I SÉRIE — NÚMERO 93
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O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — A de Cascais andava a aldrabar os números!
O Sr. Primeiro-Ministro: — Quanto a Cascais, e perante as dúvidas levantadas, foi instaurado um inquérito,
visto que não corresponde à avaliação global que tinha sido feita.
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Pois!…
O Sr. Primeiro-Ministro: — O que seria um erro enorme do ponto de vista político, do ponto de vista
estratégico e do dever que temos de defender o Serviço Nacional de Saúde era que, por causa de uma norma
de uma lei de bases, se pusesse em causa o enorme avanço que significa a nova lei de bases da saúde e que
põe termo à lei de bases de Cavaco Silva. Isso é que seria grave e um erro enorme!
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente: — Continua no uso da palavra a Sr.ª Deputada Catarina Martins.
Faça favor, Sr.ª Deputada.
A Sr.ª Catarina Martins (BE): — Sr. Presidente, Sr. Primeiro-Ministro, o Programa do Governo dizia avaliar
o modelo das PPP para ver se continuam ou não. O Governo avaliou o modelo e deu um empate, ou seja, não
se provou que as PPP fossem melhores para a gestão do que a gestão pública, mas agora sabemos que os
privados manipularam os critérios para dar um empate, ou seja, são piores! Vamos tirar, então, consequências
e acabar com as PPP?
Mais: se as PPP não são relevantes, porque é que as queremos manter na lei de bases, quando sabemos
que é impossível acabar com a promiscuidade entre público e privado?
Aplausos do BE.
Sr. Primeiro-Ministro, este debate já foi feito de várias formas, e ainda bem que o estamos a fazer de uma
forma mais saudável.
O Bloco de Esquerda não quer acabar com a medicina privada e respeita a escolha legítima de quem quer
recorrer ao setor privado e social. Nem sequer defendemos, nunca, que o Estado deixe, pura e simplesmente,
de contratualizar com os privados. Em relação à hemodiálise, 90% é feita pelo setor privado, 90% dos cuidados
continuados é feito com o setor social e onde o Estado não tem oferta deve contratualizar para assegurar essa
prestação, mas só quando não tem e enquanto não tem. Estamos de acordo.
O que está em causa é outra coisa. Nas PPP, o que estamos a decidir é se entregamos aos privados hospitais
que são públicos, se faz sentido o Estado submeter a gestão de hospitais públicos à lógica da rendibilidade
privada e, assim, manter uma promiscuidade inevitável entre o interesse público e a gestão privada.
O Sr. José Moura Soeiro (BE): — Exatamente!
A Sr.ª Catarina Martins (BE): — Diz-nos que há uma obsessão ideológica do Bloco de Esquerda. Vamos,
então, chamar-lhe ideologia. O Sr. Primeiro-Ministro admitiria entregar a gestão de uma universidade pública a
uma empresa privada? Admitiria que o Instituto Superior Técnico fosse gerido pela Universidade Lusíada ou que
a gestão da Universidade do Porto fosse entregue à Universidade Fernando Pessoa? Admitiria que a 2.ª Divisão
da PSP, nos Olivais, fosse entregue à Prosegur ou Vale de Judeus à Securitas? Não admitiria, pois não, Sr.
Primeiro-Ministro? Claro que não!
O Sr. José Manuel Pureza (BE): — Muito bem!
A Sr.ª Catarina Martins (BE): — Nós não queremos fechar a Universidade Lusíada nem a Securitas,
continuem a fazer o seu trabalho, mas o que é público deve ter gestão pública. Por que razão quer abrir na
saúde uma porta que nunca aceitaria que se abrisse na universidade ou na segurança interna?