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7 DE MARÇO DE 2019

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já hoje criar desinformação, não só em texto, mas também em imagem e som, contribuindo para o caos

desinformativo; e porque a quantidade de utilizadores presentes nas redes sociais e plataformas onde ela se

dissemina é maior do que em qualquer outro meio de comunicação.

E numa altura em que o descrédito nas instituições é grande, em que os mediadores tradicionais de

comunicação estão enfraquecidos, em que a desconfiança nos políticos e nas elites impera e em que os

utilizadores passam mais tempo nas redes do que em qualquer outro lugar, os que procuram manipular a esfera

pública digital têm oportunidade de capitalizar esses níveis de insatisfação.

Como assinala o Digital News Report, hoje, a internet é uma combinação de caos desinformativo: ausência

de regras, conjunto de algoritmos que encorajam a disseminação rápida de conteúdos de baixa qualidade e de

desinformação; a própria forma como os links são partilhados nas redes sociais dificulta a identificação da

natureza dos conteúdos.

Por isso, parece-nos de suma importância alargar e amplificar os projetos de literacia mediática existentes,

porque capacitar os cidadãos para identificar e evitar a desinformação é a solução mais democrática para

restaurar a confiança nos media tradicionais, nos concidadãos e nas instituições, minimizando, assim, as

hipóteses de manipulação sem que seja sacrificada a liberdade de expressão. E, para isso, precisamos de

políticas de literacia pensadas a médio e a longo prazo,…

O Sr. José Magalhães (PS): — Claro!

A Sr.ª Carla Sousa (PS): — … com estratégias que capacitem os cidadãos, com instrumentos que lhes

permitam perceber como a esfera pública digital é moldada.

Portugal não está imune ao fenómeno da desinformação, como temos visto em notícias recentes, e os

portugueses mostram vulnerabilidades na identificação do fenómeno. No recente Eurobarómetro, 56% dos

cidadãos nacionais inquiridos afirmaram não conseguir identificar notícias falsas, não as perceber como um

problema para o País e para o funcionamento da democracia. São números que estão abaixo da média da União

Europeia, o que levou Bruxelas a afirmar que esta questão é preocupante e merece maior atenção.

Os poderes públicos e civis não estão alheios ao problema.

Como é do vosso conhecimento, foi muito recentemente assinado um protocolo entre o Ministério da

Educação e o Sindicato dos Jornalistas para a criação de um projeto-piloto na área da literacia mediática, que

prevê o envolvimento de mais de 100 professores de 40 agrupamentos de escolas e que tem como objetivo

colocar jornalistas e académicos, especialistas em media, a formar professores, para que estes ensinem e

incentivem os alunos a desenvolverem o seu espírito crítico.

Mas é possível ir mais longe e desenhar estratégias com o envolvimento de todos os elementos do

ecossistema mediático: reguladores, plataformas, velhos media, novos editores, universidades ou associações

representativas, para que juntos consigam criar um programa que capacite os cidadãos a navegar no volume

da desinformação existente on line, mas também que os faça entender como funciona a rede, como é alimentada

a economia da atenção, como funcionam as funções geradas pelo utilizador, os algoritmos, como as suas

interações e o rasto digital transformam a democracia e o mundo em que vivemos. Ensinar os cidadãos a usar

os media, mas também explicar-lhes como os media os usam a eles!

De facto, é importante que estes projetos extravasem o ambiente escolar e ocupem um espaço público,

porque os grupos vulneráveis não são apenas os estudantes nem os jovens, são também as pessoas com mais

de 55 anos e com baixo nível de formação.

O Sr. Presidente (José de Matos Correia): — Sr.ª Deputada, peço-lhe que termine.

A Sr.ª Carla Sousa (PS): — Vou já terminar, Sr. Presidente.

Gostaria ainda de lembrar, e já foi aqui referida, a importância dos meios do serviço público de televisão, de

rádio e da Agência Lusa. Todos eles estão a trabalhar em prol comum, com projetos de fact-checking e de

verificação de informação para serem colocados ao dispor de todos nós.

Termino, dizendo que é importante que quer a televisão pública, quer a agência de comunicação potenciem

as suas marcas e desenhem projetos para públicos diferenciados sobre o tema do combate à desinformação,

que é, no fundo, também, este combate pela democracia.