I SÉRIE — NÚMERO 15
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traduziram-se num inequívoco agravamento das condições de vida da população e num processo de
empobrecimento dos cidadãos com a criação de novas bolsas de pobreza. A incidência da pobreza registou
um agravamento de 8%, subindo de 17,9% para 26%, havendo uma descaracterização do modelo de Estado
social, tendendo a convertê-lo num estado de proteção minimalista supletivo da proteção privada».
Estas instituições da sociedade civil também fizeram a seguinte consideração: «A abordagem que existiu
foi uma abordagem marcada por uma ideologia ligada ao existencialismo, marcando um recuo inesperado no
ideário de cidadania social, reconhecida constitucionalmente a partir de 1976».
Para nós, como para estas instituições sociais, combater a pobreza é reforçar o estado social. Para o PSD
e para o CDS, combater a pobreza foi cortar o complemento solidário para idosos a 70 000 beneficiários e foi
cortar o rendimento social de inserção a 30 000 beneficiários, com uma consequência inédita em termos do
agravamento da pobreza infantil.
Para nós, Sr.as
e Srs. Deputados, combater a pobreza é criar emprego. Para o PSD e para o CDS, as
políticas ativas de emprego traduziram-se na perseguição aos desempregados como se fossem preguiçosos
que não querem trabalhar e que não têm o suficiente espírito empreendedor e traduziram-se na colocação de
milhares de desempregados, a custo zero, em IPSS (instituições particulares de solidariedade social), nos
serviços da administração local e central, por via de contratos emprego-inserção, tendo o efeito perverso de
ocupar ilegalmente postos de trabalho e de criar uma gigantesca bolsa de precariedade assistida pelo Estado.
Aplausos do BE.
Para nós, Sr.as
e Srs. Deputados, o Estado deve ser um garante de direitos e de dignidade. Para o PSD e
para o CDS, os protocolos de cooperação foram uma forma de privatizar os serviços de proteção social, como
fizeram também nas áreas da saúde e da educação.
Aliás, essa visão é resumida no próprio projeto de resolução com as três palavras que, para o PSD e para
o CDS, definem as funções do Estado: cofinanciador, supervisor e regulador.
É todo um Programa, é toda uma visão do mundo, é toda uma visão de quem, como os senhores, confunde
economia social com Isabel Jonet, confunde cidadania com caridade, confunde desenvolvimento com
empobrecimento.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Sr. Deputado, tem de terminar.
O Sr. José Moura Soeiro (BE): — Termino, Sr. Presidente.
Srs. Deputados do PSD e do CDS, se estão mesmo preocupados com o combate à pobreza e se querem
um consenso em torno do combate à pobreza, então, têm hoje uma grande oportunidade. Não se refugiem na
concertação social, nem sejam o eco de quem quer manter a pobreza assalariada. Defendam, aqui, hoje, o
aumento do salário mínimo. Têm essa oportunidade para defender o combate à pobreza, por isso seria bom
que não a desperdiçassem.
Aplausos do BE do PS.
A Sr.ª Clara Marques Mendes (PSD): — Já defendemos o combate à pobreza!
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Para uma intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Rita
Rato.
A Sr.ª Rita Rato (PCP): — Sr. Presidente e Srs. Deputados: Discutimos hoje um projeto de resolução do
PSD e do CDS-PP que tem como título «recomenda o reconhecimento e o reforço das entidades da economia
social». Srs. Deputados, o título deste projeto de resolução poderia ser «recomenda a desresponsabilização
do Estado nas funções sociais obrigatórias do próprio Estado e que estão consagradas na Constituição da
República Portuguesa».
Este projeto de resolução traduz, com a visão seguida e aprofundada pelo anterior Governo, a
desresponsabilização do Estado nos papéis fundamentais no combate à pobreza. Sabemos disso e tal