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1392 | I Série - Número 033 | 24 de Junho de 2005

 

O Sr. Presidente (Manuel Alegre): - Srs. Deputados, vamos entrar no período regimental de votações.
Antes de mais, vamos proceder à verificação do quórum, utilizando o cartão electrónico.

Pausa.

Srs. Deputados, o quadro electrónico regista 133 presenças, pelo que temos quórum para proceder às votações.
Em primeiro lugar, dou a palavra ao Sr. Secretário para proceder à leitura do voto n.º 16/X - De pesar pelo falecimento do Dr. Mário Corino de Andrade.
Tem a palavra, Sr. Secretário.

O Sr. Secretário (Fernando Santos Pereira): - Sr. Presidente e Srs. Deputados, o voto é do seguinte teor:

Poucos dias após ter completado 99 anos de idade, faleceu, no passado dia 16 de Junho, o Dr. Mário Corino de Andrade, um dos maiores vultos da ciência em Portugal.
Homem de inteligência notável, investigador perseverante, mas também neurologista emérito, o Dr. Corino de Andrade constituiu um alto exemplo de devoção humana e de coragem cívica.
Nascido no Alentejo, a 10 de Junho de 1906, o Dr. Corino de Andrade, após a licenciatura em Medicina e Cirurgia, trabalhou no Laboratório de Neuropatologia da Faculdade de Medicina de Estrasburgo - onde obteve o Prémio Déjerine -, regressando a Portugal no final dos anos 30 e radicando-se desde então na cidade do Porto.
Neurologista no Hospital de Santo António a partir de 1938, o Dr. Corino de Andrade fundou e dirigiu o serviço de neurologia daquele estabelecimento hospitalar, tendo-se distinguido ainda como professor de Biomédicas, ao formar, ao longo de décadas, gerações de médicos e cientistas portugueses.
Esteve na origem da fundação do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar, espaço de convivência de ciências que contribuiu notavelmente para o prestígio científico da academia nacional e, em particular, da Universidade do Porto.
A sua capacidade de observação permitiu-lhe descobrir em 1939 "algo de novo" numa doente que tinha uma história clínica que não se enquadrava em nada do que se conhecia e estava descrito até aí. Publicou o resumo das suas investigações em 1954 na revista científica Brain.
As suas descobertas enquanto cientista, em particular a da identificação da polineuropatia amiloidótica familiar (PAF), doença genética mais conhecida como paramiloidose, doença dos pezinhos ou mesmo doença de Andrade, não resultaram somente de um natural desejo do cientista: conhecer mais os mistérios do ser.
Essas descobertas foram despertadas pela angústia que a um espírito genial causou o sofrimento humano.
Corino de Andrade notabiliza-se ao tipificar cientificamente a paramiloidose, apercebendo-se também de que essa grave doença neurológica tem transmissão familiar e que, por infeliz circunstância, acompanha, de um modo geral, o movimento geográfico da diáspora lusitana.
Veio a trabalhar mais tarde, na sequência de deslocação aos Açores, numa outra doença neurológica - a doença de Machado Joseph.
Desenvolveu actividade política de oposição ao Estado Novo, integrando um grupo de cientistas do Porto, encabeçado pelo Prof. Abel Salazar, que intervinha civicamente, o que lhe valeu a perseguição da polícia política do regime.
Costumava dizer, aliás, que tinha vivido os tempos da I e da II Grandes Guerras, tinha escapado ao nazismo, mas não tinha escapado à polícia política. Tirara, no entanto, muito proveitos da prisão, porque os meses que lá passara serviram-lhe para muita informação e muita reflexão.
Durante a sua vida, foi distinguido com o Grau de Grande Oficial da Ordem Militar de Santiago de Espada (1979), a Grã-Cruz da Ordem de Mérito (1990), o Grande Prémio da Fundação Oriente de Ciência e o Prémio Excelência de uma Vida e Obra da Fundação Glaxo Wellcome.
A relevância e o prestígio do seu nome deram origem à criação, pela Secção Regional do Norte da Ordem dos Médicos, de um prémio destinado a distinguir instituições ou personalidades não médicas que tenham prestado serviços de grande relevância à Medicina.
Corino de Andrade é de há muito uma indiscutível referência para a comunidade científica mundial.
Importa que seja, também, para os portugueses, o exemplo do muito que a inteligência nacional pode dar para o progresso e elevação da humanidade.
Daí a homenagem que esta Câmara presta ao grande português que foi Mário Corino de Andrade.
À sua família e à Universidade do Porto, a Assembleia da República apresenta as sentidas condolências.

O Sr. Presidente (Manuel Alegre): - Gostaria de informar a Câmara que o voto n.º 16/X, que resultou de uma síntese de dois votos, um apresentado pelo PS e outro pelo PSD, é subscrito por todos os grupos parlamentares, a que se junta, evidentemente, a Mesa.
Vamos votá-lo.

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