberdade, é preciso criar as condições para o seu exercício efectivo.
Como nos diz Eduardo Lourenço, "na segunda metade do século XX, e em particular a partir do 25 de Abril, ninguém encarnou e encarna melhor a presença da mulher, sujeito de vocação e acção políticas num sentido lato e sobretudo novo, porque ser quem é e ser mulher (…)". É o caso de Maria de Lourdes Pintasilgo."
Inteligência fulgurante, Maria de Lourdes Pintassilgo foi uma mulher de fé, de carácter, de "antes

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