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10 DE DEZEMBRO DE 2011

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Nasceu a 13 de Outubro de 1911 em Santiago do Cacém. Ali passou parte da sua adolescência e começou

a escrever, às escondidas, os seus primeiros poemas, que só não ficaram desconhecidos porque um familiar,

em boa hora, os fez publicar num jornal local.

Tendo nascido no seio de uma família da pequena-média burguesia, onde as raízes camponesas e

operárias convergiam com ligações às artes e à cultura, Manuel da Fonseca encontrou nas casas dos avós

maternos e paternos o primeiro contacto com os livros, descobrindo na biblioteca do avô paterno obras de

Garrett, Victor Hugo, Zola, Eça e mesmo O Capital, de Marx.

Em Lisboa, para onde partiria em 1923, frequentou o Liceu Camões e fez amigos, coisa que nele era

simples e natural, tamanha era a sua capacidade de, com uma postura sempre franca e leal, semear e colher

a amizade.

Na década de 30, a par dos diversos empregos e profissões que foi assumindo, Manuel da Fonseca

conviveu com muitos outros jovens que viriam a ter presença destacada na vida política e cultural, entre eles

Keil do Amaral, Maria Keil, Mário Dionísio, Alves Redol, Ferreira de Castro, Bento de Jesus Caraça, Armindo

Rodrigues e Manuel Ribeiro de Pavia. Pessoas que, diria mais tarde, tiveram sobre si uma grande influência

porque, como explicou, «um homem que tem uma ideia, que a cultiva e que descobre os seus limites,

descobrindo até para lá das possibilidades, convive e tem sempre um camarada extraordinário com o qual

pode até não estar de acordo, mas é esse o sentido de liberdade que dá admirável eficácia à camaradagem».

Do seu primeiro livro de poemas Rosa dos Ventos, publicado em 1940, e tendo como cenário e referência

«a guerra de Espanha e a repressão do fascismo salazarista», pode dizer-se que é o primeiro grande

momento da poesia neo-realista.

No ano seguinte, integrado na poesia do Novo Cancioneiro, publica Planície e, em 1943, surgem os contos

de Aldeia Nova e o romance Cerromaior; 10 anos depois, o livro de contos O Fogo e as Cinzas e, como que a

fechar este ciclo, em 1958, é publicado Seara de Vento, romance que, logrando passar pelas malhas cerradas

da censura fascista, que desde logo o proibiu, foi lido por muitos milhares de portugueses. Também em 1958

são publicados os Poemas Completos, que virão, mais tarde, a englobar a Obra Poética.

A partir dos anos 60, Manuel da Fonseca contar-nos-á Lisboa — e disso são exemplo livros como O Anjo

no Trapézio e Tempo de Solidão. Mas o espaço preferencial da maior parte da obra de Manuel da Fonseca,

quer em poesia quer em prosa, é essencialmente o Alentejo, tendo como protagonista principal o povo

alentejano na sua luta.

É do Alentejo que Manuel da Fonseca nos fala como nenhum outro escritor o fez, do Alentejo do latifúndio

opressor e explorador, dos grandes agrários suporte do regime fascista, do trabalho de sol-a-sol, do

desemprego em parte grande do ano, das jornas de miséria, da repressão brutal, das prisões, dos

assassinatos.

Expoente maior do neo-realismo português, Manuel da Fonseca fez da sua obra literária instrumento de

luta contra o fascismo e parte integrante da luta de massas, constituindo as suas obras expressões dos

anseios e aspirações dos trabalhadores e do povo.

Assumindo uma inequívoca posição antifascista e uma clara opção pelo socialismo e pelo comunismo,

torna-se militante do PCP nos anos 40, na sequência dos contactos já existentes desde os anos 30 e do

convívio com outros intelectuais comunistas, designadamente Soeiro Pereira Gomes e Alves Redol.

Tendo participado em inúmeras manifestações de actividade antifascista, como os célebres passeios no

Tejo organizados por Alves Redol e Dias Lourenço, protagonizados por destacados intelectuais militantes e

simpatizantes comunistas, Manuel da Fonseca aderiu em 1945 ao MUD (Movimento de Unidade

Democrática), tendo participado em 1947 na Comissão Distrital do MUD de Lisboa e apoiado, em 1949, a

candidatura de Norton de Matos à Presidência da República.

Integrou, em 1951, o Comité Nacional da Defesa da Paz e viria a apoiar, em 1958, as candidaturas à

Presidência da República de Arlindo Vicente e, na sequência da desistência deste, de Humberto Delgado.

Viria ainda a aderir, em 1969, à CDE (Comissão Democrática Eleitoral), durante a campanha para a eleição de

Deputados.

Em 1965, Manuel da Fonseca viria a sofrer na pele a brutalidade da polícia política do regime fascista. Era,

então, Presidente da Sociedade Portuguesa de Escritores e teve a ousadia de, em 1964, atribuir o Grande

Prémio da Novelística a Luandino Vieira, militante do MPLA, na altura preso no Tarrafal.

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