I SÉRIE — NÚMERO 82
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O Sr. Deputado falou do Europarque, desse negócio do tempo dos governos Cavaco Silva, que agora o
Estado está a pagar.
Há o problema da Lusoponte, em que já se percebeu que, seja como for, a Lusoponte ganha sempre, com
o contrato que assinou e com as benesses e as facilidades que cada governo lhe dá, incluindo o Governo
atual.
Há o problema do BPN, em que o governo do PS, com o apoio de muitas bancadas, acabou por não
nacionalizar a SLN (Sociedade Lusa de Negócios), deixando de fora os ativos que podiam compensar o
buraco do BPN.
Há o problema da Fertagus, em que o investimento do Estado foi muito forte e em que os lucros estão
sempre garantidos para a empresa que explora essa travessia ferroviária e que tem preços bastante altos para
os utentes que necessitam daquele transporte.
Há as parcerias público-privadas da saúde, onde o Grupo Mello teve a gestão desastrada e ruinosa para o
Estado do Hospital Amadora-Sintra e que agora é recompensado com outros hospitais, em parceria público-
privada, no valor de centenas de milhões de euros à custa do erário público.
É por isso que este País, com esta política do pacto de agressão que este Governo, com o apoio do PS, no
fundamental, continua a aplicar, é um País de duas velocidades: para aqueles que são ricos, que têm o poder
económico, continuam as benesses; para aqueles que cada vez mais sofrem as consequências desta política,
continuam os sacrifícios.
Isso é inaceitável e não pode continuar.
Aplausos do PCP.
A Sr.ª Presidente: — Tem a palavra o Sr. Deputado Pedro Filipe Soares para responder.
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Sr.ª Presidente, Sr. Deputado Bernardino Soares, muito obrigado pelas
perguntas que colocou.
Devo dizer-lhe que não queria trazer aqui o caso Lusoponte. Ficou ontem bem visível aos olhos de todo o
País como o próprio Primeiro-Ministro não conseguiu defender os dinheiros públicos e este Governo, afinal,
paga duas vezes à Lusoponte, quando corta duas vezes os subsídios aos portugueses. Não queria trazer aqui
esse tema porque sabemos que está afeto a um ex-Ministro de Cavaco Silva, Ferreira do Amaral, preferimos
trazer o caso do Europarque, curiosamente também gerido por um outro ex-Ministro de Cavaco Silva, Eduardo
Catroga.
Este caso do Europarque é paradigmático, porque diz muito como este Governo e o governo de Cavaco
Silva olharam para as associações empresariais: a AEP endividou-se para construir um «elefante branco»,
com o qual nunca conseguiu promover nenhum dos objetivos que tinham dito serem essenciais para o País —
nem um!
No entanto, o Estado tornou-se o avalista deste investimento. A AEP não cumpriu com os seus
compromissos, fez um calote e o Estado, com o dinheiro de todos nós, foi pagar-lhe esse calote.
Mas — pasme-se! —, depois de tudo isto, depois de o Estado pagar, é ainda a AEP que continua a gerir,
como se nada se tivesse passado.
Este é o exemplo de um Estado que, afinal, olha de uma maneira para uns, mas olha para aqueles, muito
poucos, que detêm o poder empresarial, em Portugal, de uma maneira totalmente diferente. E, a esses, não se
pede responsabilidades.
Senão, vejamos: por exemplo, a quem trabalha e aos pensionistas cortou-se, sem qualquer problema, dois
subsídios — o subsídio de férias e o subsídio de Natal. Mas alguém mexeu nas parcerias público-privadas,
alguém mexeu nessas taxas de rentabilidade fabulosas? Nem uma linha, neste sentido! Cortar aos
portugueses que trabalham, corta-se facilmente; mexer nas parcerias público-privadas não se mexe, não se
faz sequer um cêntimo nessa renegociação.
É por isso necessário que haja justiça, porque os sacrifícios não podem bater sempre à mesma porta. E
aqueles que confiscam o salário aos portugueses não podem ficar calados e não renegociar aquelas parcerias
público-privadas que são vergonhosas para o País.