17 DE JANEIRO DE 2019
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Guardo do Dr. Oliveira Dias a memória de um cidadão empenhado, ativo cívica e politicamente, com
assinalável presença e participação nos grandes debates promovidos pela sociedade portuguesa, a nobreza e
a verticalidade do seu caráter, fiel aos valores que orientaram a sua longa vida, até ao último dos seus dias.
À memória de um grande democrata e de um cidadão ao qual o Parlamento e a República muito devem.
Dou, agora, a palavra ao Sr. Secretário António Carlos Monteiro para ler o Voto n.º 706/XIII/4.ª (apresentado
pelo CDS-PP e subscrito por Deputados do PS e do PSD) — De pesar pela morte do antigo Presidente da
Assembleia da República, Dr. Oliveira Dias.
Faça favor, Sr. Secretário
O Sr. António Carlos Monteiro (CDS-PP): — Sr.as e Srs. Deputados, o voto é do seguinte teor:
«A morte do Sr. Dr. Francisco de Oliveira Dias, aos 88 anos, enluta o Parlamento e a democracia portuguesa.
Médico de profissão, foi construtor diligente e obreiro discreto da democracia. Participou na fundação do
CDS, partido do qual foi dirigente, tendo sido Deputado Constituinte e, depois, Deputado ao Parlamento entre
1976 a 1983. Em 1981, foi eleito Presidente da Assembleia da República.
A sua entrega à democracia comportou trágicas consequências pessoais, nomeadamente quando, num
momento particularmente difícil para a Assembleia Constituinte, a mãe dos seus 11 filhos, Maria das Mercês Gil
Oliveira Dias, sofreu um acidente cardíaco fatal. Voltaria a casar com Maria Teresa Forjaz de Oliveira Dias, com
quem viveu até ao final da sua vida.
Ao tomar posse como Presidente da Assembleia da República, Oliveira Dias assinalou que esta Casa é
‘muito que mais do que nós, Deputados que passamos, enquanto ela permanece e há de permanecer,
rejuvenescer-se, aperfeiçoar-se’. E, nesse seguimento, sempre foi um amigo do regime parlamentar, que não
cessava de elogiar e promover. Lembrava que se os Deputados pensavam diferentemente e assumiam posições
opostas, isso era saudável, ‘porque quando tal não se verifica ou os homens estão doentes ou as pátrias
subjugadas’.
Foi sempre um homem bom e íntegro, fazedor de pontes, sem nunca renunciar às convicções e aos seus
valores. Católico empenhado, procurou — no Parlamento, no Conselho de Estado ou na sociedade civil —
defender, antes do mais, a dignidade da pessoa humana.
Na sua morte, os seus amigos e aqueles que lhe foram mais próximos recordam o exemplo de quem lutou
sempre com ânimo e esperança, de quem, mesmo diante das maiores dificuldades, nunca perdeu não só uma
grande combatividade, como um enorme sentido de humor.
A Assembleia da República, reunida em Plenário, apresenta sentidas condolências à família e amigos do seu
antigo Presidente, Dr. Oliveira Dias, pela perda de um português que dignificou, honrou e construiu o nosso País
e a democracia.»
O Sr. Presidente: — Muito obrigado, Sr. Secretário.
Tem a palavra, pelo Grupo Parlamentar do PSD, o Sr. Deputado Matos Correia.
O Sr. José de Matos Correia (PSD): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Se há traço que define a vida
de Francisco de Oliveira Dias é o da sua dedicação à causa pública. Desde logo, como médico, profissão que
abraçou em 1953 e que exerceu em diversas instituições, com destaque para o Hospital Pulido Valente. O
Hospital a que, com a normalidade e a tranquilidade que é apanágio dos cidadãos exemplares, regressou, em
1985, quando entendeu pôr fim à sua vida política.
Foi precisamente essa devoção à causa pública e o sentido de missão que lhe está associado que o levou a
participar de forma muito importante e empenhada na construção do Portugal democrático.
Primeiro, em 1974, como membro fundador do CDS, em cuja comissão diretiva participou; depois, em 1975
e 1976, quando na Assembleia Constituinte contribuiu, com o seu empenho, para a elaboração da nova Lei
Fundamental; e, por fim, entre 1976 e 1983, período em que exerceu as funções de Deputado à Assembleia da
República.
Pode dizer-se que foi curto o período em que a sua vida se centrou na atividade política, mas o prestígio que
nela granjeou alcandorou-o às funções de Presidente da Assembleia da República, que exerceu entre outubro
de 1981 e novembro de 1982. A sua inteligência, o seu caráter, o seu absoluto respeito pela diferença, a sua