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11 DE ABRIL DE 2015

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Manuel Cândido Pinto de Oliveira nasceu a 11 de dezembro de 1908, na freguesia de Cedofeita, no Porto,

13 anos depois dos irmãos Lumière terem inventado o cinema.

Foi o seu pai que o fez descobrir os filmes de Charlie Chaplin e de Marx Linder e, mais tarde, lhe permitiu

adquirir, aos 18 anos, a sua primeira câmara de filmar.

É com ela que, em 1931, realiza o seu primeiro documentário, ainda mudo, sobre os trabalhadores da zona

ribeirinha da sua cidade natal Douro, Faina Fluvial.

Esta primeira obra é exibida no V Congresso Internacional da Crítica, em Lisboa, em setembro de 1931,

onde foi recebida com uma enorme ‘pateada’. Manoel de Oliveira é então acusado ‘de dar a ver a estrangeiros

gente descalça, rota e de triste condição’. Mas entre os ditos estrangeiros estava o grande dramaturgo italiano

Luigi Pirandello e o crítico francês Émile Vuillermoz que, pelo contrário, admiram a mestria do jovem cineasta.

Pirandello chega mesmo a dizer, a ironizar à saída, que não sabia que em Portugal se aplaudia com os pés.

Esta estreia é de certo modo premonitória da duplicidade que, como bem escreve o crítico Sérgio Andrade,

acompanhará toda a carreira do realizador: «a desatenção e até algum desprezo por parte das plateias em

Portugal, o aplauso e a progressiva reverência no estrangeiro, principalmente em França e em Itália».

Com 20 anos, Manoel de Oliveira inscreve-se na Escola de Atores de Cinema, fundada por Rino Lupi,

tendo, em 1933, participado como ator em A Canção de Lisboa, de Cottinelli Telmo, um dos primeiros filmes

sonoros portugueses.

Se desde muito cedo o cinema se impõe quase como uma inevitabilidade ao jovem boémio Manoel

Oliveira, este distingue-se também como desportista, tendo sido campeão nacional de salto à vara, atleta do

Sport Club do Porto e corredor de automóveis.

Em 1942, Manoel de Oliveira filma a sua primeira longa-metragem Aniki Bobó, retrato da infância no

ambiente cru e pobre da Ribeira do Porto. O filme é um fracasso comercial em Portugal mas, mais uma vez,

atrai as atenções de comentadores internacionais, que consideram o realizador um percursor do neorrealismo

no cinema por relatar, com delicadeza e humor, o confronto das classes sociais presente até ao nível das

crianças. Aniki Bobó é hoje um dos filmes mais icónicos da sua carreira e do cinema português.

Nos inícios dos anos 60, o realizador consegue, finalmente, um apoio institucional para a produção de dois

filmes: o Acto da Primavera, em 1962, e A Caça, em 1963.

Após uma projeção do Acto da Primavera, registo pessoal e inesperado de uma representação popular da

Paixão de Cristo, Manoel de Oliveira é detido pela PIDE e passa 10 dias no Aljube.

São necessários quase 10 anos para que Manoel de Oliveira possa voltar a filmar, regressando à ficção

com o Passado e o Presente, uma sátira da sociedade burguesa portuguesa em 1971 e, a partir de 1975, o

ritmo com que filma acelera-se vertiginosamente, como que para recuperar as três décadas perdidas.

Manoel de Oliveira é o realizador da palavra, não só pela recorrente adaptação de romances de grandes

autores, com destaque para a colaboração com Agustina Bessa-Luís, mas também pela forma como a filma e

como lhe dá a primazia no grande palco da vida que é o cinema.

Ao todo realizou mais de 50 filmes, entre eles: Benilde ou a Virgem Mãe,Francisca, Non ou a Vã Glória de

Mandar, A Divina Comédia, ValeAbraão e, mais recentemente, O Estranho Caso de Angélica e O Gebo e a

Sombra.

Além do grupo de atores que lhe permaneceram fiéis e o acompanharam nos últimos 30 anos de carreira,

como Luís Miguel Cintra, Diogo Dória ou Leonor Silveira, entre muitos outros, Manoel de Oliveira trabalhou

com grandes figuras do cinema mundial, como Marcello Mastroianni, Catherine Deneuve, Michel Piccoli ou

John Malkovich.

Foi distinguido com os mais prestigiados prémios nacionais e internacionais, nomeadamente, com a Palma

de Ouro de Carreira no Festival Internacional de Cannes, na Bienal de Veneza com o Leão de Ouro, no

Festival de Cinema Ibero-Americano, nos Globos de Ouro da Associação da Imprensa Estrangeira em

Hollywood, no Festival de Montreal, no Festival Internacional do Cinema de Tóquio, no Festival de Cinema de

Berlim, no Fantasporto, no Festival Internacional da Figueira da Foz, entre muitos outros.

Ao longo da carreira recebeu várias condecorações, como seja, a de Comendador da Ordem Militar de

Sant’Iago da Espada, a Grã-Cruz da Ordem Militar de Sant’Iago da Espada, a Grã-Cruz da Ordem do Infante

D. Henrique, tendo sido a última a da Legião de Honra francesa, atribuída no ano passado.

Considerava que ‘o cinema, aliás como todas as artes, só serve para reproduzir a vida’. Por isso, durante

os 80 anos de carreira, Manoel de Oliveira procurou contar toda a complexidade da vida, onde se cruzam os

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