I SÉRIE — NÚMERO 23
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O Sr. Carlos Abreu Amorim (PSD): — Não é verdade!
O Sr. José Manuel Pureza (BE): — … com a oposição de todos os operadores judiciários e o fechamento
inaceitável à aprovação dos novos estatutos das magistraturas; défice crónico de funcionários judiciais, com a
aposentação de cerca de 400 só no último ano e um défice agregado que se prevê entre 1200 e 1700
funcionários judiciais.
Fúria demoníaca! Este é o legado do Governo da direita no sector da justiça, com o Estado de direito posto
gravemente em causa, com a democracia verdadeira gravemente lesada. Tem de ser este, Sr.as
e Srs.
Deputados, Sr.ª Ministra da Justiça, só pode ser este o ponto de partida para pensar, com um sentido
estratégico, o futuro do bem público justiça no nosso País e não um relatório do FMI, que, nesta matéria deve
ser tão certo quanto os estudos do FMI sobre multiplicadores automáticos.
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente: — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado José Luís Ferreira, de Os
Verdes.
O Sr. José Luís Ferreira (Os Verdes): — Sr. Presidente, Sr.ª Ministra da Justiça, Sr. Secretário de Estado
dos Assuntos Parlamentares, Sr.as
e Srs. Deputados: A justiça é um pilar absolutamente fundamental da nossa
democracia. É essencial num Estado de direito democrático.
E face à situação da justiça em Portugal, marcada sobretudo pela morosidade e onde inundam as
pendências processuais, exige-se que os Governo assumam como função — que, de resto, é sua — trabalhar
no sentido de construir um sistema de justiça mais célere, mais eficiente e, sobretudo, mais acessível aos
cidadãos.
E o que fez o Governo PSD/CDS nos últimos quatro anos? Fez exatamente o contrário.
Primeiro, aumentou as custas judiciais para que os cidadãos não recorram aos tribunais, negando, dessa
forma, o acesso ao direito à justiça, que é obrigação do Estado garantir, e, depois, encerrou dezenas de
tribunais, afastando ainda mais a justiça dos cidadãos.
Encerrou tribunais, desqualificou-os em meras extensões, concentrou valências judiciais nas capitais de
distrito e, sobretudo, afastou os cidadãos, ainda mais, da justiça, um direito que a nossa Constituição eleva
como direito fundamental.
O Governo PSD/CDS impôs um conjunto de critérios injustos com vista à redução de tribunais em muitas
localidades, sem ter sequer em conta o meio onde se insere cada um dos tribunais, as características
socioeconómicas e até a acessibilidade em termos de mobilidade das populações.
O resultado não podia ser outro: o agravamento das condições de acesso dos portugueses à justiça,
sobretudo daqueles que vivem com mais dificuldades económicas.
Com o encerramento dos tribunais que o Governo PSD/CDS protagonizou, o volume processual dos
tribunais encerrados foi transferido para outros tribunais que já na altura estavam completamente atulhados
em processos.
Mais, em muitos casos, o Governo PSD/CDS nem sequer respeitou os critérios que ele próprio definiu.
Referimo-nos, por exemplo, ao critério do volume processual inferior a 250 processos ou, ainda, ao critério do
tribunal que passou a receber os processos distar do tribunal de origem de um tempo inferior a uma hora. Ou
seja, o Governo PSD/CDS nem sequer respeitou os critérios que ele próprio definiu para o tal mapa judiciário.
Portanto, com essa decisão, o Governo PSD/CDS afastou ainda mais os cidadãos da justiça, sobretudo
nas regiões com mobilidade mais dificultada, e tornou a justiça mais cara, porque agora é também preciso
acrescentar os custos da deslocação. E como se fosse pouco, o Governo PSD/CDS ainda teimou em fazer
entrar em vigor o novo mapa judiciário sem ter acautelado o essencial, de forma a garantir o normal
funcionamento dos tribunais.
Como consequência, a entrada em vigor do mapa judiciário do anterior Governo representou uma
embrulhada sem paralelo na nossa História. Foi uma vergonha o que se passou, com o caos instalado na
justiça e com a paralisação dos tribunais.