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I SÉRIE — NÚMERO 66

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O início da intervenção militar saudita no Iémen coincide com uma altura em que, de acordo com um ex-

conselheiro da ONU para o conflito interno no Iémen, havia conversações bem encaminhadas para garantir

entendimento entre as partes e dar maior estabilidade ao país, até ao momento em que, a pretexto de um ataque

com mísseis, a coligação árabe, liderada pela Arábia Saudita, decidiu intervir militarmente de forma vigorosa e

desproporcionada, atacando forças governamentais e os seus aliados Houtis, que contam com o apoio do Irão,

levando assim as duas potências regionais a confrontarem-se em solo alheio numa guerra por procuração em

que as principais vítimas têm sido o Iémen e os iemenitas.

A verdade é que, desde então, e tendo como pano de fundo o conflito ancestral entre sunitas e shiitas, as

forças militares da coligação liderada pela Arábia Saudita tem feito inúmeros bombardeamentos, 38 dos quais

a infraestruturas, incluindo escolas e hospitais onde, de acordo com dados das Nações Unidas, já terão morrido

mais de 8000 pessoas, entre elas mais de 600 crianças, e originado mais de 2 milhões de deslocados, num país

imensamente frágil, um dos mais pobres do Médio Oriente.

É neste contexto que as forças iémenitas e as milícias Houtis suas aliadas têm sido particularmente atingidas,

facilitanto assim também o reforço das correntes radicais associadas à Alqaeda. De referir que as milícias Houtis

têm sido inimigos acérrimos da Alqaeda na Península Arábica.

Inclusivamente, uma Resolução do Parlamento Europeu de novembro de 2017, no seu ponto 2, além de

condenar «fortemente» os ataques liderados pela Arábia Saudita em território iémenita, «sugere que as Nações

Unidas elaborem um relatório rigoroso sobre as relações militares entre a liderança militar da Arábia Saudita e

as organizações terroristas no Iémen».

É por estes e outros argumentos atrás descritos que qualquer abordagem à situação que opõe forças

iemenitas e sauditas têm de ser feita de uma forma equilibrada, sem pretender ilibar ou esconder as

responsabilidades de quem efetivamente as tem. Daí que o Grupo Parlamentar do PS não pudesse deixar

passar sem uma justificação e clarificação o voto n.º 505/XIII (3.ª), do PSD, pela sua natureza simplista e

redutora relativamente a uma realidade dramática, em que as principais vítimas não são os sauditas mas, sim,

as populações que vivem no Iémen.

Os Deputados do Grupo Parlamentar do PS, Carlos César — Ana Catarina Mendes Mendonça — Carlos

Pereira — Filipe Neto Brandão — Ivan Gonçalves — João Torres — João Galamba — João Paulo Correia —

Lara Martinho — Pedro Delgado Alves — Susana Amador — Paulo Pisco.

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O voto apresentado pelo PSD ficará registado como um dos piores exemplos de manipulação e

desinformação dos últimos tempos. O voto do PSD oculta por completo que no Iémen existe um conflito militar

e que os acontecimentos se desenrolam num contexto de guerra. Guerra essa que dura desde 2014, com uma

brutal intervenção externa da Arábia Saudita que sempre olhou para o Iémen como uma sua colónia. Uma guerra

que já matou dezenas de milhares de civis, nomeadamente em raides aéreos sauditas e dos EUA contra

populações civis e infraestruturas como mercados e hospitais.

É digno de registo que o voto do PSD ignore inclusivamente as afirmações da Organização das Nações

Unidas que consideram que a situação no Iémen é uma das mais graves situações humanitárias do Mundo,

onde doenças como a cólera alastram a partes muito significativas daquela população e a fome ceifa a vida a

milhares de crianças. Os crimes da chamada «coligação» chefiada pela Arábia Saudita e que conta com o apoio

de potências ocidentais não mereceram do PSD nem um registo.

Com este voto, o PSD coloca-se ao lado de quantos, como Trump e Bolton, a Arábia Saudita e o governo

israelita, se esforçam por inflamar ainda mais a tragédia no Médio Oriente, tragédia que é indissociável de um

quarto de século de guerras, agressões e mentiras das potências ocidentais.

É por isso, para lá de um voto parcial e hipócrita, um ato de irresponsabilidade. Daí o voto contra do PCP

Os Deputados do PCP, João Oliveira — António Filipe.

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