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30 DE NOVEMBRO DE 2016

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regime autocrático, porque é que ele pode ser merecedor de uma maior condescendência do que o rigor e a

intransigência com que entendemos têm sempre de ser olhadas todas as ditaduras.

Quem acredita verdadeiramente na democracia, no primado das liberdades individuais, na liberdade de

expressão e reunião não pode aceitar que possa haver ditaduras boas e ditaduras más, pois, quando a vida

humana perde qualquer valor e a eliminação física dos adversários passa a ser uma prática rotineira, todas têm

de ser consideradas inaceitáveis, nenhuma pode ser tolerada.

Se toda a vida humana é sagrada, a do líder cubano também teria de o ser, pelo que só pode existir pesar

pelo seu falecimento, pesar por se ter perdido uma vida, mas também pesar porque, como sucedeu com Salazar,

Fidel Castro morreu sem nunca ter sido julgado pelas suas ações, de que foram vítimas milhares de cubanos.

Após Fidel Castro assumir o poder, o regime cubano foi responsável por mortes, intolerância política e

violações dos mais elementares direitos humanos. Ao invés de promover a liberdade, foi responsável por

constantes ataques à liberdade de imprensa, perseguindo, muitas vezes de forma atroz, opositores e

discordantes.

Fidel, o homem, já não será nunca julgado pelas suas iniquidades contra a liberdade, a liberdade de pensar

diferente, a liberdade de expressarmos a nossa opinião, a liberdade de sermos nós, a liberdade de sermos todos

iguais na diversidade.

Este ou outro qualquer voto de pesar pela morte de Fidel Castro, para ser coerente, teria também de lamentar

as mortes dos dissidentes, teria de lastimar o sofrimento das famílias dos condenados à morte e dos

desaparecidos, teria de chorar a pobreza e o sofrimento do povo cubano, teria de carpir a circunstância de este

autocrata, como muitos antes dele, se ter da vida libertado sem nunca ter sido confrontado, na justiça dos

homens, na vida terrena, com a hediondez de algumas das ações do seu regime.

Fidel Castro, no combate ao regime de Baptista, começou por aparentar ser um icónico revolucionário e um

apaixonante combatente pela liberdade, mas o regime que corporizou depressa mudou de rumo.

Enquanto humanistas e defensores dos direitos humanos e da liberdade, é importante denunciar quaisquer

tentativas de procurar branquear as consequências das ações do líder de um regime, autocrático, responsável

pela morte de milhares de pessoas e pela repressão de todo um povo.

Mas todos os que se recusam a ver o mundo a preto e branco, dividido entre bons e maus, apoiantes e

detratores, também sabem que os homens e os regimes não se podem confundir com os povos.

É que um povo como o cubano, que soube transformar a necessidade em engenho, que soube sempre

manter a alegria de viver, que, apesar da escassez de meios, se destacou em tantas áreas do saber e no

desporto, tem de ser um povo extraordinário, como tal, plenamente merecedor do nosso respeito, da nossa

solidariedade, amizade e estima.

Os Deputados do PSD, Álvaro Batista — Fátima Ramos.

––––

Os Deputados do PSD votaram contra os votos de pesar n.º 158/XIII (2.ª) e n.º 159/XIII (2.ª) apesar de não

desejarem, nem celebrarem a morte de ninguém, mas por entenderem que estes documentos contêm temas

políticos associados a uma personalidade que foi responsável por inúmeras mortes e prisões, branqueando

assim toda uma realidade vivida pelo povo cubano.

Os Deputados do PSD não podem pactuar contra uma tentativa de branqueamento de crimes cometidos

contra inocentes, que originaram milhares de mortos e presos políticos durante o período do regime de Fidel

Castro.

Os Deputados do PSD não podem deixar de manifestar a sua solidariedade por todo um povo que sofreu às

mãos de um regime ditatorial e repressor. Fidel Castro matou adversários políticos, calou a oposição e suprimiu

a liberdade de expressão, de associação e de reunião, forçando milhares de cubanos ao exilio.

Nos anos da ditadura estima-se em que entre 15 000 a 17 000 pessoas foram executadas. Em 1986,

estimava-se ser de 12 000 a 15 000 o número de prisioneiros políticos encarcerados em prisões regionais por

toda a ilha.

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