12 DE JUNHO DE 2014
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Sabe qual foi a última censura? Foi a do povo. O PS juntou o seu voto ao povo e censurou, mais uma vez,
o Governo. E não pense que é por termos divergências com o PCP, como, aliás, é natural — partidos com
programas diferentes têm divergências —, que deixaríamos de estar ao lado de uma posição clara que o
português sufragou nas eleições: censurar o Governo, e claramente.
O Sr. Deputado ouviu-nos sempre falar em renegociação da dívida, nunca nos ouviu falar em reestruturar a
dívida.
O Sr. Nuno Magalhães (CDS-PP): — Ah!…
O Sr. António Braga (PS): — Há uma diferença essencial: a renegociação da dívida tem a ver com
maturidade, tem a ver com prazos e tem a ver com juros, como o Sr. Deputado sabe muito bem.
O Sr. Nuno Magalhães (CDS-PP): — Foi um lapso!…
O Sr. António Braga (PS): — Se o Governo já alguma o fez, fê-lo mitigadamente e fez muito pouco.
Gostaríamos de ver um Governo empenhado, em sede própria, nomeadamente na Europa, a defender os
interesses de Portugal.
Aplausos do PS.
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Passando ao segundo grupo de pedidos de esclarecimento, tem a
palavra o Sr. Deputado Pedro Filipe Soares, do Bloco de Esquerda.
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Sr.ª Presidente, Sr. Deputado António Braga, devo dizer-lhe que a
discussão já vai longa, e até com algumas nuances, tendo introduzido nas suas diversas respostas e na sua
intervenção o tema do apodrecimento do regime democrático em Portugal, decorrente até das pressões que o
Governo e esta maioria têm feito sobre o Tribunal Constitucional.
Ora, face a essa reflexão, quero fazer-lhe algumas perguntas concretas que estão relacionadas com as
propostas que o Partido Socialista tem feito nesta matéria e nas quais parece-me haver alguma demagogia
«ao barulho» e alguma incoerência na ação e na proposta.
Por exemplo, o Sr. Deputado diz que defende uma maior democracia, um maior respeito pelas instituições
democráticas — entenda-se, um maior respeito até por esta casa da democracia, a Assembleia da República.
Contudo, qual não é o nosso espanto quando, depois de todas essas juras de amor, vemos que entre as
propostas recentemente apresentadas pelo Partido Socialista, e pelo seu atual Secretário-Geral, está a
redução do número de Deputados, como se o número de Deputados fosse um problema da democracia, como
se Portugal não tivesse já, neste momento, o menor rácio da Europa Ocidental de Deputados por número de
habitantes.
Não faz sentido, Sr. Deputado! A não ser que seja para ter uma agenda populista e, assim, tentar um
negócio com a maioria, porque é desses negócios com a maioria que a história democrática se vai fazendo.
Essa era uma proposta de um pacote de várias, onde estava incluída também uma maior fiscalização e o
reforço da incompatibilidade do desempenho da função de Deputado com a realização de outras atividades.
Ora, pela voz do Sr. Deputado José Magalhães, a bancada do Partido Socialista, quando o Bloco de
Esquerda defendeu, nesta Casa, que devia haver um regime de exclusividade para os Deputados, disse:
«Não, não! Nem pensar nisso! Podemos discutir no futuro, mas agora nem pensar nisso».
Nem passou um mês e o PS já vem dizer que é necessário haver um reforço das incompatibilidades,
quando votou exatamente contra isso. Porquê, Sr. Deputado? Afinal, para esses negócios já pretende
entender-se com a direita ou há uma mudança da bitola do PS sobre esta matéria? É que entre o mel e o fel
que os discursos da direita têm percebemos que o «centrão» dos poderes instalados em Portugal tenta
governar sempre, e esse é o «centrão» do tratado orçamental. E o Partido Socialista assinou a garantia de
execução do tratado orçamental, que é exatamente o que está em causa.
Quando falamos de Constituição, quando falamos de regime democrático, falamos de como o tratado
orçamental está a afrontar quer o regime democrático quer a Constituição, e sobre essa matéria não pode
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