I SÉRIE — NÚMERO 24
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Fidel tem também a seu crédito os feitos históricos que tornaram a revolução cubana num referencial para
as lutas dos povos na América Latina e não só.
Cuba foi o David que derrotou Golias, a miséria endémica suplantada por índices de desenvolvimento
humano sem paralelo na América Latina, que extinguiu o analfabetismo e realizou prodígios na ciência e na
saúde. Na viragem do século, enfrentou as gigantescas consequências da restauração capitalista na Rússia e
na China sem capitular sob a pressão do imperialismo.
Fidel Castro, nos seus erros e nos seus feitos, foi um grande estadista cubano e assim será recordado. Na
hora do seu desaparecimento, o Bloco de Esquerda saúda a sua memória e solidariza-se, uma vez mais, com
o povo de Cuba independente.
As Deputadas e os Deputados do Bloco de Esquerda.
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No passado dia 29 de novembro, os Grupos Parlamentares do PCP e do PS apresentaram, cada um, um
voto de pesar pela morte do ex-Presidente de Cuba, Fidel Castro.
Não obstante o CDS reconhecer que a perda de uma vida humana é sempre um momento de profunda
consternação e de tristeza, sobretudo para os familiares, amigos e, neste caso concreto, para os admiradores e
apoiantes do falecido, entende que a apresentação de um voto de pesar, para além de ser uma expressão de
condolências, representa uma evocação dos méritos de uma vida.
Nesse sentido, o CDS lamenta a morte de qualquer ser humano. Porém, considera que não é possível render
homenagem a uma figura como Fidel Castro, que fez da tirania, da opressão e da violência a base de
consolidação do seu poder, encarando todos aqueles que não seguiram os seus ditames como alvo de
repressão e perseguição.
O CDS votou, por isso, contra o texto aduzido pelo PCP. Desde logo, porque não partilha da leitura que o
PCP faz do legado de Fidel Castro, nem acompanha o carácter laudatório e apologético do seu texto. O PCP,
através do seu voto, glorifica o seu percurso e mitifica o seu legado, omitindo deliberadamente a natureza
autoritária e opressiva do regime, que chefiou por mais de meio século. Para o CDS, existe uma contradição
gritante entre o mito e a realidade. Fidel Castro liderou um regime que manteve o país na miséria moral e
material, cerceou qualquer espécie de liberdade, silenciou a oposição, prendeu ou forçou ao exílio os que o
combatiam. A perda desses argumentos revela que o texto tem uma função vincadamente identitária e ideológica
de fazer com que a história o absolva.
Relativamente ao voto apresentado pelo PS, o CDS-PP seguiu a mesma orientação de voto, não o tendo
acompanhado. Embora considere que o texto do PS reflete um tom mais moderado do que o anterior, o seu
conteúdo incide no mesmo erro acima descrito ao apresentar apenas um lado de Fidel Castro, e distanciando-
se de uma interpretação rigorosa do regime e do seu legado, como se de um ditador não se tratasse.
Para além disso, o texto traduz a mesma referência, também mencionada pelo voto do PCP, que identifica
Fidel Castro como promotor da paz. Como é sabido, o regime cubano exportou a guerra em múltiplas
intervenções na América Latina, no Médio Oriente e em África, onde o caso de Angola é o mais próximo dos
portugueses.
Posto isto, o CDS renova o seu compromisso com a posição assumida por Portugal a favor da manutenção
de canais abertos de diálogo político-diplomático com Havana, quer no plano bilateral quer no quadro multilateral
(UE), como deseja a todos os cubanos uma transição rápida e pacífica para a democracia.
Os Deputados do CDS-PP, Nuno Magalhães — Assunção Cristas — Telmo Correia — Cecília Meireles —
Hélder Amaral — João Pinho de Almeida — João Rebelo — Isabel Galriça Neto —Filipe Lobo d’Ávila — Teresa
Caeiro — Vânia Dias da Silva — Patrícia Fonseca — António Carlos Monteiro — Pedro Mota Soares — Álvaro
Castello-Branco — Ana Rita Bessa — Filipe Anacoreta Correia — Ilda Araújo Novo.
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