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Quinta-feira, 26 de abril de 2018 I Série — Número 76

XIII LEGISLATURA 3.ª SESSÃO LEGISLATIVA (2017-2018)

REUNIÃOPLENÁRIADE24DEABRILDE 2018

Presidente: Ex.mo Sr. Eduardo Luís Barreto Ferro Rodrigues

Secretários: Ex.mos Srs. Pedro Filipe dos Santos Alves Idália Maria Marques Salvador Serrão António Carlos Bivar Branco de Penha Monteiro Sandra Maria Pereira Pontedeira

S U M Á R I O

O Presidente declarou aberta a sessão às 10 horas e 5

minutos. No âmbito de um debate sobre o Programa de

Estabilidade 2018-2022 e o Programa Nacional de Reformas, foram apreciados os projetos de resolução n.os 1511/XIII (3.ª) — Programa de Estabilidade 2018-2022 e Plano Nacional de Reformas (CDS-PP), 1513/XIII (3.ª) — Recomenda ao Governo que o Programa de Estabilidade e a execução orçamental respeitem os limites do défice fixados na aprovação do Orçamento do Estado para 2018 e que sejam devolvidas à sociedade as folgas orçamentais registadas (BE), 1517/XIII (3.ª) — Recomenda ao Governo que, no âmbito do Programa Nacional de Reformas, adote um conjunto de medidas que permitam colocar Portugal numa trajetória sustentada de crescimento económico e emprego (CDS-PP), 1518/XIII (3.ª) — Por uma alternativa de mais crescimento e melhor Estado (PSD) e 1514/XIII (3.ª) — Pela afirmação do direito soberano de Portugal decidir do seu

futuro e pela resposta aos problemas do País (PCP). Usaram da palavra, a diverso título, além do Ministro do Planeamento e das Infraestruturas (Pedro Jesus Marques) e do Ministro das Finanças (Mário Centeno), os Deputados Bruno Dias (PCP), Ana Catarina Mendonça Mendes (PS), Heloísa Apolónia (Os Verdes), Mariana Mortágua (BE), Inês Domingos (PSD), Cecília Meireles (CDS-PP), Paulo Sá (PCP), João Paulo Correia (PS), Emídio Guerreiro e Ricardo Baptista Leite (PSD), André Silva (PAN), Pedro Mota Soares (CDS-PP), João Galamba (PS), Pedro Filipe Soares (BE), Carlos Peixoto e Duarte Pacheco (PSD), Margarida Marques (PS), João Oliveira (PCP), Carlos César (PS) e Fernando Negrão (PSD).

Deu-se conta da entrada na Mesa dos projetos de lei n.os 837 a 844/XIII (3.ª) e dos projetos de resolução n.os 1519 a 1541/XIII (3.ª).

O Presidente encerrou a sessão eram 12 horas e 29 minutos.

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O Sr. Presidente: — Sr.as Deputadas e Srs. Deputados, Srs. Membros do Governo, Sr.as e Srs. Funcionários,

Sr.as e Srs. Jornalistas, declaro aberta a sessão.

Eram 10 horas e 5 minutos.

Peço aos Srs. Agentes da autoridade para abrirem as galerias ao público.

A nossa ordem do dia consiste, no âmbito de um debate sobre o Programa de Estabilidade 2018-2022 e o

Programa Nacional de Reformas, na apreciação dos projetos de resolução n.os 1511/XIII (3.ª) — Programa de

Estabilidade 2018-2022 e Plano Nacional de Reformas (CDS-PP), 1513/XIII (3.ª) — Recomenda ao Governo

que o Programa de Estabilidade e a execução orçamental respeitem os limites do défice fixados na aprovação

do Orçamento do Estado para 2018 e que sejam devolvidas à sociedade as folgas orçamentais registadas (BE),

1517/XIII (3.ª) — Recomenda ao Governo que, no âmbito do Programa Nacional de Reformas, adote um

conjunto de medidas que permitam colocar Portugal numa trajetória sustentada de crescimento económico e

emprego (CDS-PP), 1518/XIII (3.ª) — Por uma alternativa de mais crescimento e melhor Estado (PSD) e

1514/XIII (3.ª) — Pela afirmação do direito soberano de Portugal decidir do seu futuro e pela resposta aos

problemas do País (PCP).

Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Ministro do Planeamento e das Infraestruturas, Pedro Marques.

O Sr. Ministro do Planeamento e das Infraestruturas (Pedro Jesus Marques): — Sr. Presidente, Sr.as e

Srs. Deputados: Esta discussão sobre o Programa Nacional de Reformas (PNR) ocorre na altura em que temos

realizado o debate sobre as opções estratégicas de longo prazo para o País, a que demos o nome de Portugal

2030.

Trata-se de um debate que preparámos adequada e atempadamente, tendo, para tal, iniciado, no final do

primeiro semestre de 2017, a auscultação aos mais relevantes e diversificados agentes sociais, económicos e

depois políticos, também.

Com este processo, aberto e participado, temos conseguido construir um amplo consenso em torno de uma

visão e de uma ambição para Portugal para a próxima década. Uma visão que põe as pessoas no centro das

preocupações, que aposta na inovação e nas qualificações, que aposta no reforço da competitividade, mas

também da coesão, das redes urbanas e dos territórios de baixa densidade, e que assegura a sustentabilidade

e a valorização dos seus recursos.

Para concretizar estes objetivos, Portugal precisa, efetivamente, de verdadeiras reformas. As reformas

democráticas, que nos permitem superar o défice de qualificações histórico na sociedade portuguesa. As

reformas que aumentam a coesão social e territorial. As reformas que impulsionam a competitividade por via da

inovação.

Para um observador menos atento, poderia parecer até que só agora nos lembrámos das reformas

estruturais.

Muito pelo contrário, Sr.as e Srs. Deputados, as reformas que enunciei estão em execução desde que

chegámos ao Governo. O Programa Nacional de Reformas que então apresentámos, em 2016, e que estamos

a executar, com os resultados já conhecidos, representou o início desse programa reformista de modernização

do País, que deverá agora ser prosseguido durante esta e a próxima década.

É com estas medidas inscritas no Programa Nacional de Reformas que estamos a aumentar as qualificações

dos portugueses, com medidas como a dinamização dos Centros Qualifica, que registam cerca de 140 000

adultos inscritos para aumentar as suas qualificações, ou com o combate ao abandono escolar, cuja taxa desceu

já significativamente desde 2014.

Estamos a aumentar a inovação na economia com a aceleração do Portugal 2020, que regista mais de 8000

milhões de euros de investimentos empresariais aprovados ou com um reforço substancial dos investimentos

apoiados de média e de alta tecnologia, mas também com a dinamização da transferência de conhecimento

entre as universidades e as empresas, que, efetivamente, está a acontecer com o Programa INTERFACE e com

o investimento em I&D (investigação e desenvolvimento) a retomar uma trajetória de crescimento.

Mas o investimento inovador das empresas requer empresas capitalizadas e um sistema financeiro sólido

capaz de apoiar esse investimento das empresas, pelo que o Programa Nacional de Reformas não deixou de

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endereçar este problema. Hoje, regista-se já o início da redução do endividamento do setor privado na economia

portuguesa.

Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Este Programa Nacional de Reformas incide em sentido inverso ao

da austeridade e o que se revelou foram mais importantes medidas de reforço da coesão social. O aumento do

salário mínimo, a atualização do abono de família para um milhão de crianças e jovens, a atualização do

complemento solidário para idosos ou das pensões, que abrangeu 2,8 milhões de pensionistas, permitiram

melhorar o rendimento das populações, aumentando a coesão social e dando um importante estímulo à

economia, através do aumento da procura dirigida às empresas.

Aplausos do PS.

Com as medidas constantes no Programa Nacional de Reformas, estamos a promover também a coesão

territorial.

Depois da paralisia que encontrámos em que nem os projetos se faziam, lançámos o Ferrovia 2020, um

programa ambicioso de modernização e de construção de via ferroviária em cerca de metade da rede nacional,

das quais temos mais de 300 km de obras no terreno, num ritmo que continuará a desenvolver-se até 2020; os

metropolitanos de Lisboa e do Porto verão as suas redes expandidas e o material circulante será renovado com

um investimento que ultrapassa os 450 milhões de euros; os territórios do interior, que, desde o início da

Legislatura, elegemos como prioridade, são centrais na ação governativa. Nesse sentido, completámos a

reforma da floresta, que tínhamos lançado muito antes dos incêndios do verão passado, e reforçámos,

reformando, o sistema de proteção civil, nomeadamente com o aumento de meios e com o lançamento de

programas de segurança das populações.

O Programa Nacional de Reformas que está hoje em discussão é um documento com coerência estrutural.

Coerência estrutural com o passado recente, que depois vem dar sequência às reformas iniciadas em 2016

e que estão hoje a permitir alcançar os bons resultados que são conhecidos no campo económico, social, mas

também a favorecer os resultados na perspetiva orçamental.

Coerência estrutural para o futuro, pois o desígnio maior é o de continuar o caminho de coesão e

convergência que já demonstrámos conseguir alcançar com o Portugal 2030, que queremos desenvolver na

próxima década.

Aplausos do PS.

É um documento que conjuga ambição com realismo, crescimento com sustentabilidade, reformas com

equidade, para que Portugal seja, finalmente, um país com mais crescimento, melhor emprego e maior

igualdade.

Aplausos do PS.

O Sr. Presidente: — Sr. Ministro, inscreveram-se três Srs. Deputados para pedir esclarecimentos. Sou

informado que o Sr. Ministro vai responder em conjunto.

Tem a palavra o Sr. Deputado Bruno Dias.

O Sr. Bruno Dias (PCP): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, Srs. Ministros, Sr. Ministro Pedro

Marques, um dos argumentos do Governo para defender a redução do défice e o pagamento dos juros da dívida

como prioridade e a um ritmo acelerado é a ideia de que essa opção nos protege mais no futuro perante

eventuais dificuldades como aquelas que o País atravessou em 2011.

Ora, a realidade demonstra que essa afirmação não se confirma, porque, se concentrarmos os recursos

orçamentais e a ação política na redução do défice e no pagamento de juros da dívida como principal e

praticamente central prioridade da política económica e orçamental, ficarão por resolver todos os problemas que

deixam o País vulnerável a esses riscos externos.

A questão central que se coloca é a de reforçarmos a nossa capacidade produtiva e resolver, ou, pelo menos,

responder de forma substancial aos défices estruturais do País no plano produtivo, energético, demográfico,

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científico, tecnológico. Do que nós precisamos é do inverso, ou seja, de utilizar toda a disponibilidade orçamental

para ultrapassar os problemas estruturais do País, e para isso precisamos de investimento.

Mas vou mais longe: nós não precisamos apenas do investimento «chave na mão», da contratação de

empreitada, da obra que se pode mandar fazer. Nós precisamos de reforçar a capacidade estrutural e a

capacidade técnica das estruturas nacionais — é o caso, por exemplo, da EMEF (Empresa de Manutenção de

Equipamento Ferroviário, SA), da manutenção ferroviária, da capacidade própria da manutenção e do

desenvolvimento infraestrutural do País —, precisamos de investir no Serviço Nacional de Saúde e na sua

capacidade própria, precisamos de investir na escola pública e na renovação do infraestruturado dessa medida.

Ora, essa é a resposta que nós não encontramos em nenhum dos dois documentos, porque o Governo

apresenta a opção contrária, e é essa resposta que a vida nos mostra que é preciso dar.

Com essa alternativa, com essa política diferente, o nosso País tem futuro, mas, quanto a esses documentos

que o Governo nos apresenta, Sr. Ministro, nós perguntamos se é por aí que o País está a ir, e nós temos as

maiores dúvidas.

Aplausos do PCP.

O Sr. Presidente: — Para pedir esclarecimentos, tem a palavra a Sr.ª Deputada Ana Catarina Mendes.

A Sr.ª Ana Catarina Mendonça Mendes (PS): — Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Sr.as e Srs.

Deputados, Sr. Ministro do Planeamento e das Infraestruturas, em primeiro lugar, queria saudá-lo por trazer a

este debate o plano nacional de reformas que, note-se, não é de hoje, vem de 2016 e traça um caminho até

2021 para o modelo de desenvolvimento que queremos para a nossa sociedade, em Portugal.

Ao longo destes dois anos foi possível demonstrar que o caminho que traçámos e que estamos a trilhar é um

caminho positivo, é um caminho com resultados muito positivos para a vida das pessoas.

Por isso mesmo, podemos hoje dizer que o crescimento da economia é uma realidade, que está em

convergência com a União Europeia — aliás, estamos acima da média da União Europeia —, que a taxa de

emprego subiu e que isso é positivo para os portugueses quando falamos em mais de 288 000 novos postos de

trabalho. Podemos hoje dizer que temos uma redução muito significativa, só vista há 14 anos, na taxa de

desemprego. Podemos hoje dizer que voltámos a apostar na qualificação dos portugueses, enorme desafio para

combater um défice estrutural que temos em Portugal.

Por isso, a única pergunta que lhe quero colocar é a de saber se é possível ao Sr. Ministro do Planeamento

e das Infraestruturas explicar a esta Câmara e ao País quais as metas a que nos propomos com o plano nacional

de reformas, com o Orçamento do Estado para 2018, mas também com o Programa de Estabilidade (PE) e o

quadro financeiro plurianual, para atingir mais investimento público, mas também para combater um défice que

persiste na nossa sociedade, decorrente daquilo que foi a política levada a cabo pela direita, que foi o

empobrecimento dos portugueses. Se, hoje, estamos satisfeitos com os resultados, não é menos verdade que

precisamos de continuar a combater a pobreza que ainda assola Portugal.

Por isso, a pergunta que lhe faço é a de saber se estes são instrumentos para continuarmos o caminho

destes últimos dois anos, muito positivos para Portugal.

Aplausos do PS.

O Sr. Presidente: — Tem a palavra, para pedir esclarecimentos, a Sr.ª Deputada Heloísa Apolónia.

A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — Sr. Presidente, Sr. Ministro, quando falamos em reformas — que é

uma coisa de que todos gostam muito de falar e que, às vezes, nem se percebe bem o que querem dizer com

isso —, há uma que Os Verdes consideram determinante, que é a coesão territorial e o combate às assimetrias

regionais.

Curiosamente, os mais diversos governos colocam sempre a coesão territorial e o combate às assimetrias

regionais nos seus programas. Em termos discursivos, parece que tudo se vai resolver, mas depois, quando

fomentam políticas concretas, essas políticas têm como consequência o acentuar das assimetrias regionais.

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Há uma questão que, na perspetiva de Os Verdes, é fundamental: o combate às assimetrias regionais nunca

conseguirá efetivamente ser concretizado se não houver aquele patamar intermédio que consiga dar uma

resposta regional àquilo que é fundamental, a regionalização, porque o pensamento regional é determinante

para agregar o pensamento local, mas também para poder implementar a lógica nacional numa perspetiva

regional. Venho perguntar ao Sr. Ministro se é ou não favorável a uma urgente regionalização no nosso País.

Para além disso, quando falamos de coesão territorial, há questões determinantes, e uma delas é,

evidentemente, o emprego. Ninguém vai para o interior se não tiver emprego e, portanto, apoiar as micro,

pequenas e médias empresas que estão ou que se venham a criar no interior do País é fundamental. Que mais

objetivos de apoio a estas micro, pequenas e médias empresas tem o Governo, por exemplo, quer na perspetiva

da agricultura, quer na perspetiva de serviços, quer na perspetiva dos mercados locais? Enfim, inúmeros

exemplos podemos dar.

Por outro lado, há uma outra questão também fundamental: nunca podemos falar de coesão territorial se o

território não estiver ligado, designadamente, por via de transportes. É impossível! Mas não estamos a falar só

de transportes de longo curso, estamos a falar também de transportes de proximidade.

Portanto, implementar uma ferrovia que ligue os territórios próximos é, na nossa perspetiva, fundamental,

assim como é fundamental estabelecer, por exemplo, aquela discriminação positiva que este Governo não quer

continuar a promover e que o Governo anterior também não quis, que é a questão das SCUT (sem custos para

o utilizador) sem portagem. Na nossa perspetiva, isso é determinante, Sr. Ministro! São discriminações positivas

que podem vir a ser consideradas como temporárias, se quiser, mas que, neste momento, nem temporárias são.

Sr. Ministro do Planeamento e das Infraestruturas, muito mais, certamente, haveria a dizer, mas, porque

também quero deixar tempo para pedir esclarecimentos ao Sr. Ministro das Finanças, fico-me por aqui.

Aplausos de Os Verdes e do PCP.

O Sr. Presidente: — Tem a palavra, para responder, o Sr. Ministro do Planeamento e das Infraestruturas.

O Sr. Ministro do Planeamento e das Infraestruturas: — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, regista-

se — eu diria — o silêncio ensurdecedor desta direita, que, na verdade, não vem ao debate sobre o Programa

Nacional de Reformas. Apresenta umas resoluções, dirá umas coisas, mas, quando chega a altura de defender

ou, eventualmente, contraditar as opções estratégicas para a transformação do País, remete-se ao silêncio.

Sim, o debate do Programa Nacional de Reformas é muito importante. Este documento não se subordina a

nenhum programa de estabilidade, porque neste Governo trabalhamos para finanças públicas sólidas, mas em

direção a um objetivo: dar mais sustentabilidade ao crescimento económico e à coesão deste País.

A forma como esta direita aborda o debate do Programa Nacional de Reformas diz tudo sobre o que foi a

última governação. A obsessão com o défice não permitiu, naquela altura, as transformações estruturais do

País.

Aplausos do PS.

Aqui, neste Governo e na maioria que suportou esta solução governativa, governa-se com equilíbrio, dá-se

sustentabilidade orçamental ao País — aquela que, aliás, a direita não foi capaz de dar na sua governação,

embora estivesse obcecada com o défice —, mas, ao mesmo tempo, fazem-se as transformações estruturais.

Aqui — fui questionado sobre isso —, dizemos «sim» ao combate ao empobrecimento. Nesta Legislatura,

deram-se passos decisivos para retomar um caminho de redução da pobreza e de combate às desigualdades.

E tem sido assim em todo o período de governação desde que temos estatísticas do Eurostat, pelo menos desde

1995. Quando o PS esteve no Governo, reduziram-se as desigualdades em Portugal e combateu-se a pobreza.

Quando a direita esteve no Governo, voltou a aumentar a pobreza em Portugal.

Aplausos do PS.

Está, outra vez, a diminuir, porque este Governo voltou a ter uma prioridade no combate à pobreza.

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Quanto ao investimento público, sim, é possível compatibilizar finanças públicas sólidas com retoma do

investimento público. Depois da miséria que encontrámos, em que nem projetos de execução existiam, voltou a

crescer o investimento público em 2017.

A Sr.ª Inês Domingos (PSD): — Isso não é verdade!

O Sr. Ministro do Planeamento e das Infraestruturas: — Cresceu 25%, há de crescer quase 40% em 2018

e há de continuar a crescer em 2019, porque tivemos de fazer o trabalho de casa, tivemos de fazer o que não

fizeram, preparámos o ciclo de investimento, que está agora a chegar ao terreno.

Relativamente ao investimento prioritário, sim, também na ferrovia, Sr.ª Deputada. Sim, os maiores

investimentos que estão agora no terreno em matéria de administração central são investimentos no interior do

País: é a ligação ferroviária de Évora a Elvas, que é o maior investimento ferroviário dos últimos 100 anos em

Portugal — porque há 100 anos que não se construía tanta linha ferroviária nova em Portugal como a que agora

foi lançada —, mas é também a retoma da linha entre a Covilhã e a Guarda, que ficou fechada durante uma

década. Pois, esse investimento está no terreno agora e é investimento na coesão territorial, Sr.ª Deputada.

Aplausos do PS.

Sim, a retoma do investimento público é uma realidade, porque fizemos o trabalho de casa, e ele está a

chegar ao terreno agora, nestes anos desta Legislatura.

Mas, com certeza, de todos os investimentos, o maior é o investimento nas qualificações. Estamos a fazer o

trabalho de casa, estamos a fazer o trabalho que já permitiu começar a reduzir significativamente, nesta

Legislatura, o abandono escolar, o insucesso escolar, e este é um caminho para continuar.

Não temos nenhuma dúvida de que a reforma mais importante para o País é a das qualificações, e não temos

também, quanto a esta matéria, ambiguidades, nomeadamente na aposta na educação, nas qualificações dos

adultos. Não, não diabolizamos as qualificações dos adultos. Sim, temos uma prioridade muito importante, que

é a de dar uma nova oportunidade àqueles adultos que não tiveram todas as oportunidades durante o percurso

escolar. Sim, retomámos a prioridade às qualificações neste aspeto muito simbólico, que é a qualificação dos

nossos adultos.

Portanto, Sr. Deputado Bruno Dias, apesar do silêncio da direita, aqui, do lado do Governo, gritamos bem

alto: a prioridade às reformas é efetiva neste Governo e não é por causa da consolidação orçamental que não

se faz o que é importante. A consolidação orçamental liberta recursos para fazer o que é importante no País e,

fazendo o que é importante, apostando no investimento privado, apostando no investimento público, apostando

nas qualificações, um país mais competitivo também é um país que cresce mais, e um país que cresce mais

também liberta melhores condições orçamentais.

Portanto, há uma simbiose: é possível reformar o País mantendo contas públicas equilibradas e contas

públicas equilibradas favorecem as reformas importantes no País. É por aí que vamos continuar.

Aqui, só temos uma prioridade: um País mais coeso, um País com mais crescimento e um País mais

sustentável. Todos estamos a trabalhar com esse único objetivo. A nossa única obsessão é Portugal.

Aplausos do PS.

O Sr. Presidente: — Tem agora a palavra, para uma intervenção, o Sr. Ministro das Finanças, Mário Centeno.

O Sr. Ministro das Finanças (Mário Centeno): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: O Programa de

Estabilidade que o Governo apresentou à Assembleia da República representa o nosso plano de estratégia

orçamental para o período entre 2018 e 2022.

A política implementada através da reposição de rendimentos, da melhoria de salários e de direitos, bem

como da redução gradual dos impostos permitiu bons resultados. É esta a política a que nos propomos dar

continuidade, com mais ênfase no investimento.

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Os resultados já alcançados permitem olhar para o futuro com confiança, com menos risco, mas, acima de

tudo, com a normalização da política orçamental. Permitem, assim, preparar o País para a eventualidade de

uma conjuntura desfavorável.

Há cada vez mais portugueses com emprego. Desde o início da Legislatura, há mais 250 000 empregos,

com melhor qualidade, correspondendo 85% do emprego gerado a contratos permanentes e com melhores

salários.

Aplausos do PS.

Subimos o salário mínimo e o salário médio da economia portuguesa subiu 3,3% em 2016 e em 2017. O

efeito conjugado de crescimento de salários e emprego faz com que as remunerações dos trabalhadores

portugueses tenham crescido 11% nos últimos dois anos.

A economia portuguesa está a crescer acima da média europeia. O investimento cresce duas vezes mais do

que na Europa. As empresas e as famílias têm acesso a taxas de juro mais baixas e aumentam, de forma

sustentada, as suas poupanças. Em percentagem, nenhum outro país teve uma redução tão grande dos juros

no último ano.

Os serviços públicos têm mais recursos. Na saúde, em 2018, comparando com 2015, a despesa efetiva é

superior em 700 milhões de euros e há mais 8500 trabalhadores, dos quais 2800 médicos e 4000 enfermeiros.

Também na educação há mais 5200 trabalhadores, mas também, Srs. Deputados, na cultura.

Podemos querer mais, mas não podemos negar o esforço que tem vindo a ser feito.

Aplausos do PS.

Para o período deste Programa de Estabilidade, projetamos a continuação da convergência com a União

Europeia, em que o desemprego continua sustentadamente a cair e com uma clara redução do endividamento

público.

O desempenho económico e orçamental de Portugal em 2017 permitiu que hoje possamos dizer que estamos

melhor. Temos menos défice, mas ainda temos défice.

Há um ano, projetávamos uma melhoria do saldo orçamental de 2017 para 2018 de, aproximadamente, 960

milhões de euros. Com o desempenho orçamental de 2017, esta meta pôde ser revista. Hoje, o Programa de

Estabilidade prevê uma melhoria do saldo de apenas 370 milhões de euros.

Temos hoje uma menor redução do défice do que a que projetávamos há um ano. Isto é conseguido sem

colocar em causa nenhum dos compromissos assumidos no Orçamento do Estado 2018 nem o esforço estrutural

de consolidação das contas públicas. Todas as despesas previstas continuam no Orçamento.

Em 2018, pela primeira vez em mais de uma década, todos os pensionistas vão ter aumentos.

Estão em lançamento projetos de investimento estruturantes nas diferentes áreas das políticas públicas.

Nos primeiros três meses de 2018, registámos um crescimento muito significativo das despesas com pessoal,

das despesas com pensões e das despesas com os serviços públicos essenciais. Este crescimento é próximo

de 4%, mas é feito com o sentido de responsabilidade que nos tem orientado e no cumprimento estrito dos

nossos compromissos.

Aplausos do PS.

Os desafios do País devem, têm de ser superados, construindo as condições para que, no futuro, possamos

utilizar todos os instrumentos orçamentais disponíveis.

Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: O valor do défice de 2017 é historicamente baixo em Portugal, mas é

um valor normal na Europa.

Em 2017, a larga maioria dos países da zona euro teve um défice mais baixo e a esmagadora maioria prevê

défices ainda mais baixos do que Portugal para 2018 e 2019.

Há três anos, o PS apresentou um plano orçamental que oferecia uma alternativa política para o País: com

investimento, em especial nas pessoas — num País que definhava com a emigração —; com aumento do

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rendimento, em especial apostando na criação de emprego; e com consolidação das contas públicas, com

equilíbrio.

Ontem, ouvimos da direita parlamentar todo o tipo de previsões catastrofistas. Estava errada e negou o

esforço de todo o País enquanto pôde.

Aplausos do PS.

Hoje, podemos verificar que os objetivos que definimos foram atingidos. Eram mesmo virtuosos e credíveis.

São os mesmos que incluímos neste Programa de Estabilidade.

Pela primeira vez numa legislatura, três anos após o seu início, um governo mantém o seu compromisso com

os portugueses. Nunca revimos os nossos objetivos. Este capital de credibilidade é do Governo e é de quem

apoia o Governo.

Para amanhã, estabelecemos como objetivo um saldo primário, em 2018 e em 2019, de 2,8% e de 3,2%, os

mesmos valores, a mesma estratégia orçamental apresentada em 2015.

Para o futuro, o Programa de Estabilidade propõe uma trajetória de crescimento inclusivo, com

responsabilidade e diálogo na tomada de decisões, mas, acima de tudo, com estabilidade e responsabilidade.

O Programa de Estabilidade é a tradução fiel da palavra que tem caracterizado esta Legislatura: credibilidade.

Credibilidade, porque temos as contas certas; credibilidade, porque cumprimos as medidas a que nos tínhamos

proposto; credibilidade, porque nunca antes o desempenho da economia beneficiou tantos e todos os

portugueses. É para eles esta estabilidade.

Aplausos do PS.

O Sr. Presidente: — Sr. Ministro, inscreveram-se, para pedir esclarecimentos, nove Srs. Deputados. Peço-

lhe para informar a Mesa sobre a forma como pretende responder.

O Sr. Ministro das Finanças: — Sr. Presidente, respondo em três rondas, de três pedidos de esclarecimento

cada.

O Sr. Presidente: — Para formular o primeiro pedido de esclarecimento desta primeira ronda, tem a palavra

a Sr.ª Deputada Mariana Mortágua.

A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — Sr. Presidente, Srs. Ministros, Sr. Ministro das Finanças, a pergunta deste

debate é a seguinte: porque é que durante dois anos e por dois anos, tendo uma folga nas contas públicas,

escolheu adiar investimentos cruciais para o País, indo além das metas com Bruxelas?

O Sr. Ministro lembrar-se-á, certamente, das negociações que tivemos em 2017 e em 2018 para esses

Orçamentos. Cada medida, como o Sr. Ministro bem sabe, foi discutida ao milímetro, foi discutida ao cêntimo.

Deixe-me dar-lhe dois exemplos: há poucos meses, acordámos, a tempo de entrar no Orçamento do Estado

para 2018, a medida da redução do IRS. O Bloco de Esquerda defendia 600 milhões de euros para 2018, o

Governo avançava com 200 milhões. No Orçamento, a medida de aumento dos escalões e redução do IRS ficou

nos 400 milhões. O Sr. Ministro lembra-se da razão para serem 400 milhões e não 600 milhões. Não era porque

o Governo não quisesse reduzir o IRS — pelo menos, isso nunca nos foi dito —, o argumento era sempre o

mesmo: nós queremos, mas não há folga.

Deixe-me dar-lhe outro exemplo: há semanas, o Bloco de Esquerda trouxe a votação, e votámos aqui, um

plano para eliminar a dupla penalização a quem, com longas carreiras contributivas, quer reformar-se. Esse

plano foi rejeitado pelo Partido Socialista — apesar de ter sido um plano feito pelo Governo — depois de o

Governo ter recuado nessas intenções. E o Governo recuou nessas intenções não por não achar que estes

reformados têm direito à sua reforma com dignidade e sem penalização, o Governo recuou com um argumento:

não há folga, não há margem. Foi sistematicamente este o argumento que foi avançado pelo Governo nestas

negociações.

Por isso, Sr. Ministro, não é possível compreender e não é fácil compreender como é que, meses depois das

negociações do Orçamento do Estado e semanas depois de ter sido chumbado este plano de reformas

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antecipadas, o Governo traz aqui e envia a Bruxelas um documento em que não só assume uma folga de 800

milhões de euros como afirma que essa folga não servirá para investimento público, mas, sim, para ultrapassar

as metas de Bruxelas.

Deixe-me antecipar um argumento que, decerto, o Sr. Ministro trará. O Bloco de Esquerda não questiona o

cumprimento das medidas que foram acordadas com os partidos da esquerda. O que o Bloco de Esquerda

contesta é a mudança de opinião do Governo, que sempre disse que a prioridade era a recuperação dos

rendimentos e o investimento nos serviços públicos dentro das metas do défice. Essa é a base do compromisso

político com o Bloco de Esquerda, Sr. Ministro, essa é a base do compromisso político com a maioria

parlamentar.

Mais do que isso: essa é a base do compromisso político com as pessoas. Essa é a base do compromisso

político com os reformados, que ainda não viram a total e completa reversão do brutal aumento de impostos de

Vítor Gaspar e se perguntam porque é que o seu recibo da pensão é menor em 2018 do que era em 2010. Essa

é a base do compromisso das pessoas que trabalharam longas carreiras e que esperavam, legitimamente, poder

reformar-se com dignidade e sem penalização ainda neste ano. Essa é a base do compromisso com os médicos,

que esperaram meses por um concurso e foram forçados a sair do SNS. Essa é a base do compromisso com

os utentes, que continuam a ter de ir ao SNS, ainda tendo serviços degradados e falta de pessoal. Essa é a

base do compromisso que o Governo mudou quando mudou a estratégia orçamental.

Por isso, Sr. Ministro, responda — essa é a pergunta — porque adia investimentos que são importantes hoje

para o País. O Sr. Ministro dirá que é em nome das metas de Bruxelas. Mas como é que é possível ser em nome

das metas de Bruxelas se ainda há meses a meta que foi acordada com Bruxelas de 1,1% do PIB era dada

como boa e foi aceite como boa por Bruxelas? Vai agora o Governo a Bruxelas convencer Bruxelas que afinal

a meta de 1,1% era alta demais e que o Governo consegue e quer fazer melhor indo além dessa meta?

O Sr. Jorge Duarte Costa (BE): — Muito bem!

A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — Sr. Ministro, então a meta de 1,1% era compatível com os objetivos de

consolidação orçamental há quatro meses e hoje já não é compatível com os objetivos de consolidação

orçamental?

Eu bem sei que o Sr. Ministro vai dizer a seguir que, indo além das metas do défice e reduzindo mais o défice,

não temos que pedir mais dinheiro emprestado, é possível pedir menos dinheiro emprestado. Deixe-me lembrar-

lhe que as atuais reservas financeiras do Estado são mais do que suficientes para suportar o investimento da

folga orçamental sem que o Estado precise de pedir novo endividamento e de o aumentar.

O Sr. Jorge Duarte Costa (BE): — Muito bem!

A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — Sr. Ministro, a existência de uma folga orçamental não é, como aqui a

apresenta, um mero exercício contabilístico, um exercício automático e algébrico.

Adiar agora despesas que são necessárias não é boa gestão orçamental e é, aliás, má gestão de recursos

públicos.

É má gestão orçamental, porque devemos aproveitar um contexto em que os juros estão excecionalmente

baixos para fazer despesa que ajuda o crescimento, para fazer despesa que suporta os serviços públicos. É

que, Sr. Ministro, mais tarde, quando os juros estiverem mais altos, será mais difícil substituir o equipamento

que agora se degrada, será mais difícil suprir o pessoal que agora já faz falta ao SNS e aos serviços públicos,

será mais difícil investir na escola que hoje está degradada.

Boa gestão de recursos públicos, Sr. Ministro, é não prolongar ineficiências no Estado, é não adiar

investimentos que são hoje necessários e que serão muito mais caros no futuro se não forem feitos agora.

Sr. Ministro, esta folga que agora envia para Bruxelas e assume, indo além das metas de Bruxelas, é o

resultado das políticas de devolução de rendimentos, é o resultado do compromisso desta maioria parlamentar

e dos Orçamentos que aprovámos e negociámos. O que é que vamos fazer com ela? Vamos melhorar serviços

públicos ou vamos mostrar serviço em Bruxelas?

Essa é a questão deste debate, essa é a escolha e esse é o voto que faremos hoje na Assembleia da

República.

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Aplausos do BE.

O Sr. Presidente: — Para pedir esclarecimentos, tem a palavra a Sr.ª Deputada Inês Domingos.

A Sr.ª Inês Domingos (PSD): — Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Srs. Deputados, Sr. Ministro das

Finanças, o Programa de Estabilidade que nos traz aqui não nos satisfaz nem pelo caminho nem pela ambição.

Contrariamente àquilo que disse o Sr. Ministro, o caminho que este Governo escolheu é muito diferente

daquele que tinha previsto antes das eleições em 2015. Primeiro, e sobretudo, porque o Governo desistiu de

baixar a carga fiscal.

O Sr. Ministro tem uma estratégia fiscal muito clara e que tem três eixos: mais impostos, mais impostos e

mais impostos!

Vozes do PSD: — Muito bem!

A Sr.ª Inês Domingos (PSD): — É uma estratégia cujo objetivo é atingir a maior carga fiscal — esse objetivo

efetivamente conseguiu-o! — da história da democracia, tanto quanto as empresas e as famílias aguentarem,

mas, Sr. Ministro, com a diferença de que é com impostos indiretos, que são menos visíveis que os impostos

diretos sobre os rendimentos.

Com o seu Governo, por cada euro que ganham, as famílias e as empresas pagaram, em 2017, mais

impostos do que alguma vez pagaram.

Diz agora o Sr. Ministro, nas suas próprias previsões, que, em relação a esta carga fiscal, vai diminuir

qualquer coisinha. É uma décima, Sr. Ministro, uma décima. E convenientemente essa décima seria reduzida,

eventualmente, em 2019. Curiosa e surpreendentemente, é um ano de eleições! Só que todos nos lembramos

que o Sr. Ministro já esteve sentado nessa cadeira a prometer que ia baixar a carga fiscal. E o que é que

aconteceu? A carga fiscal em 2017 atingiu o seu ponto máximo. Porque é que agora havemos de acreditar que

a carga fiscal vai baixar, Sr. Ministro? E este recorde de carga fiscal serve para quê, afinal?

O Governo desistiu do investimento público, Sr. Ministro. Os planos de investimento são sucessivamente

incumpridos.

Em 2016, prometeu um nível de investimento de 2% do PIB, mas baixou para 1,5%; em 2017, prometeu

2,2%, mas ficou em 1,8%, abaixo de qualquer dos anos do ajustamento. E já vamos no terceiro ano do seu

Governo! Portanto, a culpa não é do anterior Governo, os senhores governam há tempo suficiente para serem

responsáveis por isto…

O Sr. Secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares (Pedro Nuno Santos): — Isto?!

A Sr.ª Inês Domingos (PSD): — Agora, promete um aumento para 2,3% do PIB, em 2018. Como é que

vamos acreditar nisto, Sr. Ministro? Só que as consequências deste incumprimento são muito visíveis: os

serviços públicos básicos estão em deterioração — e não se ria, Sr. Ministro, porque não tem graça nenhuma;

o Sistema Nacional de Saúde está de joelhos, é uma tragédia; as escolas públicas têm condições que não

satisfazem os mínimos para as nossas crianças; e a carga fiscal só serviu para aumentar a despesa corrente.

Agora, o Governo promete, outra vez, que essa despesa vai baixar. Por exemplo, no consumo intermédio e

outra despesa prevê uma diminuição por causa do programa de revisão da despesa. Mas a UTAO (Unidade

Técnica de Apoio Orçamental) veio dizer, nos últimos dias, que isso não é credível porque o Programa é

demasiado vago e que se prevê, na realidade, que essas poupanças não se materializem. Essas poupanças

previstas são, no mínimo dos mínimos, extraordinariamente incertas.

Sr. Ministro, porque é que havemos de acreditar nos efeitos, que prevê, da revisão da despesa quando o Sr.

Ministro e este Governo incumpriram em muitas e todas as promessas fiscais e de despesa que fez nos anos

anteriores?

Mas, Sr. Ministro, mais preocupante é a ausência de ambição deste Governo relativamente ao futuro do País.

Não se vislumbram nenhumas medidas, nenhuma ambição para tornar Portugal um país mais competitivo, nem

que seja em termos fiscais.

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As previsões de crescimento até 2022, as suas próprias previsões, Sr. Ministro, mostram uma desaceleração

da economia. Mais grave: essa previsão de crescimento, que desacelera e que é totalmente insatisfatória,

porque, ao contrário do que diz, não nos permite convergir com o nível de vida da maioria dos países da União

Europeia — há mais de 20 países que irão crescer mais do que Portugal —, ainda assim, é otimista porque só

é conseguida com base em previsões de investimento que são irrealistas. E não somos só nós que o dizemos,

também o Conselho das Finanças Públicas o diz.

Sr. Ministro, este é um Programa de Estabilidade de um Governo esgotado, sem ideias novas e que apenas

gere o dia a dia, e é muito poucochinho.

Aplausos do PSD.

O Sr. Presidente: — Para pedir esclarecimentos, tem a palavra a Sr.ª Deputada Cecília Meireles.

A Sr.ª Cecília Meireles (CDS-PP): — Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Sr.as e Srs. Deputados, Sr.

Ministro das Finanças, o CDS sabe que este Programa de Estabilidade e este Programa Nacional de Reformas

que hoje apresenta são uma oportunidade perdida. E o CDS não se lembrou das suas discordâncias apenas no

ano anterior às eleições. Nós fazemos agora o que fizemos nos últimos dois anos: rejeitamos o PE e

apresentamos uma alternativa ao PNR, com consistência e com coerência.

O Sr. Nuno Magalhães (CDS-PP): — Muito bem!

A Sr.ª Cecília Meireles (CDS-PP): — Sr. Ministro, é preciso clarificação. O CDS sempre o defendeu, e

defendeu-o desde o princípio, às vezes sozinho, nesta Câmara.

Sr.as e Srs. Deputados, quem rejeita o PE, quem não concorda com o PE, então, tem de votar contra ele.

O Sr. Nuno Magalhães (CDS-PP): — É verdade!

A Sr.ª Cecília Meireles (CDS-PP): — Sr.as e Srs. Deputados, este PE é um verdadeiro programa de

austeridade encapotada e, Sr. Ministro, a «prova do algodão» da sua austeridade encapotada é a carga fiscal e

o aumento da carga fiscal.

Vozes do CDS-PP: — Muito bem!

A Sr.ª Cecília Meireles (CDS-PP): — Só em 2017 foram arrecadados mais de 71 000 milhões de euros em

impostos. Foi o máximo histórico da carga fiscal!

O Sr. Ministro falou-nos em rigor e em credibilidade. Pergunto como é possível que o Sr. Ministro Mário

Centeno que escolheu o critério da carga fiscal para se avaliar e que, em 2016, quando discutíamos o Orçamento

para 2017, veio ao Parlamento prometer uma baixa da carga fiscal e explicou que por cada euro da riqueza

produzida pelos portugueses o Estado ficaria com menos — na realidade, não cumpriu, o Estado ficou com

mais! —,…

O Sr. Pedro Mota Soares (CDS-PP): — Falhou!

A Sr.ª Cecília Meireles (CDS-PP): — … seja o mesmo Sr. Ministro Mário Centeno que diz agora que, afinal,

redução da carga fiscal só com superavit. Qual deles é mais credível: o Sr. Ministro que em outubro de 2016

prometia a redução da carga fiscal ou o Sr. Ministro que agora diz que redução da carga fiscal só com superavit?

Aplausos do CDS-PP.

Sr. Ministro, o CDS faz propostas concretas nesta matéria. Faz uma proposta de redução programada da

carga fiscal; faz uma proposta de reintrodução do quociente familiar, dando um sinal que é importante e decisivo

à questão da natalidade; faz a proposta de retoma da baixa da taxa de IRC, dando um sinal às empresas e à

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criação de emprego; e faz também uma proposta, decidida, de eliminação da sua sobretaxa sobre o gasóleo e

a gasolina.

Sr. Ministro, os portugueses, que pagam gasóleo e gasolina da mesma forma quer tenham mais ou menos

dinheiro, quer sejam mais pobres ou mais ricos, quer vivam no litoral ou no interior, se gastarem um depósito de

gasolina por semana, em 2018 pagam mais 655 € do que pagaram em 2016. Por cada 10 € de gasolina, mais

de 6 € são para impostos.

Sr. Ministro Mário Centeno, acabe com esta sobretaxa.

Aplausos do CDS-PP.

O Sr. Presidente: — Para pedir esclarecimentos, tem ainda a palavra, nesta ronda, o Sr. Deputado Paulo

Sá, do Grupo Parlamentar do PCP, porque nos foi pedido que houvesse apenas duas rondas, a primeira com

pedidos de esclarecimento de quatro Srs. Deputados e a segunda com pedidos de esclarecimento de cinco Srs.

Deputados.

Tem a palavra, Sr. Deputado Paulo Sá.

O Sr. Paulo Sá (PCP): — Sr. Presidente, Srs. Deputados, Sr. Ministro das Finanças, a pergunta que lhe

quero fazer não é retórica, carece mesmo de uma resposta. O que é mais importante para o Governo: a redução

a «mata cavalos» do défice orçamental e da dívida pública para cumprir todas as exigências da União Europeia

e receber um certificado de bom aluno ou a resposta aos problemas estruturais do País, a resposta aos

problemas concretos que os portugueses sentem no seu dia a dia?

O problema, Sr. Ministro, é que o Governo estabelece como prioridade a redução acelerada do défice e da

dívida pública. Foi assim em 2017, quando estabeleceu um objetivo para o défice de 1,6% do PIB e depois

acabou o ano com um défice de 0,9%, e está a ser assim em 2018, quando o Governo começa por estabelecer

uma meta de 1,1% para o défice e, volvidos quatro meses, quer reduzir essa meta para 0,7%.

Esta opção do Governo pela redução acelerada do défice tem um preço muito elevado, que é o adiamento

da resposta aos problemas das pessoas e do País.

Sim, Sr. Ministro, para que o Governo possa atingir e ultrapassar os seus objetivos do défice e o PS possa

colocar pelo País fora outdoors a anunciar o défice mais baixo da democracia, os problemas ficam por resolver.

Falta investimento no Serviço Nacional de Saúde, nas escolas públicas, nos transportes públicos, na segurança

social, na cultura, na ciência e na investigação, nas forças e serviços de segurança, na justiça.

Sr. Ministro, os problemas acumulam-se e exigem uma reposta, mas o Governo insiste em focar-se no défice.

E não é uma questão de ritmo das medidas, como o Governo gosta de dizer, é mesmo uma questão de

opção política, opção pela sujeição às imposições da União Europeia, o que impede uma resposta adequada

aos problemas das pessoas e do País. Rejeitamos esta sujeição, porque entendemos que as decisões

orçamentais de Portugal devem caber, única e exclusivamente, ao povo português e aos seus órgãos de

soberania.

Por fim, Sr. Ministro, gostaríamos de deixar claro, muito claro, que o Programa de Estabilidade e o Programa

Nacional de Reformas são da exclusiva responsabilidade do Governo. O PCP não terá as suas propostas e a

sua intervenção, em particular no que diz respeito ao Orçamento do Estado, condicionadas por estes

documentos.

Aplausos do PCP.

O Sr. Presidente: — Para responder, tem a palavra o Sr. Ministro das Finanças.

O Sr. MinistrodasFinanças: — Sr. Presidente, Srs. Deputados, agradeço as questões que me colocaram.

Sr.ª Deputada Mariana Mortágua, não, não houve nenhum adiamento. A despesa prevista para 2017 no

Programa de Estabilidade, apresentado há um ano nesta Casa e a despesa executada concretizaram-se em

99%. Na verdade, em mais de 99%.

A Sr.ª MarianaMortágua (BE): — Não é essa a questão!

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O Sr. MinistrodasFinanças: — Toda a despesa foi executada, incluindo os objetivos para o nível do

investimento, apesar do profundo atraso dos fundos europeus, que vem desde o início da Legislatura e que só

agora foi recuperado.

A Sr.ª MarianaMortágua (BE): — E o IRS? E as reformas?

O Sr. MinistrodasFinanças: — Sr.ª Deputada, ninguém controla o pagamento de juros e a taxa de juro.

Ninguém controla. Portanto, temos de incorporar, muito cautelosamente, e de forma muito equilibrada, essas

excelentes notícias, porque são excelentes notícias para a sociedade portuguesa do nosso exercício orçamental.

E é exatamente isso que estamos a fazer entre 2018 e 2019. Não podemos garantir apenas a execução

orçamental de 2017 ou de 2018, temos de garantir a execução orçamental do futuro, pois todas as medidas que

estamos a tomar têm de ter uma dimensão de futuro que seja sustentável.

É por isso que, conjuntamente, temos aprovado medidas para as pensões que têm esta dimensão. Ninguém

quer estar associado à aprovação de medidas que não são executáveis no futuro.

Quero tornar muito claro o seguinte: não há nenhuma meta com Bruxelas.

O Sr. BrunoDias (PCP): — Há uma meta volante! Quanto mais pedalamos, mais ela se afasta!

O Sr. MinistrodasFinanças: — Quando apresentámos o nosso exercício em 2015, ouvimos dizer que ele

não cumpria com os objetivos que poderiam ser estabelecidos precisamente com Bruxelas. Hoje, dizem-nos

que vamos além de Bruxelas.

Sr.ª Deputada, os objetivos que estão estabelecidos no Programa de Estabilidade são exatamente os

mesmos que apresentámos ao eleitorado e que estão no Programa do Governo. Ou seja, são exatamente os

mesmos, à décima, que foram aprovados nesta Câmara. Em relação a isto, não há nada que tenha a ver com

metas de Bruxelas.

Aplausos do PS.

É evidente que os serviços públicos requerem a nossa atenção todos os dias. É por isso que temos mais

8500 profissionais na saúde, é por isso que temos mais 5200 profissionais na educação, é por isso que estamos

a dar uma prioridade enorme, a todos os níveis, nos serviços públicos.

Aplausos do PS.

Sr.ª Deputada, esta estratégia resultou, seguramente, das políticas implementadas; mas, ao contrário de

outras que citou, esta é credível e as outras não eram. Esta é credível, esta é auditável. Todas as contas estão

apresentadas e todas as contas estão a bater certo. É isso que é novo neste ciclo político e é isso que deve ser

hoje valorizado.

É evidente que podemos sempre reclamar por mais — nós fazemo-lo, e fazemo-lo em conjunto com o Bloco

de Esquerda —, mas temos, obviamente, de fazer por isso. E a dimensão do custo de financiamento é

absolutamente crucial para nos podermos recolocar numa posição de sustentabilidade para o futuro e para não

colocarmos em causa medidas que tenhamos de tomar no futuro.

Sr.ª Deputada Inês Domingos, em 2017, a carga fiscal…

A Sr.ª InêsDomingos (PSD): — Subiu!

O Sr. MinistrodasFinanças: — … estava influenciada por receitas absolutamente extraordinárias, e uma

dessas receitas está identificada no Programa de Estabilidade — são 235 milhões de euros, o que é mais do

que uma décima no PIB de uma receita fiscal absolutamente one-off, absolutamente temporária, e que não deve

ser utilizada pela Sr.ª Deputada, caso queira entender o que são as contas.

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A Sr.ª Deputada fez uma grande digressão em relação às contas orçamentais, mas não as conhece

verdadeiramente. Nós não podemos associar o aumento da carga fiscal ao extraordinário comportamento da

taxa de emprego, que é, aliás, a melhor segurança social possível para as pensões futuras que hoje está a

acontecer em Portugal.

Os trabalhadores levaram para casa, entre 2016 e 2017, 11% de aumento nas remunerações. A Sr.ª

Deputada não pode esquecer isso.

Aplausos do PS.

A Sr.ª Deputada não é responsável por «isto», que é o modo como se refere à economia portuguesa. Quem

é responsável pela maior queda dos juros, pela maior queda da taxa de desemprego e pelo maior aumento da

taxa de emprego é a política deste Governo, não é a Sr.ª Deputada.

Aplausos do PS.

A Sr.ª Deputada Cecília Meireles, claramente, «perdeu o pé».

A Sr.ª CecíliaMeireles (CDS-PP): — Ah, claro!…

O Sr. MinistrodasFinanças: — A verdade é que baixaram as taxas de impostos. Em 2018, baixou o IRS

pago por todas — todas! — as famílias portuguesas.

O Sr. PedroMotaSoares (CDS-PP): — Mas o ISP (imposto sobre os produtos petrolíferos e energéticos)

subiu!

O Sr. MinistrodasFinanças: — Todas as famílias portuguesas pagam menos IRS em 2018 do que pagaram

em 2017. No período em que a Sr.ª Deputada estava no Governo aconteceu exatamente o contrário.

Aplausos do PS.

Mas também baixámos o IVA da restauração, uma medida em relação à qual, aliás, a Sr.ª Deputada foi

contra.

O Sr. PedroMotaSoares (CDS-PP): — O ISP subiu! Porque não fala de outros impostos que subiram?!

O Sr. MinistrodasFinanças: — Baixámos o IVA da restauração e baixámos variadíssimas taxas de imposto.

Por isso, acontece o contrário do que a Sr.ª Deputada disse.

Sr. Deputado Paulo Sá, o investimento é, obviamente, de uma importância fundamental para o futuro da

economia portuguesa. Os problemas acumularam-se e têm de ser resolvidos, com condições financeiras

sustentáveis e com uma perspetiva de futuro.

O reforço dos meios de pessoal que temos estado a implementar na Administração Pública portuguesa é

muito significativo. Essa é a nossa opção política, e é uma opção política credível e que está, claramente,

apresentada nestes documentos. Não há nenhum objetivo que não seja explicado aos portugueses.

O Programa de Estabilidade não é debatido em Bruxelas, é debatido em Lisboa.

Aplausos do PS.

O Sr. Presidente: — Sr. Ministro, passamos ao segundo grupo de pedidos de esclarecimento.

Tem agora a palavra, para esse efeito, o Sr. Deputado João Paulo Correia.

O Sr. JoãoPauloCorreia (PS): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, Sr. Ministro das Finanças, há duas

acusações que não podem fazer ao Governo e ao Programa de Estabilidade.

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Não podem acusar este Programa de Estabilidade de esconder medidas adicionais ou medidas

extraordinárias que estejam a ser negociadas com Bruxelas para serem anunciadas dentro de semanas ou

meses. E não esconde porque o Governo, nestes dois anos e meio de governação, habituou os portugueses a

cumprir as suas metas, o que é um ganho de credibilidade interno e externo que coloca o nosso País numa

trajetória de confiança junto da Europa, junto dos investidores, junto dos consumidores, das empresas e das

famílias.

Também não podem acusar este Governo e este Programa de Estabilidade de sacrificarem qualquer medida

que foi tomada pelo Governo nestes dois anos e meio em matéria de reposição de rendimentos, de reposição

de direitos e de atualização extraordinária das pensões.

Estas são acusações que não podem ser feitas ao Governo e ao Programa de Estabilidade.

Tem-se falado muito do aumento da carga fiscal. Convém desfazer esse mito do aumento da carga fiscal,

porque é confundido com o aumento da receita fiscal.

Sr. Ministro, é ou não verdade que a receita fiscal que tem aumentado — por exemplo, a receita do IVA, a

receita do IRC e até as contribuições para a segurança social — resulta do aumento do crescimento económico,

sendo que, no caso do IVA, tem a ver com o aumento da atividade turística e, no caso das contribuições para a

segurança social, tem a ver com o aumento da taxa de emprego acima das melhores previsões?

É ou não é verdade que esta receita fiscal assenta em impostos e contribuições que não têm aumentado e,

em alguns casos, até têm diminuído?

Sr. Ministro, é ou não verdade que, entre 2011 e 2015, o anterior Governo cortou 1100 milhões de euros no

Serviço Nacional de Saúde e que cortou 360 milhões de euros no pessoal afeto ao Serviço Nacional de Saúde,

o que representou, durante esse tempo, menos médicos, menos enfermeiros e menos técnicos?

Termino, Sr. Ministro, colocando uma outra pergunta: é ou não é verdade que este Programa de Estabilidade

reforça o investimento na saúde, na educação e na ferrovia?

Aplausos do PS.

O Sr. Presidente: — Para pedir esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado Emídio Guerreiro.

O Sr. EmídioGuerreiro (PSD): — Sr. Presidente, Srs. Ministros, Srs. Secretários de Estado, Sr.as e Srs.

Deputados, Sr. Ministro das Finanças, não resisto a dizer que chega quase a ser ternurento assistirmos a este

simulacro de debate entre o Bloco de Esquerda e o Governo, num tom delicodoce, abordando matérias que

ficaram pendentes das reuniões de quarta-feira e lembrando compromissos que ninguém mais conhece. É

engraçado, é bonito de ver e chega a ser quase ternurento.

A Sr.ª InêsDomingos (PSD): — Muito bem!

O Sr. EmídioGuerreiro (PSD): — Registo, também, a quantidade de vezes que o Partido Comunista aqui

«rasga as vestes» a defender as causas, estando, no fim do dia, todos juntinhos, a assinar e, sobretudo, a votar

o Orçamento do Estado, que viabiliza tudo isto. De facto, há aqui uma contradição que não consigo perceber,

mas registo o esforço. Chega até a ser ternurento assistir a isto.

Aplausos do PSD.

O Sr. JoãoGalamba (PS) — O que nós registamos é o incómodo do PSD!

O Sr. EmídioGuerreiro (PSD): — O Sr. Ministro tem, de facto, uma característica. É que já respondeu às

questões, já disse que não há aumento de impostos, nem carga fiscal — na verdade, é a maior de todas —, o

que o transforma praticamente no xerife de Nottingham, num afã a recolher tudo o que possa ser recolhido, mas

tem de se pronunciar sobre uma matéria: quando um cidadão vai abastecer o seu automóvel, mesmo aquele

que só pega no carro uma vez por semana, paga o gasóleo a quase 1,5 €, ou seja, ao preço a que o pagávamos

quando o petróleo custava o dobro do que custa hoje!

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A Sr.ª InêsDomingos (PSD): — Ora bem!

O Sr. EmídioGuerreiro (PSD): — Mesmo as famílias mais remediadas, quando saem com os seus filhos e

decidem fazer o mesmo que fazem outras famílias com mais posses, como por exemplo comprar uma coca-cola

ou um croissant aos seus filhos, pagam mais porque os senhores aumentaram os impostos sobre esses

produtos.

Protestos do PS.

De facto, isto é tudo — se me permite a expressão — uma grande hipocrisia, pois os senhores penalizam as

pessoas, continuam a penalizar as pessoas e as empresas e continuam a insistir dizendo que a maior carga

fiscal de sempre não se traduz, na prática, no aumento de um conjunto de impostos diferidos e de forma indireta.

Protestos da Deputada do BE Mariana Mortágua.

O Sr. PedroMotaSoares (CDS-PP): — Mariana Mortágua, a «educadora do povo»!

O Sr. EmídioGuerreiro (PSD): — Do mesmo modo, quando um cidadão vai comprar uma televisão a

prestações também paga mais imposto, porque os senhores aumentaram o imposto do selo para esse efeito.

Há, pois, que ser um bocadinho mais rigoroso e assumir que optaram por, através dos impostos indiretos —

aqueles que se veem menos —, penalizar toda a gente.

O Sr. Ministro faz parte de uma equipa que, em 2015, apresentou um modelo que iria garantir níveis de

crescimento ao País nunca vistos. No entanto, este Governo está no terceiro ano de governação e a verdade é

a seguinte: no primeiro ano, os níveis de crescimento foram menores em relação aos do último ano do anterior

Governo; no segundo ano, já subiram; e agora, que estamos no terceiro ano, estão satisfeitos porque o

crescimento atingiu 2,7%, que é um bom número mas que está muito aquém das vossas previsões de 2015. E,

mais: está muito aquém dos níveis de crescimento dos 21 países nossos parceiros da União Europeia.

A Sr.ª InêsDomingos (PSD): — Bem lembrado!

O Sr. EmídioGuerreiro (PSD): — Mas, pelo que se percebe, há uma particularidade: este é que é o grande

ano da festa. É que quando vemos os vossos documentos, verificamos que para o ano os níveis de crescimento

vão diminuir.

Sr. Ministro, uma vez que não atingiram as metas que estavam propostas e idealizadas por si e pela sua

equipa em 2015, e estando ainda longe dos 3% que toda a gente dizia que eram fundamentais, explique por

que razão é que, a partir de 2019, os níveis de crescimento já vão descer outra vez. Terá alguma coisa a ver

com as aprendizagens que tiveram entre 2005 e 2011?

Aplausos do PSD.

O Sr. Presidente: — Para pedir esclarecimentos, tem a palavra a Sr.ª Deputada Heloísa Apolónia.

A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — Sr. Presidente, Sr. Ministro das Finanças, deixe-me começar por

dizer que este debate já revelou que o PSD e o CDS têm uma desfaçatez, mas uma senhora desfaçatez!, quando

vêm aqui falar dos impostos altos quando foram os promotores do «enorme aumento de impostos» dito pela

boca do então Ministro das Finanças Vítor Gaspar.

Aplausos do PS e do Deputado do PCP Bruno Dias.

Não fomos nós que os classificámos assim, mas quem o sentiu foram os portugueses — um brutal aumento

de impostos!

Trata-se, de facto, de uma desfaçatez enorme da vossa parte!

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Os senhores querem um apagão sobre o passado, mas isso não pode ser!

Protestos do PSD.

Ainda por cima, porque se propunham manter essa política durante esta Legislatura caso tivessem formado

Governo.

Sr. Ministro, vamos falar das opções políticas do atual Governo. A verdade é que, em 2017, o Governo tinha-

se comprometido com um défice de 1,6%, que acabou por resultar num défice de 0,9%, o que significa uma

margem 1400 milhões de euros. Para 2018, ao que parece, vamos pelo mesmo caminho, ou seja, a meta de

défice que estava proposta era de 1,1% e aquilo a que o Governo se propõe é 0,7%, isto é, com uma margem

de 800 milhões de euros. 800 milhões de euros, Sr. Ministro das Finanças! E o Governo está a recusar-se a dar

mais 6 milhões de euros para a cultura para perfazer os 25 milhões de euros de que os agentes da cultura, a

criação artística, precisam em Portugal.

Ora, isto não é de uma brutal contradição?! E não é uma inversão completa das prioridades de que o País

precisa?!

Na saúde, o que é que valeriam estes 1400 milhões de euros num ano e os 800 milhões no outro? Na

educação, o que é que isso significaria? Olhe, numa questão que levantei ainda há pouco, que tem de ser um

objetivo prioritário do País, e que se prende com a coesão territorial, o que é que dava para alargar em termos

de investimento, ou seja, para dar respostas, de forma mais célere, àquelas que são as necessidades das

nossas populações, das nossas gentes, do nosso território e dos nossos recursos?

Portanto, Sr. Ministro, esta obsessão com o défice, que não consigo classificar de outra forma, começa a

preocupar-nos verdadeiramente, porque, ao contrário daquilo que aqui disse o Sr. Primeiro-Ministro no último

debate quinzenal, de Orçamento do Estado para Orçamentos do Estados não é mais fácil negociar; torna-se

mais difícil, porque os constrangimentos que o Governo está a impor via Bruxelas são cada vez maiores, e isso

não é bom para o País.

Portanto, Sr. Ministro, temos duas opções: obsessão pelo défice ou investimento de que o País precisa, e

isso não significa descontrolo das contas públicas.

Aplausos do PCP.

O Sr. Presidente: — Para pedir esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado Ricardo Baptista Leite.

O Sr. Ricardo Baptista Leite (PSD): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, Sr. Ministro das Finanças,

nesta semana, em que discutimos o Programa de Estabilidade, o Presidente da República veio apelar a que se

inverta este caminho de desinvestimento na saúde que tem vindo a ser executado pelo Governo.

O Sr. João Galamba (PS): — Não foi isso que ele disse!

O Sr. Ricardo Baptista Leite (PSD): — É um desinvestimento real que se demonstra nos números e que se

sente na vida das pessoas, quer dos doentes quer dos profissionais.

Mas, vamos aos números: de acordo com os vossos números do Programa de Estabilidade, prevê-se um

PIB para 2018 que ronda os 200 mil milhões de euros, dos quais apenas 9667 milhões euros serão investidos

na saúde — 4,8% do PIB em saúde. Trata-se do valor mais baixo dos últimos 20 anos, o terceiro menor

investimento na saúde da Europa. Pior do que nós só a Letónia e a Lituânia.

Vozes do PSD: — Bem lembrado!

O Sr. Ricardo Baptista Leite (PSD): — Apesar deste desinvestimento, poderíamos questionar: ao menos

vai haver investimento em infraestruturas? Em novos hospitais? Mas nem por isso. Olhamos para ao Programa

de Estabilidade e o único hospital em que, na realidade, parece que vai haver, porque há um concurso — é uma

parceria público-privada, curiosamente com o apoio do PCP e do BE, em Lisboa Oriental —, é o Hospital de

Todos-os-Santos.

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E em Évora e no Seixal? Talvez vá acontecer! Em Sintra, afinal não é um hospital que vai ser construído, é

uma clínica, e vai ser paga pela Câmara. Na Madeira, ainda está em análise, como se ainda mais análise fosse

necessária. E, vergonhosamente, esquecem-se de referir a maternidade de Coimbra ou o hospital do Algarve,

que tem sido dito que eram prioridade.

Continuamos a ver que nos cuidados primários não há uma aposta real. A aposta nos médicos de família

para todos os utentes continua a ser uma miragem, continuamos muito aquém da meta das unidades de saúde

familiares, de camas de cuidados continuados, de paliativos. Nada disto é uma prioridade para o Governo, o

que se traduz em pior saúde para os portugueses.

Em alguns casos, os tempos de espera para uma primeira consulta de especialidade atingem os três anos.

No caso da diabetes, verifica-se aumento da carga da doença — temos mais de 1,3 milhões portugueses com

diabetes, e esses números aumentam de ano para ano.

Quanto aos profissionais de saúde, ainda hoje, Sr. Ministro das Finanças, estão em greve os técnicos

superiores de diagnóstico e terapêutica. O senhor, em sede de Comissão, tinha dito que tinha resolvido o

problema, mas, afinal, o acordo coletivo está por ser assinado. Tal como os médicos, em relação aos enfermeiros

e demais profissionais vemos que os números que o Sr. Ministro anuncia de contratações são insuficientes, não

são sequer suficientes para cobrir, para fazer o break even das 35 horas.

O Programa de Estabilidade, infelizmente, traduz o que temos visto no terreno, ou seja, que a saúde não é

uma prioridade para este Governo. Precisamos de menos palavras e de mais ação, precisamos que se invista

mais na saúde dos portugueses. Para quando, Sr. Ministro?

Aplausos do PSD.

O Sr. Presidente: — Para concluir este grupo de pedidos de esclarecimento, tem a palavra o Sr. Deputado

André Silva.

O Sr. André Silva (PAN): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Sr. Ministro Mário Centeno, chegamos

ao debate de execução do Plano Nacional de Reformas e do Programa de Estabilidade e Crescimento com uma

meta do défice de 0,7%, indicador que supera as estimativas de há uns meses. Esta nova meta possibilita uma

almofada financeira adicional no valor de cerca de 1000 milhões de euros. Perante estes dados, a opção política

do Governo centra-se em manter esta nova meta do défice, em não fazer investimentos públicos adicionais e

em tentar reduzir a dívida pública.

Gostávamos de saber quais são os critérios que levam o Governo a optar por esta solução e por não

aproveitar esta margem orçamental para investir em setores que, todos sabemos, necessitam de ser reforçados,

como sejam os da saúde, da escola pública, da cultura ou do ambiente.

O que é que o Sr. Ministro do Ambiente, o que é que os portugueses e o País, o que é que todos nós

ganhamos a médio e a longo prazo com esta opção do Governo, por oposição a possíveis investimentos públicos

com benefícios imediatos em setores fundamentais que estão, todos sabemos, debilitados?

O Sr. Presidente: — Para responder, tem a palavra o Sr. Ministro das Finanças.

O Sr. Ministro das Finanças: — Sr. Presidente, Sr. Deputado João Paulo Correia, é verdade que há uma

certa confusão entre receita fiscal e carga fiscal. O maior aumento do indicador do rácio entre a receita e o PIB

dá-se, efetivamente, em impostos onde não houve alteração das taxas. Isto é verdade, seguramente, na taxa

contributiva para a segurança social, onde todos sabemos que é o crescimento fortíssimo do emprego e dos

salários que justifica a evolução do indicador, no IRC e no IVA. No IRC, acresce que, em 2017, há uma receita

extraordinária de 235 milhões de euros, não repetível, e que, portanto, não se vai repetir em 2018 e que tem ser

tida em conta nessa análise.

É verdade também, Sr. Deputado, que a despesa na saúde, após uma queda de 1100 milhões de euros em

quatro anos, recuperou, entre 2016, 2017 e 2018, 700 milhões de euros e está a crescer, em números que

comparam o início de 2018 com o início de 2015, 13%.

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Esta é a realidade! Este é o investimento que temos feito na saúde. E também é verdade que há um reforço

no investimento em áreas estratégicas – aliás, identificadas, claramente, no Programa de Estabilidade – e que

vão continuar a ser feitos esses investimentos.

O Sr. Deputado Emídio Guerreiro fez aqui um apelo ao controlo do crédito ao consumo, nomeadamente ao

consumo de produtos nocivos para o ambiente. É uma estratégia possível, mas não é a estratégia deste

Governo. É verdade que o controlo do crédito ao consumo, no exemplo que acabou de dar, é uma medida de

política económica muito clara. Não é pela receita fiscal, Sr. Deputado, pois a receita fiscal desse aumento é

muito reduzida; é pelo sinal que devemos, numa ótica macroprudencial, dar aos consumidores deste País face

ao acesso ao crédito e a não viver os problemas que vivemos há muito pouco tempo.

A verdade, Sr. Deputado, é que o cenário macroeconómico está também a ser cumprido nas dimensões em

que o Sr. Deputado referiu. O PIB nominal, que estimávamos que crescesse 16,4% entre 2015 e 2018 crescerá

16%, o que é uma diferença muito pequena. As exportações crescerão mais 2% do que aquilo que tínhamos no

cenário macroeconómico.

A verdade é que o cenário macroeconómico está a ser cumprido não apenas na dimensão orçamental mas

também na dimensão macroeconómica. Este cenário foi muito incompreendido quando foi apresentado e hoje

ainda não tiveram oportunidade de o entender.

Mas a verdade é que quando este Governo tomou posse a economia portuguesa estava parada. A economia

portuguesa deixou de crescer no segundo semestre de 2015. E estava parada sabe porquê? Porque estávamos

entretidos em «totoimpostos», como, por exemplo, na fábula da devolução da sobretaxa. A verdade é que a

sobretaxa foi devolvida aos portugueses por este Governo de forma faseada, conforme o previsto e de forma

responsável.

Sr.ª Deputada Heloísa Apolónia,…

O Sr. Presidente: — Sr. Ministro, já ultrapassou o tempo de que dispunha. Peço-lhe para ser sintético.

O Sr. Ministro das Finanças: — Vou concluir, Sr. Presidente, e vou ser rápido na resposta a estas últimas

questões.

Sr.ª Deputada Heloísa Apolónia, a verdade é que o aumento de impostos tinha sido colossal – foi o termo

que foi usado – e não há folga orçamental. Na verdade, não há folga orçamental. Nós temos, hoje, menos 455

milhões de euros de juros pagos, 1000 milhões de euros no fim do Programa de Estabilidade, mas essa

dimensão tem de ser acautelada, porque senão, tal como eles apareceram e desapareceram, vão voltar a

aparecer, Sr.ª Deputada.

A sustentabilidade…

O Sr. Presidente: — Queria concluir, Sr. Ministro.

O Sr. Ministro das Finanças: — A sustentabilidade – também para responder ao Sr. Deputado André Silva

– das políticas deve ser analisada no âmbito do Programa de Estabilidade numa lógica de equilíbrio e de reforço

das condições orçamentais.

Sr. Deputado Ricardo Baptista Leite, gostaria de saber o que é que o Sr. Deputado sofreu ao longo de quatro

anos quando a saúde perdeu 1100 milhões de euros. A verdade é que nós, hoje, repusemos esses valores,

repusemos o emprego e repusemos o investimento.

Aplausos do PS.

O Sr. Presidente: — Srs. Deputados, vamos agora entrar no período de apresentação dos diversos projetos

de resolução em debate.

Tem a palavra o Sr. Deputado Pedro Mota Soares para apresentar o projeto de resolução n.º 1511/XIII (3.ª).

O Sr. Pedro Mota Soares (CDS-PP): — Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Sr.as e Srs. Deputados:

Este é o terceiro Programa de Estabilidade e Programa Nacional de Reformas apresentado pelo Governo do

Partido Socialista com o suporte do BE, do PCP e do PEV.

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Pela terceira vez, percebemos que não é o Governo das esquerdas «encostadas» que assegurará as

mudanças de que precisamos para consolidar o crescimento da nossa economia.

Num mundo cada vez mais global, veloz e competitivo, espera-se ambição, espírito e ação reformista.

No entanto, o plano apresentado pelo Governo revela, pela terceira vez consecutiva, imobilismo,

conformismo, paralisia reformadora – o «poucochinho socialista» – tudo disfarçado com um verniz orçamental

que de repente passou a ser o alfa e o ómega deste Governo.

Sucede que esta performance orçamental assenta no agravamento da carga fiscal, uma carga fiscal colossal,

a mais alta dos últimos 22 anos, e numa opção deliberada pela consolidação à custa da qualidade dos serviços

públicos.

Aplausos do CDS-PP.

Não se trata, pois, de um Governo com um mau plano nacional de reformas; trata-se de um mau Governo

com um mau plano nacional de reformas, que está assente numa má e irresponsável estratégia orçamental.

Não será o CDS a pôr em causa a necessidade de consolidarmos as contas públicas. Perante as dificuldades

e os bloqueios que Portugal ainda enfrenta — a terceira maior dívida da União Europeia, o segundo maior défice

da União Europeia, a produtividade em queda —, a consolidação das finanças afigura-se como condição

absolutamente indispensável para corrigir os desequilíbrios e para instalar a confiança que permite um

crescimento sólido, sustentado e durável.

O que está em causa é a forma como o Governo está a fazer esta mesma consolidação. Não podemos

ignorar que a opção do Governo foi a de arrecadar o máximo possível de impostos — veja-se o caso do imposto

sobre os combustíveis, em que em cada 10 € de gasolina 6,20 € vão diretos para o bolso das finanças — e em

fazer recair a totalidade dos cortes na despesa nos serviços públicos, partindo de um princípio que é

profundamente injusto e penalizador, mas que nunca foi declarado — o de que é preferível trocar a satisfação

dos utentes pela satisfação dos funcionários.

Não tem de ser assim, não deveria ser assim, porque não é possível olhar para os serviços públicos

ignorando, não querendo saber, colocando na gaveta as suas necessidades de financiamento e, acima de tudo,

as suas necessidades de investimento já tão atacadas, que já sofreram tanto durante o período da bancarrota.

Houve uma reposição mais veloz de rendimentos, sim, uma reposição que não colocámos em causa e que

defendíamos a um ritmo diferente. Mas houve uma muito mais significativa redução do investimento público

nestas áreas, com particular incidência nas despesas de investimento, e o caso da saúde é paradigmático, onde

houve uma redução de 25% das despesas de investimento.

O resultado está à vista: uma enorme fragilidade na resposta social nos domínios da saúde, da educação,

dos transportes, da formação profissional e da proteção social. E milhões de euros cativados. E vetos de gaveta.

E milhões de utentes à espera de uma autorização de despesa que nunca chega.

O Sr. Jorge Machado (PCP): — E o que é que vocês fizeram?!

O Sr. Pedro Mota Soares (CDS-PP): — Não há página de austeridade que se vire quando os serviços

públicos entram em colapso só para o Ministro fazer um brilharete orçamental.

Mas também está em causa o método da consolidação orçamental. O CDS entende que, para configurar

uma estratégia de consolidação orçamental que gere um crescimento sustentável e perdurável, o Estado deve

contar certamente com a ajuda do numerador — o défice — mas também tem de contar com a ajuda do

denominador — o produto e o seu crescimento.

É por isso que precisamos de reformas sustentáveis e duradouras, que se enquadrem nas regras europeias

— obrigações não negligenciáveis para o nosso País — e que evitem que Portugal volte a cair numa situação

de dependência de credores externos semelhante à que o PS nos colocou em 2011.

Uma carga fiscal colossal — a mais alta de sempre — asfixia o crescimento sustentado da economia e

inviabiliza a tomada de decisões que reduzam de forma correta o peso do Estado.

Pode acreditar-se num Governo que, num mundo tão dominado pela mudança, se recusa a mudar o que

quer que seja? Um Governo que, por convicção própria ou por ordem dos seus apoiantes, se recusa a

modernizar o País, a fazer qualquer reforma?

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E, Sr. Ministro das Finanças, não é sério, em 2018, perante a maior carga fiscal e contributiva de que há

memória, vir dizer que só lá para 2022 é que vai haver margem para baixar o IRS.

O Sr. João Galamba (PS): — O IRS baixou neste ano! E no ano passado e no outro ano!

O Sr. Pedro Mota Soares (CDS-PP): — O Ministro das Finanças que o faz é um misto de cartomante e de

vendedor de banha da cobra.

Inaugura aqui, hoje, uma nova disciplina: o horóscopo fiscal. Há uma previsão lá para 2022 de,

eventualmente, podermos vir a descer o imposto sobre o rendimento. Não é sério, Sr. Ministro!

Aplausos do CDS-PP.

Pela nossa parte, o que propomos em matéria fiscal é simples.

Primeiro: propomos que o Governo cumpra a palavra que deu aos portugueses e que baixe já, com efeitos

imediatos, a sobretaxa de 6 cêntimos que colocou sobre o gasóleo e a gasolina, dizendo que queria garantir a

neutralidade fiscal. Cumpra a palavra que deu, Sr. Ministro! Baixe já este imposto!

Segundo: propomos que o Governo retome o quociente familiar em IRS, ajudando as famílias que têm filhos

e as que querem ter mais filhos, promovendo a natalidade de que o nosso País precisa tanto, mas garantindo

também uma maior justiça social, tal como foi explícito no último relatório da Comissão Europeia, que diz que o

novo modelo de IRS é mais injusto e desigual.

Terceiro: propomos que retome a descida programada da taxa de IRC, 1 ponto por ano, até aos 17%,

ajudando a recuperar o investimento interno e externo, especialmente o de base industrial, que está em queda

desde 2015.

Quarto: propomos que crie um estatuto de benefício fiscal para o interior do País, que crie uma zona franca

fiscal e regulatória que torne o interior de Portugal a melhor zona da Europa para se testar uma ideia, para se

testar um negócio, promovendo, assim, a coesão territorial.

Aplausos do CDS-PP.

Quinto: propomos que inscreva no plano de estabilidade 2018-2022 uma descida sustentada e programada,

ao longo dos próximos anos, da carga fiscal, com especial incidência na atração de investimento, no crescimento

da economia e no alívio da carga fiscal sobre as famílias.

É a terceira vez que o CDS leva este Programa de Estabilidade a votos. Na próxima quinta-feira teremos de

ter, aqui, uma clarificação.

O Bloco de Esquerda, o Partido Comunista e Os Verdes têm tempo, até à votação, para pensa, têm uma boa

solução: votem a resolução do CDS que recusa este Programa de Estabilidade.

Aplausos do CDS-PP.

O Sr. Presidente: — Sr. Deputado Pedro Mota Soares, o Sr. Deputado João Galamba inscreveu-se para lhe

pedir esclarecimentos, mas já não tem tempo para responder.

Não sei se o Sr. Deputado João Galamba mantém a inscrição para formular o pedido de esclarecimento, o

qual, depois, não terá resposta.

O Sr. João Galamba (PS): — Sr. Presidente, mantenho a inscrição.

O Sr. Presidente: — Tem a palavra.

O Sr. João Galamba (PS): — Sr. Presidente, Sr.as Deputadas e Srs. Deputados, o CDS inventou agora uma

nova moda, que é fazer render o peixe todos os anos inventando aumentos de impostos que não ocorreram.

Risos do PS.

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Sr. Deputado, não houve aumento do ISP em 2016, em 2017 e em 2018. Houve um aumento do ISP em

2016, que, aliás, nem é aquele que o senhor referiu, porque, sim, o ISP aumentou 6 cêntimos no início de 2016,

mas depois desceu 2. Nem sequer são os 6 cêntimos que refere e, sobretudo, não são os 6 cêntimos nestes

anos todos; o aumento foi feito uma vez, em 2016. O facto de não haver nenhum aumento do ISP em 2018 e

de o CDS ir repristinar um aumento de impostos que aconteceu há dois anos é bem revelador do facto de o CDS

falar de um Programa de Estabilidade e de uma realidade que não existem.

Chegámos ao ponto — ao ridículo! —, Sr. Deputado, de pedir ao Ministro das Finanças que desça um imposto

que acabou de baixar. O Sr. Deputado diz: «desça o IRS». Mas o IRS baixou neste ano. Aliás, baixou em 2016,

baixou em 2017 e vai baixar em 2018 e em 2019, porque a baixa anunciada neste Orçamento repercute-se em

dois anos. Portanto são quatro anos seguidos de redução de IRS.

Os senhores aumentaram o IRS em 3000 milhões de euros. Este Governo e esta maioria — em decisões já

tomadas, não é por tomar —, baixou-o em 1500 milhões, Sr. Deputado! Portanto, o que quer é que se baixe

ainda mais do que já se baixou! Se tivermos espaço para isso, fá-lo-emos mas, Sr. Deputado, tem, ao menos,

de reconhecer as descidas de impostos que já existiram.

Sobre o quociente familiar, vamos lá ver se nos entendemos: nós percebemos que o CDS queira regressar

a um mundo de uma forte regressividade no IRS, em que um filho de um rico valha mais, muito mais, do que

um filho de um pobre.

Vozes do PS: — Bem lembrado!

O Sr. João Galamba (PS): — Mas o que este Governo fez, Sr. Deputado, não foi dar nem menos um cêntimo

às famílias com filhos, foi dar muitos mais cêntimos, aliás muitos mais euros a todas as famílias com filhos, quer

através do IRS, tornando igualitário o apoio que os senhores tornaram desigualitário e, já agora, aumentando

uma verba muito importante — porque uma parte significativa das famílias portuguesas não paga o IRS — que

é via abono, que foi aumentado, e via, Sr. Deputado, RSI, em que os senhores prejudicaram milhares de famílias

portuguesas e que este Governo aumentou.

Portanto, Sr. Deputado, para concluir, em relação a menos IRS, já está feito e está em curso. Quanto a maior

justiça social e apoio às famílias, também já está feito.

Aplausos do PS.

O Sr. Presidente: — Sr. Deputado Pedro Mota Soares, o PS cede 20 segundos ao CDS para que possa

responder.

Tem a palavra.

O Sr. Pedro Mota Soares (CDS-PP): — Sr. Deputado, começo por agradecer ao PS a cedência de tempo.

Sr. Deputado João Galamba, lembro-me de quando o senhor se queixava do enorme aumento de impostos.

Sr. Deputado, olhe para a realidade.

O Sr. João Galamba (PS): — É isso que faço!

O Sr. Pedro Mota Soares (CDS-PP): — Esse enorme aumento de impostos foi ultrapassado agora com a

carga fiscal e contributiva mais elevada de sempre. É uma carga fiscal colossal! E a responsabilidade dessa

carga fiscal é do Governo que o senhor apoia conjuntamente com o Bloco de Esquerda, com o Partido

Comunista e com Os Verdes.

Aplausos do CDS-PP.

A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — Sabe que isso não é verdade!

O Sr. Pedro Mota Soares (CDS-PP): — Aproveito ainda para lhe responder a duas matérias.

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Em primeiro lugar, em relação ao imposto sobre combustíveis,…

O Sr. Presidente: — Sr. Deputado, já ultrapassou o seu tempo.

O Sr. Pedro Mota Soares (CDS-PP): — … o Sr. Deputado sabe que foi este Governo que prometeu a

neutralidade fiscal, isto é, que se o petróleo subisse e arrecadasse mais em IVA baixava o ISP. Foi este Governo

que falhou à palavra que deu.

O Sr. Presidente: — Tem de concluir, Sr. Deputado.

O Sr. Pedro Mota Soares (CDS-PP): — Já agora, Sr. Deputado, sobre o IRS, recomendo-lhe só a leitura do

relatório da Comissão Europeia.

É a Comissão Europeia que diz que este modelo de IRS é mais desigual, mais injusto e, por isso mesmo, o

modelo do quociente familiar é mais justo para as famílias e, acima de tudo, viabiliza e promove a natalidade,

de que muito precisamos em Portugal.

Aplausos do CDS-PP.

O Sr. Presidente: — Tem a palavra, para uma intervenção, o Sr. Deputado Pedro Filipe Soares.

O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Sr.as Deputadas e Srs.

Deputados: Quando iniciámos este processo político de reposição de rendimentos, logo nas primeiras

discussões vinha em cima da mesa a tal afamada frase de «virar a página da austeridade».

A tradução deste termo, por parte do Sr. Ministro das Finanças, aqui, na Assembleia da República, foi a

seguinte: «virar a página da austeridade não significa governar sem rigor e sem exigência fora de um quadro de

restrições; significa, pelo contrário, ter a noção exata dos problemas com que o País se confronta e das suas

causas, mas ter a coragem e a determinação de fazer escolhas para os resolver». E continuava: «O Estado

deve, em cada momento, analisar o que a economia lhe transmite e ajustar a sua política de forma a potenciar

o crescimento económico e a justiça social».

Este é um ponto fundamental para o debate de hoje: em cada momento analisar o que a economia lhe

transmite.

Por isso, Sr. Ministro das Finanças, o que temos hoje em debate, na Assembleia da República, é o confronto

com as palavras do Sr. Ministro, nesta Assembleia da República, e com as palavras do Governo na prossecução

de uma política económica diferente e de uma justiça social de valorização dos serviços públicos.

Dizia o Sr. Primeiro-Ministro, António Costa, quando discutíamos o Orçamento do Estado para 2018: «Temos

vontade de reforçar o investimento na área da cultura, da educação, da ciência e da saúde, mas não temos folga

financeira e, por isso, não podemos dar passo maior do que a perna».

O que mudou, então, desde 2015? O que mudou, então, desde novembro de 2018? O que mudou, então,

em quatro meses, desde que este Orçamento do Estado está a ser levado por diante? E a resposta é: nada que

mereça a revisão da meta do défice e, acima de tudo, tudo o que justifique a manutenção da linha política

defendida pelo próprio Governo quando discutia o Orçamento do Estado para 2018.

Quando constatamos que, afinal, havia uma folga orçamental, em 2017, que promove uma melhoria das

contas públicas para 2018, a pergunta inequívoca é: o que fazer com essa folga orçamental? E a resposta

estranha a um Ministro das Finanças que dá a resposta que dava em 2015, que fazia as promessas que fazia

em 2018 e a um Primeiro-Ministro que garantia que a prioridade era o Estado social, os serviços públicos, a

saúde e a educação, é que, afinal, essa folga seja dirigida para uma meta abstrata de défice, para Bruxelas ver,

mas para os serviços públicos continuarem a sofrer. Isso é que, para nós, não é compreensível.

Da parte do Bloco de Esquerda, defendemos credibilidade e estabilidade. Curiosamente, as mesmas

palavras que o Sr. Ministro das Finanças, hoje, aqui disse: credibilidade e estabilidade. A credibilidade de um

Governo que tem uma palavra e que não foge a ela, que quando diz que a prioridade é a revalidação e a

valorização dos serviços públicos é essa a prioridade que leva por diante quando o pode fazer. A estabilidade

de quem, a meio do ano, não vai rever metas do défice sem nada de extraordinário ter acontecido, e essa é a

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estabilidade que exigimos. Porque adiar as despesas necessárias para a execução orçamental, para os serviços

públicos não é uma boa execução.

O que é que dizia sobre isto o Sr. Ministro das Finanças, ainda há pouco tempo? Dizia ele: «Nós não

alinhamos na estratégia de destruição dos serviços do Estado, essa, sim, uma política despesista».

Ora, Sr. Ministro das Finanças, é exatamente para evitar esse despesismo que queremos que o Governo

mantenha aquilo que propôs à Assembleia da República e que a Assembleia da República aprovou. É que não

faça a revisão de metas do défice, que, havendo uma folga, não seja para uma política despesista que deixe

novamente os serviços públicos com ausência de investimento necessário. Isso é o fundamental da proposta do

Bloco de Esquerda que está em cima da mesa.

O desafio que aqui se coloca é a todas as Deputadas e a todos os Deputados que votaram o Orçamento do

Estado, dizendo-lhes que não havia folga, em particular às Sr.as Deputadas e aos Srs. Deputados do Partido

Socialista.

Imagino que todas e todos vós, como os Deputados e as Deputadas do Bloco de Esquerda, querem um

melhor Serviço Nacional de Saúde, querem dizer aos médicos em falta que têm lugar numa saúde pública, aos

professores que eles são valorizados na escola pública, aos portugueses e às portuguesas, a todos os cidadãos

e a todas as cidadãs que há serviços públicos de qualidade que não os deixam ficar para trás nem lhes faltam

quando lhes fazem falta. Por isso pergunto: o que é mais importante? Metas de défice, sem qualquer tipo de

validade para Bruxelas, que não as exige, sem qualquer tipo de alteração na dívida pública, porque não há

qualquer tipo de alteração — a manutenção do investimento público e as metas do défice estão previstos até na

margem orçamental do Governo —, ou a garantia de responder àqueles e àquelas que, em 2015, começaram

a acreditar que havia uma política diferente daquela com que a direita tinha desgovernado o País durante quatro

anos?! Essa é a resposta essencial.

Da parte do Bloco de Esquerda, não faltámos à nossa palavra. Dissemos que cá estaríamos para apoiar

Orçamentos do Estado que garantissem a valorização dos serviços públicos, cá estaríamos para disputar todas

as folgas orçamentais para fazer aquilo que não foi feito anteriormente e para resgatar os serviços públicos da

destruição da direita.

O Sr. Presidente: — Já ultrapassou o tempo de que dispunha, Sr. Deputado.

O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Termino, Sr. Presidente, dizendo que continuamos iguais na nossa

palavra e naquilo que votámos no Orçamento do Estado para 2018. Achamos estranho é que, em nome do

défice, o Governo queira fazer diferente.

O Sr. Presidente: — Faça favor de concluir, Sr. Deputado.

O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Está na mão das Deputadas e dos Deputados que votaram o Orçamento

dizer ao Governo que não conta connosco para fazer brilharetes em Bruxelas enquanto os serviços públicos

sofrem.

Aplausos do BE.

O Sr. Presidente: — Srs. Deputados, temos uma situação parecida com a de há pouco, ou seja, inscreveu-

se para pedir esclarecimentos o Sr. Deputado Carlos Peixoto e o Sr. Deputado Pedro Filipe Soares não tem

tempo para responder. Se o Sr. Deputado Carlos Peixoto, mesmo assim, quiser intervir, faça favor.

O Sr. Carlos Peixoto (PSD): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, Srs. Membros do Governo:

Debatemos hoje, aqui, o Programa de Estabilidade do Governo, mas também podemos debater o «programa

de instabilidade» do Bloco de Esquerda.

O Bloco é contra as metas do défice.

A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — Não, não!

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O Sr. Carlos Peixoto (PSD): — O Bloco assume que a estratégia do Governo está errada.

O Bloco acha que o País está no mau caminho com este Programa de Estabilidade.

O Bloco até diz, sem papas na língua, que o Governo não respeitou os objetivos que balizou nas negociações

que com ele fez para o Orçamento do Estado para 2018.

O Bloco, fiel e duradouro amparo do Governo, vem, pois, apresentar-se aqui como uma vítima despeitada,

desrespeitada e desconsiderada pelo Governo.

Em bom português, Sr.as e Srs. Deputados, o que isto significa é que o Dr. António Costa está a «fazer gato-

sapato» do Bloco,…

O Sr. Emídio Guerreiro (PSD): — É verdade!

O Sr. Carlos Peixoto (PSD): — … obrigando-os a «engolir sapos», sem se enfartarem, pois, em face da

palavra dada e não honrada, o Bloco, ao bom estilo daqueles que dizem «agarrem-me, senão mato-os», não é

capaz de ser consequente e seguir o seu rumo, preferindo aninhar-se subservientemente ao Partido

Socialista,…

A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — Mas não era ao contrário?!

O Sr. Carlos Peixoto (PSD): — … como um lobo com pele de cordeirinho.

Vozes do PSD: — Muito bem!

O Sr. Carlos Peixoto (PSD): — Se o PS, como dizem, não quer cumprir os acordos que fez com o Bloco de

Esquerda, temos de perguntar se os senhores se sentem bem com isso ou se, ao contrário, se sentem usados

e descartados.

Melhor não é possível ao ouvir a líder do Bloco de Esquerda, quando afirma que o Dr. Centeno está a fazer

igual ao Dr. Vítor Gaspar, que o Bloco criticou impiedosamente — lembram-se?! — por ser o expoente máximo

da austeridade.

Então, e agora, depois de encontrarem este novo austero, mas com a versão de 2017/2018, e de estarem

declaradamente contra o caminho que o Governo está a traçar, os senhores estão dispostos a viabilizar esta

solução de Governo?! Os senhores estão dispostos a viabilizar o próximo Orçamento do Estado?!

A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — Não tem mais nada para dizer?!

O Sr. Carlos Peixoto (PSD): — Digam lá o que é que os senhores farão se o Partido Socialista não votar o

vosso projeto de resolução, como, aliás, tudo indica que vai acontecer?! Clarifiquem lá, por favor, se vão

continuar «casados» até ao fim ou se rompem o vosso contrato.

Chegou a hora, Srs. Deputados, de clarificarem se querem ou não aderir aos vossos princípios e convicções

ou se preferem continuar a ser marionetas do Partido Socialista, aprovando o que não querem que se aprove.

Levem, por favor, a vossa ideia até ao fim ou tudo o que ensaiaram não passa de uma encenação absolutamente

indisfarçável.

Para terminar, vamos lá ver se nos entendemos: os senhores são ou não são também, todos, Centeno?!

A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — Isso já é da semana passada!

O Sr. Carlos Peixoto (PSD): — É que se o não são, peçam desculpa aos portugueses pelas críticas ferozes

que fizeram ao anterior Governo, que tentou controlar o défice; se o são, assumam-no de uma vez.

Só vos resta um caminho. Sejam coerentes e tenham a coragem de tirar ao Governo o tapete que lhe mantêm

debaixo dos pés há mais de três anos.

Aplausos do PSD.

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A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — Queriam! Para vos dar a vocês!…

O Sr. Presidente: — Tem, agora, a palavra, para uma intervenção,…

O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Sr. Presidente, peço desculpa, permite-me o uso da palavra?

O Sr. Presidente: — Pede a palavra para que efeito, Sr. Deputado?

O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Para uma interpelação à Mesa, sobre a condução dos trabalhos, Sr.

Presidente.

O Sr. Presidente: — Faça favor, Sr. Deputado.

O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Sr. Presidente, gostaria de perguntar se aquilo a que assistimos, da parte

do PSD, foi uma pergunta ou uma intervenção, porque, se foi uma pergunta…

O Sr. Presidente: — Foi uma pergunta para cuja resposta o Bloco de Esquerda não dispõe de tempo, tal

como sucedeu, há bocadinho, com o PS.

O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Mas, se o PSD nos ceder tempo, nós poderemos responder à pergunta.

O Sr. Presidente: — Não se importa de repetir, Sr. Deputado?

O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Imagino que o PSD terá interesse em ouvir uma resposta, pelo que, se

nos ceder tempo, nós podemos…

O Sr. Presidente: — Sr. Deputado, essa é uma questão em que a Mesa não costuma intervir.

Tem a palavra o Sr. Deputado Carlos Peixoto.

O Sr. Carlos Peixoto (PSD): — Sr. Presidente, teríamos todo o gosto em ceder tempo ao Bloco de Esquerda,

mas o tempo de que dispomos está gerido por forma a que os próximos colegas façam outras intervenções.

Portanto, o Bloco de Esquerda responderá posteriormente.

O Sr. João Oliveira (PCP): — Fazem uma coisa camiliana: trocam umas missivas!

O Sr. Presidente: — Fica claro, Sr. Deputado.

Tem, então, a palavra, para uma intervenção, o Sr. Deputado Duarte Pacheco, do PSD.

O Sr. Duarte Pacheco (PSD): — Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Sr.as e Srs. Deputados: Perante

o Programa de Estabilidade apresentado pelo Governo, o Partido Social Democrata evidencia uma concordância

de fundo e uma divergência de fundo. Concordância face à vontade de redução do valor do défice; divergência

face à dimensão da carga fiscal prevista.

Vejamos o valor do défice.

Primeiro, em Portugal, já não devia existir discussão sobre a necessidade de reduzir o défice e de ter contas

públicas equilibradas. Mais do que um compromisso externo, este é um dever com as gerações presentes e

futuras de portugueses.

É, pois, positivo manter-se uma rota de redução e de eliminação do défice do Estado. Devemos sempre

recordar que mais défice significa mais dívida, ou seja, agravar os encargos para as próximas gerações. Logo,

não se pode abandonar o rumo iniciado pelo Governo anterior, e o Governo atual faz bem em prosseguir esse

caminho.

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É verdade que estamos longe do valor de 11% de défice, que foi registado em 2010, e que foi reduzido para

3% em quatro anos, e é também verdade que hoje o valor é mais baixo. Mas, na realidade, Sr.as e Srs.

Deputados, ainda temos défice, pelo que qualquer ideia sobre a existência de uma folga é pura ficção.

Segundo, Portugal registou em 2017, se retirarmos os valores referentes à entrada de capital na Caixa Geral

de Depósitos, um valor para o défice de cerca de 0,9% do PIB. Se não mantivéssemos uma trajetória de redução,

isso daria um mau sinal sobre o nosso País, afetaria a credibilidade de Portugal e teria consequência direta nos

custos do nosso financiamento.

Se temos vindo a fazer poupanças significativas no volume de juros pagos pelo capital em dívida, seria quase

criminoso pôr isso em causa, invertendo em 2018 o rumo de redução e de eliminação do défice público.

Terceiro, é especialmente numa fase favorável, de crescimento económico, com uma conjuntura externa

propícia, que se devem desenvolver os maiores esforços para alcançar essa redução. Aliás, se não

aproveitarmos esta fase para reduzir e anular o défice público, então, dificilmente alguma vez o faremos. Claro

que lamentamos o quão modesto é o processo de consolidação em 2018 e 2019, que assenta essencialmente

na redução do montante de juros…

O Sr. João Oliveira (PCP): — Para o PSD ainda é pouco!

O Sr. Duarte Pacheco (PSD): — … e no efeito estatístico do crescimento da economia.

Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: O PSD tem várias discordâncias com aquilo que o Governo apresenta

neste Programa de Estabilidade — …

O Sr. João Oliveira (PCP): — Até agora não parece!

O Sr. Duarte Pacheco (PSD): — … a ausência de medidas de reforma da economia, de incentivo à

poupança, de aumento da produtividade, de fomento da natalidade, o prosseguir de uma política de investimento

público que condiciona e degrada a qualidade dos serviços, levando-os a uma situação de penúria e de falhanço

do próprio Estado, seja na proteção civil, na saúde, na educação, só para dar alguns exemplos.

Mas a divergência mais profunda com a proposta do Governo está na continuação de uma política que

mantém a carga fiscal em valores record. Na realidade, o Governo segue uma estratégia bem firme de aumento

de impostos, de aumento da carga fiscal.

Sem complexos, afirmamos que nós, no Governo, estaríamos a proceder a uma descida gradual da carga

fiscal. E isto é coerente com a nossa atuação no Governo, pois, passado o pico da crise, foi o que fizemos ao

nível do IRC e hoje estaríamos também a fazê-lo ao nível da fiscalidade das famílias.

A estratégia governamental de manter a carga fiscal é errada, por duas razões: primeiro, porque uma redução

do défice baseada essencialmente no aumento de impostos não é uma consolidação sustentável; segundo,

porque uma carga fiscal tão elevada como a que Portugal regista afeta a competitividade da economia,

impedindo-a de atrair investimento e de potenciar mais crescimento.

Reafirmo, Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, que uma estratégia de redução da carga fiscal, primeiro

nas empresas e depois nas famílias, é a mais correta para promover o crescimento económico e o

desenvolvimento social que todos ambicionamos. E, Srs. Deputados, isto não é retórica política nem discurso

de oposição.

Vamos aos factos, pois a realidade é o que é: o País está anestesiado com o crescimento de 2,7% da nossa

economia ocorrido em 2017. É um bom valor, em termos absolutos — ninguém o nega —, mas é preciso também

registar que, em termos relativos, dos 27 Estados-membros da União Europeia 19 cresceram mais do que

Portugal. Esta é a verdade!

O Sr. João Oliveira (PCP): — Sempre vão apoiar o Governo nas votações!…

O Sr. Duarte Pacheco (PSD): — Mas em 2018 a situação é semelhante — a Comissão Europeia prevê que

21 países da União cresçam mais do que Portugal. E se formos para o período em análise, até 2023, o FMI

prevê que, na zona euro, só a Itália cresça menos do que Portugal.

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Aliás, o próprio Governo reconhece que está esgotado e que é incapaz de manter uma política de

convergência com a União Europeia, pelo que assume já que vamos crescer menos do que em 2017, apesar

de não conseguir, mesmo assim, explicar os objetivos a que se propõe.

Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: A orientação estratégica do Partido Social Democrata é, pois, clara

para Portugal — reformar áreas essenciais para promover a produtividade da nossa economia, baixar a carga

fiscal para potenciar mais crescimento económico, numa rota de convergência com a Europa, sem pôr em causa

a política de consolidação das contas públicas. Desse modo, teremos mais crescimento e melhor Estado.

É por isso que não temos qualquer hesitação em dizer aquilo em que concordamos e aquilo em que

divergimos do Governo, pois os portugueses sabem que a ambição, a vontade de fazer mais e melhor, de querer

Portugal no pelotão da frente, rima com Partido Social Democrata.

O Sr. João Oliveira (PCP): — Mas olhe que é uma rima pobre!

O Sr. Duarte Pacheco (PSD): — É essa a nossa história e decerto que será esse o nosso futuro, a bem de

Portugal.

Aplausos do PSD.

O Sr. Presidente: — Inscreveu-se, para pedir esclarecimentos, a Sr.ª Deputada Margarida Marques, do PS,

pelo que tem a palavra.

A Sr.ª Margarida Marques (PS): — Sr. Presidente, Srs. Deputados, Srs. Membros do Governo:

Congratulamo-nos com o debate do Programa de Estabilidade e do PNR (Programa Nacional de Reformas)

aqui, na Assembleia. É uma oportunidade de o Parlamento se pronunciar livremente sobre a participação de

Portugal no projeto europeu, neste caso, na coordenação das políticas económicas e orçamentais da União

Europeia. Ganha a democracia! Trata-se de um verdadeiro exercício de soberania.

A Sr.ª Catarina Mendonça Mendes (PS): — Muito bem!

A Sr.ª Margarida Marques (PS): — Contrariamente ao que afirma o PSD, o PNR não é mais do mesmo, é,

sim, a continuidade das políticas, é a determinação na ambição política. Uma boa parte do caminho, desenhado

no PNR de 2016, foi feita com sucesso, mas falta fazer mais para que se cumpram a ambições do País. Este

PNR, de 2018, assegura a continuidade das políticas inovando.

A iniciativa do PSD propõe, e passo a citar, «redução do défice e da dívida (…), adotando, porém, um outro

caminho de consolidação orçamental, mais saudável e sustentável». É isso que estamos a fazer, daí este

Programa de Estabilidade.

O Sr. Carlos César (PS): — Muito bem!

A Sr.ª Margarida Marques (PS): — Aliás, os «sábios» tinham razão e o Sr. Deputado Emílio Guerreiro já

lembrou aqui esse relatório, a expressão não é minha. Afinal, o programa dos «sábios» refletia a realidade e,

mais, tem-se mostrado eficiente na conceção e no cumprimento dos programas de estabilidade, mas diz o PSD,

e passo a citar, «não assente na atual estratégia». E caracteriza a estratégia do Governo: aumento da carga

fiscal, redução do investimento e aumento da despesa. Ora, a estratégia do Governo é exatamente a oposta,

como os números evidenciam. Sr. Deputado, só podemos concluir que, finalmente, os senhores podem seguir

este Programa de Estabilidade e o PNR.

Ora vejamos: se os senhores preconizam uma estratégia não assente nos três elementos que referi

anteriormente — e as palavras são vossas — então, defendem uma estratégia assente em que objetivos?

Assente na volta ao passado e às políticas de austeridade, destrutivas dos direitos das pessoas, do sistema

nacional de saúde, da escola, da política de inovação e do sistema científico, das políticas de habitação e da lei

das rendas, cujos resultados estamos a ver todos os dias?! Isso nós rejeitamos.

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Aplausos do PS.

O Sr. Presidente: — Tem a palavra, para responder, o Sr. Deputado Duarte Pacheco.

O Sr. Duarte Pacheco (PSD): — Sr. Presidente, Sr.ª Deputada, muito obrigado pela questão.

Sr.ª Deputada, limitava-me a dizer que a senhora não contrariou aquilo que afirmei, em nome do Partido

Social Democrata, o enorme aumento de impostos e agravamento fiscal que este Governo pôs em prática, de

uma forma camuflada.

Protestos do Secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares Pedro Nuno Santos.

No Orçamento de 2016, no IRC, (imposto sobre o rendimento de pessoas coletivas) foram revertidas as

medidas que tinham sido acordadas com o Partido Social Democrata; foi alterado o IMI (imposto municipal sobre

imóveis) familiar; foi aumentado o IMI para o comércio, indústria e serviços; o imposto de selo foi agravado; o

ISV (imposto sobre veículos) foi aumentado; foi reduzido o incentivo ao abate de veículos em fim de vida. Ainda

em 2016, foi criado o adicional ao ISP (imposto sobre os produtos petrolíferos e energéticos) e foi posto em

prática o IMI do sol e das vistas. Em 2017, foi criado um novo adicional ao IMI; foi criado um imposto sobre os

refrigerantes; houve o aumento da tributação do alojamento local; houve o aumento do ISP do gasóleo; houve

nova redução do incentivo ao abate de veículos em fim de vida; houve um aumento, de novo, do ISV.

Vozes do PSD: — Bem lembrado!

A Sr.ª Margarida Marques (PS): — E a resposta à minha pergunta?! Isso é a resposta à minha pergunta?!

O Sr. Duarte Pacheco (PSD): — Em 2018, face a todos estes aumentos que ocorreram, foi alterado o regime

simplificado para os trabalhadores independentes, que pagam mais IRS; acabaram alguns escalões ao nível

dos vales de educação; o IRC, numa derrama estadual, foi aumentado. E tudo isto com o apoio das bancadas

da esquerda.

Houve agravamento de impostos e, em contrapartida, uma degradação dos serviços públicos que todos

reconhecem, incluindo as bancadas à esquerda. Só os socialistas encartados e em cartazes é que não

reconhecem que, hoje, o Estado está pior do que estava e que os portugueses pagam muito mais.

Aplausos do PSD.

A Sr.ª Margarida Marques (PS): — É essa a resposta ao meu pedido de esclarecimento?!

O Sr. Presidente: — Tem a palavra, para uma intervenção, o Sr. Deputado João Oliveira.

O Sr. João Oliveira (PCP): — Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Sr.as e Srs. Deputados: O Governo

do PS faz uma opção errada ao submeter-se à União Europeia com o Programa de Estabilidade e o plano

nacional de reformas e aceitando como seus os critérios impostos pela União Europeia e pelo euro contra os

interesses nacionais.

Não é a primeira vez que isto acontece, não é exclusivo deste Governo e, tal como no passado, continua a

ser uma opção errada, que o PCP rejeita, denuncia e combate.

Trata-se de uma opção de abdicação nacional perante a União Europeia, que conta com a convergência

entre PS, PSD e CDS mas que deixa o povo e o País para segundo plano, perante critérios e metas como as

do défice e da dívida.

É uma opção que não defende o País, pelo contrário, deixa-o mais exposto e vulnerável a elementos externos

que não controla; uma opção que, no passado, em especial com a política dos PEC (Programas de Estabilidade

e Crescimento) e do «pacto de agressão», nos trouxe destruição de direitos e condições de vida; uma opção

que, nos últimos anos, limitou a reposição e conquista de direitos, impedindo que a resposta aos problemas dos

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trabalhadores e do povo fosse mais longe. Estas imposições limitam a resposta aos problemas do País e são

um travão aos avanços que é preciso alcançar.

O caminho não pode ser o da submissão aos diversos instrumentos de controlo da União Europeia e aos

seus critérios, tem de ser o da afirmação da soberania nacional. A prioridade não pode ser o cumprimento das

metas do défice ou da dívida, tem de ser a resposta aos problemas dos trabalhadores, do povo e do País. Esta

tem de ser a meta em função da qual se devem fazer as opções políticas.

O Sr. Bruno Dias (PCP): — Muito bem!

O Sr. João Oliveira (PCP): — Quais são as metas do Governo para a contratação do pessoal em falta nos

serviços públicos?

Chegaremos ao fim da Legislatura com escolas, hospitais, centros de saúde, serviços da segurança social,

tribunais e polícias a funcionar em pleno porque têm todos os trabalhadores de que necessitam e sem vínculos

precários?

Quais são as metas do Governo para a recuperação e renovação de equipamentos e infraestruturas nos

serviços públicos, na educação, na saúde e nos transportes?

Que metas tem o Governo tem para o apoio à cultura?

Que metas tem o Governo a propor para reduzir a dependência externa do País, para reduzir os défices

produtivo, alimentar, energético, científico e tecnológico ou demográfico?

Que metas propõe o Governo para o apoio aos sectores produtivos, aos agricultores, pescadores, à indústria,

aos micro, pequenos e médios empresários?

A falta de resposta do Governo a estas questões, ao mesmo tempo que absolutiza as metas que satisfazem

as imposições da União Europeia, confirma que esta opção é contrária ao interesse nacional.

O Sr. Nuno Magalhães (CDS-PP): — E vai daí?…

O Sr. João Oliveira (PCP): — Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo Sr.as e Srs. Deputados: O Programa

de Estabilidade e o plano nacional de reformas não decidem as opções orçamentais, essas são decisões

soberanas que cabem aos órgãos de soberania nacional, mas nem por isso as opções do Governo podem ser

ignoradas ou desvalorizadas.

O Sr. Bruno Dias (PCP): — Convém não esquecer!

O Sr. João Oliveira (PCP): — Tal como o PCP tem chamado a atenção, os últimos três Orçamentos do

Estado ficaram marcados por medidas positivas mas também por limitações e insuficiências que resultam, entre

outras, da aceitação das metas do défice pelo Governo e pelo PS, opção em que é apoiado por PSD e CDS,

como, de resto, se acabou de ver.

O Sr. Bruno Dias (PCP): — Exatamente!

O Sr. João Oliveira (PCP): — Em nome das metas do défice e da insuficiência dos recursos orçamentais, o

Governo recusou maiores aumentos nas pensões e medidas efetivas de apoio às vítimas dos incêndios e de

defesa da floresta; atrasou a valorização salarial das progressões nas carreiras; recusou aumentos salariais

limitou o avanço da gratuitidade dos manuais escolares; recusou investimentos no metro de Lisboa, na Transtejo

ou na Soflusa; deixou por cumprir o compromisso relativo às longas carreiras contributivas e impediu o aumento

do orçamento para a cultura.

Agora vem anunciar a intenção de ir além das próprias metas que tinha definido, fazendo a opção de reduzir

ainda mais, e de forma mais acelerada, o défice orçamental e o pagamento de juros da dívida.

Uma coisa é o rigor das contas públicas, outra, bem diferente, é absolutizar o critério da redução do défice.

Fosse Portugal uma potência económica sem quaisquer problemas sociais e a opção poderia ser compreensível.

Perante um País marcado por graves problemas estruturais e com tantas necessidades por resolver, não se

compreende nem se aceita que seja esta a opção.

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Cada décima do défice são 200 milhões de euros e a opção que tem de ser feita é a de utilizar cada uma

destas décimas para avançar nas medidas de reposição de direitos e rendimentos, na solução dos problemas

estruturais do País.

O Sr. Bruno Dias (PCP): — Muito bem!

O Sr. João Oliveira (PCP): — Porventura, o PS e o Governo prefeririam que a discussão ficasse limitada às

opções orçamentais feitas em função da existência de folgas orçamentais ou em função das quatro décimas

que separam as diferentes previsões do défice. Compreendemos que fosse mais cómodo para o Governo, mas,

da parte do PCP, recusamos fazê-lo.

Não aceitamos como critério das opções políticas nacionais as imposições da União Europeia. Não

aceitamos que as respostas aos problemas nacionais apenas possam ser prioridade quando existam folgas

orçamentais. Não aceitamos que a resposta aos problemas nacionais seja critério secundário perante diferentes

previsões de défice que resultam, elas próprias, da aceitação das metas assumidas pelo Governo. E não

consideramos que um défice de 1,1% possa ser apontado como objetivo a alcançar, como se isto significasse

que o Orçamento que identificámos como limitado tivesse deixado de o ser.

Se o PS executar um orçamento com 1,1% de défice continuarão a faltar as décimas da resposta aos

problemas dos incêndios, do investimento na saúde, do apoio às artes, da educação, da segurança social, dos

transportes. Faltarão as décimas que correspondem às propostas apresentadas pelo PCP, rejeitadas em nome

do défice e que, afinal, se comprova que deviam ter sido consideradas.

O Sr. Presidente: — Tem de terminar, Sr. Deputado.

O Sr. João Oliveira (PCP): — Concluo, Sr. Presidente, dizendo que não queremos discutir apenas quatro

décimas de défice. Queremos discutir as opções que estão por trás de todas as décimas que se revelam

necessárias para dar prioridade à vida dos trabalhadores, do povo e do País, sem o espartilho das metas e de

outras imposições.

É este o sentido do projeto de resolução que trazemos à discussão e será este o sentido da luta que

continuaremos a travar.

Aplausos do PCP.

O Sr. Presidente: — Tem, agora, a palavra, para uma intervenção, o Sr. Deputado Carlos César.

O Sr. Carlos César (PS): — Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Sr.as e Srs. Deputados: Estamos a

concluir mais um debate sobre os programas de reformas e de estabilidade, que se articulam na definição da

estratégia para o próximo quadriénio.

Fazemo-lo com, pelo menos, três certezas sobre estes últimos dois anos e meio: o País depauperado, que

recebemos em 2015, é um País que está a ser recuperado e prestigiado. Os portugueses, que viviam em

desânimo, estão agora esperançados e empenhados e o País, e os portugueses que estamos a servir,

ganharam, ganharam com o Governo que a oposição vaticinava que os ia fazer perder.

Aplausos do PS.

Os resultados que temos conseguido mostram que valeu a pena. Continua a valer a pena trabalharmos como

temos trabalhado e trabalharmos com quem temos trabalhado.

É isso que continuaremos a fazer ao longo da execução orçamental deste ano e é isso que contamos

continuar a fazer no Orçamento de Estado para 2019, em negociação e colaboração com os nossos parceiros

parlamentares.

O Programa de Estabilidade e o plano de reformas que estivemos a debater, com as correções decorrentes

dos resultados obtidos e com as atualizações necessárias, consolidam o percurso que temos feito e

reconfirmam-no na forma e no ritmo para o prosseguir.

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Um percurso com sucesso, mas um percurso ainda incompleto. Incompleto porque são muitas as

insuficiências e os constrangimentos: por exemplo, no desempenho das administrações e dos sistemas públicos,

na concretização dos direitos laborais, nos níveis de produtividade e de qualificações da população ativa, nas

competências tecnológicas e digitais, no excessivo endividamento público e privado, na condição ainda frágil do

setor empresarial financeiro, que temos vindo a melhorar, ou na persistência de níveis elevados de pobreza e

desigualdade na distribuição de rendimentos.

Mas os sucessos são amplamente reconhecidos e continuados. A economia cresceu, apesar da descrença

da oposição; o emprego aumentou, ao contrário do que dizia a direita; as desigualdades diminuíram, mesmo

com o desinteresse do CDS e do PSD; as facilidades encontradas pelo País, pelas suas empresas e no crédito

no exterior, tornaram-se maiores.

Tudo isto ajudou, e ajuda, as nossas finanças públicas, mas isto também aconteceu, em boa parte, por causa

da credibilidade adquirida pela melhoria das contas públicas, uma melhoria que a oposição desacreditava e que

os restantes partidos desvalorizavam e ainda mostram dificuldade em compreender o seu mérito.

Nunca a economia portuguesa tinha crescido tanto desde 2000, e nunca, desde essa altura, tinha conseguido

superar a média da Europa.

Há um ano e meio que as exportações portuguesas crescem consecutivamente acima da União Europeia e

da zona euro, demonstrando outro fôlego e ganhando consecutivamente quota de mercado.

O investimento cresce duas vezes e meia mais do que na Europa. O investimento privado atinge o maior

crescimento dos últimos 17 anos. A Comissão Europeia dá o bom exemplo das medidas tomadas por Portugal

para melhorar o acesso ao financiamento pelas empresas.

Os consumidores e os agentes económicos mostram a maior confiança das últimas décadas. Mostram

confiança nas condições sociais e económicas do seu País e, justamente por isso, mostram confiança no

Governo que as tem vindo a criar.

Aplausos do PS.

Temos um emprego a crescer sustentadamente acima dos 3% desde o início do ano passado, e ao dobro

do ritmo da Europa. Temos emprego criado que gera mais segurança e menos precariedade. Os novos contratos

sem termo representam mais de 80% do emprego criado. Temos o número mais baixo de jovens

desempregados dos últimos 20 anos. Temos menos 166 800 desempregados de longa duração, terminando um

calvário para tantos e tantos milhares de famílias.

Ora, isso tem sido assim porque temos governado bem, porque soubemos dialogar com todos e, em

particular, preservar o entendimento com os partidos que aprovaram a investidura e a política orçamental deste

Governo.

Mas conseguimos muito mais: temos o nível de desigualdade mais baixo desde que, a partir de 2003, se

passou a medir a desigualdade em Portugal. Inovámos, eliminámos disparidades e esbatemos diferenças no

plano social como nos planos dos direitos humanos. O rendimento disponível das famílias continua a crescer

Apoiamos mais os nossos idosos e as nossas crianças. A percentagem de famílias com crédito vencido está ao

nível mais baixo dos últimos oito anos. O esforço fiscal diminuiu e só há mais receitas e contribuições por boas

razões, ou seja, porque há mais economia e mais emprego que as geram. E isso só passou a acontecer, repito,

com este Governo do Partido Socialista, e, é certo, com o apoio do BE, do PCP e de Os Verdes.

Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Não foram nem são novidade as reservas desses partidos sobre as

políticas do Governo de redução do défice e de gestão da dívida na ótica das regras e dos compromissos

europeus.

O Sr. João Oliveira (PCP): — Agora está a falar bem, sim senhor!

O Sr. Carlos César (PS): — Conhecemos e convivemos com essas diferenças, mas achamos que os nossos

cuidados são o salvo-conduto do bom caminho que estamos a fazer.

Já em 2016, quando discutimos o Programa de Estabilidade, aludiram a esses constrangimentos dizendo-

nos amarrados de pés e mãos. Em 2017, também o afirmaram. Um deles, pelo menos, considera agora que

esses limites anteriores já são virtuosos e não devem ser alterados.

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O Sr. Jorge Duarte Costa (BE): — Não, não! Não ouviu com atenção!

O Sr. Carlos César (PS): — O que é verdade é que o Programa de Estabilidade, sendo cauteloso e

previdente nas finanças públicas, assegura, mais uma vez, uma trajetória de acentuação das garantias sociais

e afiança o melhor desempenho económico e financeiro de longas décadas, escolhendo a despesa social e

economicamente produtiva e o investimento em setores e serviços públicos essenciais. E isso é um benefício

para a vida dos portugueses, um benefício que queremos aprofundar e não comprometer, que importa continuar

sem interromper!

Aplausos do PS.

Já tinha dito aqui, mas importa voltar a dizer, que nós aprendemos com os desequilíbrios orçamentais do

passado e temo-lo provado. O caminho que estamos a fazer, que restabelece direitos, que faz justiça, que

melhora a proteção social, que cria emprego e repõe esperanças, é um caminho de ambição e de prudência,

que não admitimos fazer, agindo como se o passado não nos tivesse mostrado riscos, avisos, consequências e

lições.

Se depois dos efeitos negativos da crise internacional, no final da década passada, que não conseguimos ou

não pudemos evitar, voltássemos a esses descuidos, comprometeríamos, certamente, este percurso de

recuperação e de ganhos de que os portugueses estão a beneficiar e que se devem a uma governação

inteligente que a esquerda pode hoje reclamar e da qual não se deve afastar.

O PS está comprometido com a convergência da esquerda portuguesa, numa agenda que integra aspirações

históricas e atuais de combate às desigualdades, de modernização e de sustentabilidade, de coesão interna e

europeia e da qual têm resultado benefícios transversais na sociedade portuguesa. Importa, por isso, preservar

esse património político e continuar a dar conteúdo a essa ambição, que não pode ser destruída pela

precipitação e pela imponderação, em substituição da gradualidade e da precaução.

Estaremos, por isso, com certeza, unidos, na realização de um Portugal melhor.

Aplausos do PS.

Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: O Programa de Estabilidade e o Programa Nacional de Reformas

confirmam as boas notícias que temos recebido: o cenário macroeconómico é revisto em alta em todas as suas

componentes; a economia crescerá este ano ao nível da zona euro, sem divergir pelo segundo ano consecutivo,

e nos anos subsequentes continuará a prosperar e a crescer de forma moderada.

Porque haverá mais economia, mais emprego e mais poupança no serviço da dívida, teremos, ao contrário

do que alguns dizem, mais investimento na saúde, na qualificação e na inovação, na justiça, nos transportes,

nas infraestruturas.

O investimento público, no horizonte 2018-2022, manterá a dinâmica do crescimento. Com o apoio dos

fundos estruturais, serão alavancados investimentos estruturantes em todo o País, num valor estimado superior

a 7000 milhões de euros.

Com os valores previstos para o défice, Portugal apresenta-se na Europa com um saldo orçamental que o

coloca no meio da tabela, num quadro em que a maioria dos Estados-membros já apresentam excedentes

orçamentais. E ainda bem que assim é, porque é imperioso diminuir o peso dos juros na despesa pública, para

se alocarem mais recursos ao investimento e à melhoria da qualidade da prestação dos serviços públicos e para

prevenir consequências maiores em eventuais enquadramentos externos negativos.

É nesse equilíbrio que devemos prosseguir, ganhando em todas as dimensões e não comprometendo

nenhum dos objetivos. É esse o equilíbrio do qual o PS não deve prescindir, não pode prescindir, pelo que não

se pode rever na maior parte das conclusões de qualquer dos projetos de resolução apresentados a propósito

dos documentos hoje em apreciação.

Aplausos do PS.

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O Sr. João Oliveira (PCP): — Isso é que é lamentável!

O Sr. Carlos César (PS): — Termino, Sr.as e Srs. Deputados, dizendo que, hoje, o PS pode voltar a dizer,

ainda com maior ênfase do que há um ano: estamos a preparar um futuro mais seguro; Portugal prestigia-se no

exterior e os portugueses contam cada vez mais para Portugal.

Aplausos do PS.

O Sr. Presidente: — Tem a palavra, para uma intervenção, o Sr. Deputado Fernando Negrão.

O Sr. Fernando Negrão (PSD): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Deixo um primeiro comentário de

enlevo dirigido ao Bloco de Esquerda e ao PCP, uma vez que, já rendidos às políticas de austeridade,

aproveitaram este tempo não para maldizerem a União Europeia e o euro, não para, a despropósito, poderem

diabolizar a NATO, não para criticar veementemente as políticas neoliberais produtoras de austeridade.

Protestos do Deputado do PCP Bruno Dias.

Não, não foi para isto que usaram a palavra. Foi, sim, para discutir décimas do défice orçamental.

O Sr. João Oliveira (PCP): — Não precisava disso para concordar com o PS!

O Sr. Fernando Negrão (PSD): — O neoliberalismo que tanto evocam, fazendo dele a acusação máxima…

O Sr. João Oliveira (PCP): — Sinceramente!

O Sr. Fernando Negrão (PSD): — … às políticas que não são as suas, na tradição maniqueísta daqueles

que não são por mim são contra mim,…

O Sr. Bruno Dias (PCP): — Olha quem fala em tradição maniqueísta!

O Sr. Fernando Negrão (PSD): — … está reduzida quê, Srs. Deputados? A uma simples discussão acerca

de umas simples décimas de défice! É a isto que estão reduzidos os Srs. Deputados do Bloco de Esquerda e

do PCP.

A Sr.ª Inês Domingos (PSD): — Bem lembrado!

A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — É falso!

O Sr. Fernando Negrão (PSD): — Engolindo sapos e seguindo em frente!

A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — Somos vegetarianos!

O Sr. Fernando Negrão (PSD): — Muito poucochinho, Srs. Deputados. Muito poucochinho!

Aplausos do PSD.

Faço um segundo comentário para, realçando embora a importância da redução do défice e da dívida, dizer

que, para o efeito, é urgente outro caminho que não o proposto pelo Governo e pelo Partido Socialista.

O caminho do Governo é o da passividade, é o da facilidade, é o caminho do «deixa andar que isto há de

correr bem». Se não, veja-se: o crescimento de 2,3%, assinalado pelo Governo, não se deve a reformas por ele

levadas a cabo mas, sim, ao poder de arrastamento da economia mundial que, felizmente, está a crescer, …

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O Sr. João Oliveira (PCP): — Foi o PEC com o vosso voto contra!

O Sr. Fernando Negrão (PSD): — … embora já se comecem a sentir sinais de que as coisas se podem

agravar, designadamente pelo preço do barril de petróleo.

Ainda quanto ao IRC, o decisivo no que respeita à economia e ao seu crescimento, o Governo faz e fará

sempre o contrário daquilo que deve fazer. O que fez? Aumentou o IRC em 2%! Consequência: não pode pedir

às empresas mais investimento!

Isto com uma agravante: a subida de IRC é superior para as empresas que mais investem, que mais crescem

e que mais postos de trabalho criam.

O Sr. João Oliveira (PCP): — Sempre a defender o grande capital!

O Sr. Fernando Negrão (PSD): — E isto tem um significado, que é dizer às empresas: não cresçam!

O Sr. Bruno Dias (PCP): — São os coitados da bolsa, não são os cotados da bolsa.

O Sr. Fernando Negrão (PSD): — Sr.as e Srs. Deputados, o caminho tem, por isso, de ser outro, pois só

assim deixaremos o pelotão dos países que menos crescem na União Europeia, para podermos passar a

pertencer ao grupo de países que mais cresce na União Europeia.

Esse é o caminho da proatividade, das reais reformas estruturais, por forma a criar medidas de estímulo ao

investimento, às exportações, à produtividade, à criação de emprego mais qualificado e melhor remunerado,

aumentando o valor acrescentado e dinamizando a inovação. É este o caminho certo.

E, por falar em ambição, se assim não fizermos e adotarmos o caminho proposto pelo Governo, daqui a cinco

anos, Portugal estará mais atrasado do que hoje em relação à média comunitária.

Sr.as e Srs. Deputados, este não é o Programa de Estabilidade, este é o programa de instabilidade. Há várias

razões para o efeito…

O Sr. Presidente: — Sr. Deputado, já ultrapassou o seu tempo. Peço-lhe que termine.

O Sr. Fernando Negrão (PSD): — Terminaria, Sr. Presidente, dizendo que há várias razões para o efeito,

de que cito apenas uma, por falta de tempo, que é a instabilidade moral, porque o Governo não tem honrado a

palavra dada.

Aplausos do PSD.

O Sr. Presidente: — Srs. Deputados, chegámos, assim, ao final da nossa ordem do dia. Antes de encerrar

os nossos trabalhos, peço ao Sr. Secretário Pedro Alves, que dê conta do expediente.

O Sr. Secretário (Pedro Alves): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, deram entrada na Mesa, e foram

admitidas, várias iniciativas legislativas.

Refiro, em primeiro lugar, os projetos de lei n.os 837/XIII (3.ª) — Abre um período extraordinário de entrega

voluntária de armas de fogo não manifestadas ou registadas (PCP), que baixa à 1.ª Comissão, 838/XIII (3.ª) —

Define o regime e as condições em que a morte medicamente assistida não é punível (Os Verdes), que baixa à

1.ª Comissão, 839/XIII (3.ª) — Impede as cativações de verbas nas entidades reguladoras (Segunda alteração

à Lei-Quadro das Entidades Reguladoras) (PSD), que baixa à 5.ª Comissão, 840/XIII (3.ª) — Aprova os estatutos

da Casa do Douro (PCP), 841/XIII (3.ª) — Restaura a Casa do Douro enquanto associação pública e aprova os

seus estatutos (PS), 842/XIII (3.ª) — Determina a isenção de custas dos trabalhadores nas ações para

reconhecimento de direito ou interesse legalmente protegido em matéria de acidentes de trabalho e de doenças

profissionais (Décima segunda alteração ao Regulamento das Custas Processuais e quinta alteração ao

Decreto-Lei n.º 503/99, de 20 de novembro) (BE), 843/XIII (3.ª) — Lei de bases da habitação (PS), que baixa à

11.ª Comissão, e 844/XIII (3.ª) — Cria a comissão de avaliação técnica independente para o apuramento dos

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factos e análise dos procedimentos relacionados com o alegado processo de adoções ilegais na IURD (CDS-

PP), que baixa à 1.ª Comissão.

Deram também entrada na Mesa os projetos de resolução n.os 1519/XIII (3.ª) — Agir para uma Região

Demarcada do Douro com futuro (PSD), 1520/XIII (3.ª) — Recomenda ao Governo que promova, com caráter

de urgência, uma intervenção na ria Formosa na zona de Cacela Velha e da Fábrica com vista à preservação

do património ambiental e cultural e das atividades económicas que aí se desenvolvem (PCP), que baixa à 11.ª

Comissão, 1521/XIII (3.ª) — Recomenda ao Governo que dê cumprimento à Resolução da Assembleia da

República n.º 63/2013 para estudo de uma alternativa ao «Pórtico do Estádio» defendendo os melhores

interesses de Aveiro e acabando com uma grave injustiça para com os aveirenses (PSD), que baixa à 6.ª

Comissão, 1522/XIII (3.ª) — Requalificação da Escola Secundária de Barcelinhos (PSD), que baixa à 8.ª

Comissão, 1523/XIII (3.ª) — Requalificação e realização urgente de obras em escolas públicas do distrito de

Lisboa (PCP), que baixa à 8.ª Comissão, 1524/XIII (3.ª) — Recomenda ao Governo que tome medidas para

melhorar os riscos psicossociais e os problemas de saúde psicológica no trabalho (CDS-PP), 1525/XIII (3.ª) —

Recomenda ao Governo a transferência da titularidade dos imóveis adjacentes ao Farol de São Jorge para a

Região Autónoma da Madeira (CDS-PP), 1526/XIII (3.ª) — Requalificação da Escola Básica Professor Delfim

Santos, em Lisboa (BE), 1527/XIII (3.ª) — Requalificação urgente da Escola Secundária do Restelo (BE),

1528/XIII (3.ª) — Recomenda ao Governo que concretize os investimentos previstos para a requalificação,

valorização e desenvolvimento do potencial dos portos de Portimão e Faro e atividades associadas (PSD), que

baixa à 6.ª Comissão, 1529/XIII (3.ª) — Recomenda a transferência das instalações anexas ao Farol da Ponta

de São Jorge para o património da Região Autónoma da Madeira (BE), 1530/XIII (3.ª) — Recomenda ao Governo

a urgente reabilitação da Escola Secundária Padre Benjamim Salgado, em Joane (BE), que baixa à 8.ª

Comissão, 1531/XIII (3.ª) — Pela urgente reabilitação da Escola Básica de São Romão, Guimarães (BE), que

baixa à 8.ª Comissão, 1532/XIII (3.ª) — Recomenda ao Governo a urgente reabilitação da Escola Secundária

da Póvoa de Lanhoso (BE), que baixa à 8.ª Comissão, 1533/XIII (3.ª) — Pela urgente reabilitação da Escola

Básica 2/3 Frei Caetano Brandão, de Braga (BE), que baixa à 8.ª Comissão, 1534/XIII (3.ª) — Pela urgente

reabilitação da Escola Secundária de Barcelinhos – Barcelos (BE), 1535/XIII (3.ª) — Medidas para a prevenção

de acidentes de trabalho e doenças profissionais (Os Verdes), 1536/XIII (3.ª) — Requalificação da Escola

Secundária de Castro Daire (PS), que baixa à 8.ª Comissão, 1537/XIII (3.ª) — Recomenda ao Governo que

prossiga a adoção de medidas de requalificação da Escola Básica dos 2.º e 3.º ciclos do Alto do Lumiar (PS),

1538/XIII (3.ª) — Recomenda ao Governo a concretização das obras programadas e o desencadear de medidas

para a requalificação da Escola Secundária Ferreira Dias, em Agualva-Sintra (PS), 1539/XIII (3.ª) — Recomenda

ao Governo a concretização das obras programadas e o desencadear de medidas para a requalificação da

Escola Secundária do Restelo (PS), 1540/XIII (3.ª) — Recomenda ao Governo a transferência dos imóveis

desativados anexos ao Farol de São Jorge para o património da Região Autónoma da Madeira (PS) e 1541/XIII

(3.ª) — Medidas para a prevenção de riscos de acidentes de trabalho e doenças profissionais e para a promoção

da saúde e segurança no trabalho (BE).

É tudo, Sr. Presidente.

O Sr. Presidente: — Muito obrigado, Sr. Deputado Pedro Alves, por este esforço.

Srs. Deputados, amanhã, às 10 horas, teremos a Sessão Solene Comemorativa do 44.º Aniversário do 25

de Abril.

Na quinta-feira, dia 26 de abril, com início às 15 horas, terá lugar a reunião plenária, cuja ordem do dia

constará do seguinte:

No ponto um, apreciaremos o projeto de resolução n.º 1434/XIII (3.ª) — Consagra o dia 21 de março como

Dia Nacional para a Eliminação da Discriminação Racial (PS);

No ponto dois, será apreciado o projeto de lei n.º 707/XIII (3.ª) — Restaura a Casa do Douro como associação

pública (BE) juntamente com o projeto de resolução n.º 1519/XIII (3.ª) — Agir para uma Região Demarcada do

Douro com futuro (PSD) e com, na generalidade, os projetos de lei n.os 840/XIII (3.ª) — Aprova os estatutos da

Casa do Douro (PCP) e 841/XIII (3.ª) — Restaura a Casa do Douro enquanto associação pública e aprova os

seus estatutos (PS);

Seguir-se-á, no ponto três, a discussão, conjunta, dos projetos de resolução n.os 1327/XIII (3.ª) —

Transferência das instalações contíguas ao Farol da Ponta de São Jorge para a Região Autónoma da Madeira

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(Os Verdes), 1366/XIII (3.ª) — Recomenda a transferência para o património da Região Autónoma da Madeira

dos imóveis anexos ao Farol de São Jorge (PSD), 1353/XIII (3.ª) — Recomenda ao Governo a transferência da

titularidade dos imóveis anexos ao Farol de São Jorge para a Região Autónoma da Madeira (PCP), 1525/XIII

(3.ª) — Recomenda ao Governo a transferência da titularidade dos imóveis adjacentes ao Farol de São Jorge

para a Região Autónoma da Madeira (CDS-PP), 1529/XIII (3.ª) — Recomenda a transferência das instalações

anexas ao Farol da Ponta de São Jorge para o património da Região Autónoma da Madeira (BE), 1516/XIII (3.ª)

— Recomenda ao Governo que proceda à transferência das infraestruturas anexas ao Farol de São Jorge para

o património da Região Autónoma da Madeira (PAN) e 1540/XIII (3.ª) — Recomenda ao Governo a transferência

dos imóveis desativados anexos ao Farol de São Jorge para o património da Região Autónoma da Madeira (PS);

No ponto quatro, serão apreciados, em conjunto, os projetos de resolução n.os 642/XIII (2.ª) — Recomenda

ao Governo que proceda à urgente reabilitação e requalificação da Escola Secundária Ferreira Dias, de Agualva-

Sintra (CDS-PP), 1331/XIII (3.ª) — Recomenda ao Governo urgência na reabilitação e requalificação da Escola

Secundária do Restelo (CDS-PP), 1350/XIII (3.ª) — Recomenda ao Governo que dê cumprimento à Resolução

da Assembleia da República n.º 91/2017 para requalificação da Escola Básica 2,3 do Alto do Lumiar (CDS-PP),

1387/XIII (3.ª) — Reabilitação urgente da Escola Secundária do Restelo, em Lisboa (Os Verdes), 1500/XIII (3.ª)

— Requalificação urgente da Escola Secundária Ferreira Dias, em Agualva-Sintra (Os Verdes), 1527/XIII (3.ª)

— Requalificação urgente da Escola Secundária do Restelo (BE), 1537/XIII (3.ª) — Recomenda ao Governo que

prossiga a adoção de medidas de requalificação da Escola Básica dos 2.º e 3.º ciclos do Alto do Lumiar (PS),

1538/XIII (3.ª) — Recomenda ao Governo a concretização das obras programadas e o desencadear de medidas

para a requalificação da Escola Secundária Ferreira Dias, em Agualva-Sintra (PS) e 1539/XIII (3.ª) —

Recomenda ao Governo a concretização das obras programadas e o desencadear de medidas para a

requalificação da Escola Secundária do Restelo (PS);

Do ponto cinco teremos a discussão, na generalidade, dos projetos de lei n.os 716/XIII (3.ª) — Promove a

participação dos trabalhadores em matéria de segurança e saúde no trabalho (Primeira alteração à Lei n.º

102/2009, de 10 de setembro, que estabelece o Regime Jurídico da Promoção da Segurança e Saúde no

Trabalho) (PCP), 509/XIII (2.ª) — Adita a Associação Nacional dos Deficientes Sinistrados no Trabalho como

entidade beneficiária de 1% do montante das coimas aplicadas por violação das regras de segurança e saúde

no trabalho ou resultantes do incumprimento de regras de reparação de acidentes de trabalho, procedendo à

décima segunda alteração do Código do Trabalho e à primeira alteração à Lei n.º 98/2009, de 4 de setembro

(PCP), 510/XIII (2.ª) — Recálculo das prestações suplementares para assistência a terceira pessoa atribuídas

aos sinistrados do trabalho, ao abrigo da Lei n.º 2127/65, de 3 agosto (PCP) e 514/XIII (2.ª) — Revê o regime

de reparação de acidentes de trabalho e de doenças profissionais, procedendo à primeira alteração à Lei n.º

98/2009, de 4 de setembro (PCP), juntamente com os projetos de resolução n.os 826/XIII (2.ª) — Recomenda ao

Governo a elaboração de um programa nacional de prevenção de acidentes de trabalho e doenças profissionais

(PCP), 1485/XIII (3.ª) — Recomenda ao Governo que tome medidas para garantir o direito dos trabalhadores

em funções públicas a uma justa reparação em caso de acidente de trabalho ou doença profissional e que

estude os mecanismos adequados a assegurar uma efetiva e eficaz tutela jurisdicional (PCP) e 1138/XIII (3.ª)

— Regulamentação do quadro legislativo aplicável ao assédio no trabalho em matéria de acidentes de trabalho

e doenças profissionais (BE), com, na generalidade, o projeto de lei n.º 842/XIII (3.ª) — Determina a isenção de

custas dos trabalhadores nas ações para reconhecimento de direito ou interesse legalmente protegido em

matéria de acidentes de trabalho e de doenças profissionais (Décima segunda alteração ao Regulamento das

Custas Processuais e quinta alteração ao Decreto-Lei n.º 503/99, de 20 de novembro) (BE) e com os projetos

de resolução n.os 1541/XIII (3.ª) — Medidas para a prevenção de riscos de acidentes de trabalho e doenças

profissionais e para a promoção da saúde e segurança no trabalho (BE), 1524/XIII (3.ª) — Recomenda ao

Governo que tome medidas para melhorar os riscos psicossociais e os problemas de saúde psicológica no

trabalho (CDS-PP) e 1535/XIII (3.ª) — Medidas para a prevenção de acidentes de trabalho e doenças

profissionais (Os Verdes);

No ponto seis, está agendada, sem atribuição de tempos para discussão, a proposta de resolução n.º 68/XIII

(3.ª) — Aprova o Protocolo que altera a Convenção entre o Governo da República Portuguesa e o Governo da

República da Índia para Evitar a Dupla Tributação e Prevenir a Evasão Fiscal em Matéria de Impostos sobre o

Rendimento (assinada em Lisboa, em 11 de setembro de 1998), assinado em Lisboa, a 24 de junho de 2017.

Por fim, no ponto sete, proceder-se-á às votações regimentais.

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Sr.as e Srs. Deputados, muito obrigado e até amanhã às 10 horas.

Está encerrada a sessão.

Eram 12 horas e 29 minutos.

Presenças e faltas dos Deputados à reunião plenária.

A DIVISÃO DE REDAÇÃO E APOIO AUDIOVISUAL.

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