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5390 | I Série - Número 117 | 27 de Abril de 2006

 

e com gente analfabeta. Isto mesmo nos descreve D. António quando conta como, em Roma, quando entra num banco para cambiar moeda portuguesa, o funcionário olha as notas com desdém e nega a operação, por a mesma não ter interesse.
Então, a sociedade via em Salazar, no início da carreira, alguém com competência profissional para melhorar a vida dos portugueses e reabilitar a imagem de Portugal perante o estrangeiro, reconhecendo inteligência e respeito pela sua personalidade. Porém, decorrido tempo, a esperança deu lugar à decepção e D. António manifesta profunda discordância da política praticada em particular sobre os problemas sociais, fazendo, então, uma análise crítica ao discurso de Salazar, alinhando oposições que fazem esvaziar o conteúdo do mesmo.
Mais diz na sua carta: "Não posso contudo furtar-me a pensar que o esquema mental que se adopta e segue é inteiramente inadequado", assumindo de maneira muito clara e objectiva um desfasamento profundo com o pensar de Oliveira Salazar".
Termina a carta com quatro perguntas sobre as relações políticas do Estado e dos católicos e, logo a seguir, escreve: "Apenas sugiro e peço, mas isso com toda a nitidez e firmeza, o respeito, a liberdade e a não discriminação devidos ao cidadão honesto em qualquer sociedade civil".
Porque teve a coragem de afrontar o pensamento do ditador, D. António foi castigado com o exílio durante 10 longos anos. Foi com Marcelo Caetano, que substituiu Salazar, que o bispo do Porto regressou a Portugal e retomou o seu lugar na Diocese do Porto.
Aos 75 anos, resigna ao cargo de bispo, o que é aceite pela Santa Sé. Morre em 13 de Abril de 1989 e está sepultado no cemitério paroquial da sua naturalidade. A sepultura é encimada por uma cruz, tendo, no centro, uma rosa, símbolo da aspiração cristã da beleza e do amor, como fez questão de determinar no seu testamento.
D. António Ferreira Gomes notabilizou-se não só como bispo da igreja católica mas, também, como profundo pensador da democracia portuguesa do século XX. Fez oposição política a António Salazar com clarividência, firmeza e coragem pouco comuns naquela época.
Mário Soares, Presidente da República aquando da morte de D. António, a ele se referiu com estas palavras: "Austero, independente, vertical, dominado pelas responsabilidades espirituais, com uma coerência e densidade de pensamento verdadeiramente impressionantes".
Também Sophia de Mello Breyner escreveu num dos seus poemas sobre D. António: "Fortaleza era o homem - o Bispo / Alto e direito firme como uma torre / Ao fundo da grande sala clara: fortaleza / De sabedoria e sapiência / De compaixão e justiça / De inteligência a tudo atento / E na face austera por vezes ao de leve o sorriso / inconsutil da antiga infância".
Em 10 Maio de 2006 comemora-se o centenário do seu nascimento. A Diocese do Porto, a Fundação Spes, a Fundação Eng.º António de Almeida e o Instituto Cultural D. António Ferreira Gomes iniciaram um ano de comemorações, onde constam as seguintes iniciativas: jornal falado sobre o bispo, pela companhia de teatro Seiva Trupe; lançamento de uma fotobiografia; lançamento de duas traduções (italiano e francês) das cartas de D. António dirigidas ao Papa João Paulo II; peça de teatro sobre a personalidade do bispo, pela companhia de teatro Seiva Trupe; congresso internacional sobre filologia e filosofia, em torno do pensamento filosófico de D. António.
A vida e obra de D. António são das mais destacáveis no Portugal do século XX. Como tal, aproximando-se o centenário do seu nascimento, deverá, a meu ver, o Governo, através do Ministério da Cultura, divulgar da forma mais adequada a figura deste ilustre português.

Aplausos do PS.

O Sr. Presidente (António Filipe): - Também para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Pedro Quartin Graça.

O Sr. Pedro Quartin Graça (PSD): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: Foi em 26 de Abril de 1986, faz hoje precisamente 20 anos, que ocorreu o grave acidente nuclear na central de Chernobyl, em Kiev, na Ucrânia.
Tragédia provocada por falha humana e de consequências que ainda hoje perduram, um estudo publicado no passado dia 21 de Abril pelo Centro Internacional de Pesquisas sobre o Cancro, da Organização Mundial de Saúde, estima em 16 000 o número de cancros da tiróide e 25 000 de outro tipo, que irão surgir na Europa até 2065, sendo que estes darão origem a mais de 20 000 mortes directamente ligadas a Chernobyl, ou seja, quatro vezes mais do que o número de mortes antes calculado para o velho continente devido à nuvem radioactiva.
Sendo certo que a maior parte das mortes respeitará às populações mais directamente expostas, seguro é também que vastas populações da Ucrânia, da Bielorrússia e da Federação Russa foram afectadas. Mas também os países da Europa Ocidental, desde a França à Irlanda, o foram. Na verdade, e de acordo com dados de Abril deste ano da Agência Internacional para a Pesquisa do Cancro, calcula-se que sejam 570 milhões os europeus atingidos pela nuvem radioactiva de Chernobyl.
Ao evocar, hoje, Chernobyl, pretendemos, antes de mais, prestar homenagem a todas as vítimas da

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