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I SÉRIE — NÚMERO 56

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O argumento da transparência não tem credibilidade na boca dos corruptos. Falemos dos organizadores do

golpe: Michel Témer, atual Vice-Presidente e pretenso sucessor à presidência, é suspeito em investigações do

Lava Jato.

E chegamos então a Eduardo Cunha, pai do impeachment e Presidente da Câmara dos Deputados, réu no

Supremo Tribunal Federal no caso Lava Jato e em risco de perder o mandato, ele próprio, por ter mentido numa

comissão parlamentar de inquérito sobre contas escondidas no estrangeiro.

A verdade é que o processo de cassação do Presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, corre

muito mais lento do que correu o processo de impeachment de Dilma Rousseff.

O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — E não é coincidência!

A Sr.ª Joana Mortágua (BE): — Vamos ver se o agradecimento da direita brasileira a Eduardo Cunha pelo

impeachment a Dilma Rousseff não é a amnistia e a impunidade pelos crimes que cometeu.

Aplausos do BE.

No final de 72 horas de discussão na Câmara dos Deputados há uma pergunta que é obrigatória: o

impeachment resolve algum dos problemas de corrupção do Brasil? Não! Mas, a confirmar-se, o impeachment

é a vitória da corrupção. O impeachment é a vitória de um sistema iníquo e de uma direita conservadora que viu

uma oportunidade para assaltar o poder.

É verdade que o impeachment é um instrumento legal, mas as suas regras estão constitucionalmente

previstas. Quando as causas que o justificam são falsas, quando o seu motivo é político e não judicial, quando

falham as provas, quando se forjam os argumentos, então, estamos perante uma farsa, estamos perante um

puro golpe de oportunistas.

Para encobrir o nepotismo e proteger os seus próprios interesses, os golpistas não se limitaram a opor-se ao

Governo, atiraram à Constituição e, com ela, atiraram à democracia. Falta saber se os golpistas avançarão para

a revisão da Constituição de 1988, para a qual, afinal, basta apenas que uma maioria de Deputados se junte

pelos mesmos netos e pelas mesmas esposas.

O Bloco de Esquerda não vem hoje a esta Tribuna discutir governos, governantes ou as suas opções

políticas. Aqui, o Bloco de Esquerda levanta-se pela democracia, a par de tantos outros e de tantas outras

democratas, para lamentar que no Brasil…

O Sr. Presidente: — Sr.ª Deputada, já ultrapassou o seu tempo.

A Sr.ª Joana Mortágua (BE): — Termino, Sr. Presidente.

Dizia eu que o Bloco de Esquerda, aqui, levanta-se para lamentar que no Brasil um governo

democraticamente eleito possa cair não pelo voto dos eleitores mas às mãos de um golpe feito em nome de

interesses corrompidos e de corruptores.

Protestos de Deputados do PSD e do CDS-PP.

Aqueles que nos acusaram de ingerência por defendermos a democracia em Angola não tiveram pudores

em defender o golpe no Brasil.

O Sr. Presidente: — Peço-lhe que conclua, Sr.ª Deputada.

A Sr.ª Joana Mortágua (BE): — Por isso, e antes que a hipocrisia dos interesses nos perturbe a razão, aqui

estamos para lembrar que o papel dos democratas é defender a democracia, seja onde for e doa a quem doer.

Repito: nunca ninguém espere do Bloco o silêncio e a complacência sobre o privilégio e o abuso de poder.

A Sr.ª Cecília Meireles (CDS-PP): — Exceto se for o Lula!