15 DE MARÇO DE 2019
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Na altura, como agora, Sr.as e Srs. Deputados, defendemos o imperativo da independência das entidades
administrativas independentes.
A independência orgânica, política, técnica e a autonomia financeira organizatória destas entidades é
fundamental para assegurar a imparcialidade na regulação.
O PSD sempre defendeu uma maior independência destas entidades perante o Governo e uma maior
especialidade, neutralidade e tecnicidade da regulação. Continuamos a acreditar que a intervenção do
Presidente da República pode reforçar a independência destas entidades, promover a desgovernamentalização
e a despolitização do setor económico.
Não desistimos da ideia ou mudamos de opinião, como outros partidos o fizeram, mas, tal como dissemos
em 2013, achamos que essa alteração implica uma revisão constitucional, já que não é possível alargar por via
ordinária os poderes do Presidente da República. Isto, ao contrário da posição aqui expressa pelo CDS a este
respeito, que tem sido bastante sinuosa. Como podemos verificar pelo histórico, o CDS já disse uma coisa,
agora disse o seu contrário. Ainda bem que evoluiu para a posição do PSD, porque, em 2007, defendeu a
parlamentarização do processo de nomeação e depois mudou de posição, passando a defender a
presidencialização.
Em 2007, o CDS criticou a inconstitucionalidade da medida, mas agora já percebemos, pelo que foi aqui dito
na intervenção da Sr.ª Deputada Cecília Meireles, que reconheceu o problema da constitucionalidade da mesma.
Ainda em fevereiro deste ano, a líder do CDS admitia avançar, ainda nesta Legislatura, com uma revisão
constitucional para que o Governador do Banco de Portugal fosse nomeado pelo Presidente da República.
Sr.as e Srs. Deputados, não achamos que a mudança de opinião, em si mesma, seja grave, não constitui
nenhum problema, ainda bem que a mudança do CDS evoluiu, mas achamos por bem colocar aqui algumas
questões ao CDS.
Acha ou não o CDS que é necessária uma revisão constitucional para atribuir estes poderes ao Presidente
da República?
Então, o CDS defendeu uma revisão constitucional para que o Presidente da República possa designar dois
vogais para o Conselho Superior do Ministério Público e já não defende o mesmo para o Presidente da República
nomear as entidades administrativas independentes?
Gostaríamos de saber qual a diferença, para o CDS, destas duas situações.
A outra pergunta que quero colocar, Sr.as e Srs. Deputados, prende-se com o caminho escolhido pelo CDS.
Por que motivo o CDS optou por apresentar esta proposta nesta altura e não a apresentou como uma alteração
à lei-quadro das entidades administrativas e à Lei Orgânica do Banco de Portugal?
Sr.as e Srs. Deputados, muito mais importante do que discutir a forma é discutir o conteúdo. É inegável que
há, hoje, um grave problema de desrespeito das entidades administrativas independentes por parte desta
maioria de esquerda. O Governo socialista e os partidos que o suportam têm feito tudo, mas mesmo tudo, para
enfraquecer as entidades administrativas independentes.
São inúmeros os exemplos e as tentativas de condicionamento da independência destas entidades. Para o
Governo, vale tudo: desde lançar campanhas de descredibilização sobre estas entidades — é bom relembrar
que António Costa lamentou, em março de 2017, o falhanço nas previsões do Conselho das Finanças Públicas
— a comprometer a sua autonomia financeira.
Também convém aqui recordar, a este respeito, que a esquerda, em setembro de 2018, chumbou um projeto
do PSD para proibir cativações das entidades reguladoras.
Mas, Sr.as e Srs. Deputados, não há exemplo mais revelador de que este Governo está mesmo disponível a
tudo para condicionar estas entidades do que as frequentes e habituais nomeações políticas socialistas.
Portanto, a militância partidária é mais importante que a competência técnica.
Coloco uma última questão: não acha o CDS que o essencial é combater a falta de independência das
entidades administrativas e não combater o seu modelo?
Aplausos do PSD.
O Sr. Presidente: — Para pedir esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado Duarte Alves.