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16 DE MARÇO DE 1991

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Antes dc mais observa-sc que o nome (de origem latina) estará naturalmente ligado à época da romanização c, sendo assim, constitui mais um argumento a juntar ao das lápides romanas para demonstrar o contacto da população primitiva com os Romanos.

Em segundo lugar verifica-sc que o nome «Caldcllas», inicialmente, foi dado às duas nascentes de água quente, e não à povoação onde cias brotavam. Daqui pode concluir--se logicamente que a povoação ainda não linha nome próprio e, consequentemente, o interesse dos Romanos pelo local fixava-se naquelas nascentes ou nas «Caldcllas».

Fica assim explicada a origem do nome «Caldellas».

Poder-se-á perguntar se o nome terá sido formado e imposto às nascentes pelos romanos que as procuravam e as utilizavam ou pelos habitantes do lugar que aprenderam o latim com os soldados c mercadores romanos. A resposta nâo é fácil e será duvidosa.

Não se ignora que havia duas espécies dc latim: o latim clássico (das escolas e dos mestres) c o latim vulgar, falado pelo povo. Esta distinção não ajuda a resolver o problema porque os elementos latinos do nome («calda» e «cila») não são exclusivos de uma daquelas espécies de latim. Contudo, a perfeição da forma literal do nome parece fora do alcance do povo, que só conhecia o latim de ouvido. Ainda que a dúvida persista, a questão de saber quem formou e impôs o nome não interessa demasiado. O importante é saber que o nome «Caldellas» é de origem latina e significa pequenas águas quentes.

Depois operou-se a transferência do nome das nascentes para a povoação, que não tinha nome próprio. Isto quer dizer que as nascentes («Caldcllas») deram o nome à povoação onde brotavam.

Aquela transferencia do nome resultou, decerto, de um processo espontâneo. Muito naturalmente, os habitantes do lugar, como a povoação não tinha nome próprio e o nome das nascentes era bem conhecido, começaram a indicar a sua naturalidade com o nome «Caldcllas».

Fosse quando e como fosse, o certo é que em documentos do começo do século xm, já referidos atrás, a povoação aparece identificada com o nome de Sant'Iago de Caldellas.

Caldelas (só com um «1») é grafia moderna do primeiro quartel do nosso século.

A propósito e a título de curiosidade refere-se aqui uma pequena «história» acerca da origem do nome de Caldelas.

A «história» deve ter sido provocada por um documento de 1528 relativo aos direitos devidos ao arcebispo de Braga, onde o nome da povoação aparece com a grafia «Qual-dellas» (Sant'Iago de Qualdellas).

Perante aquela grafia alguém deduziu que se tratava de um vocábulo composto por justaposição dc «Qual + delias». Esta dedução, teoricamente, estava certa, pois a composição por justaposição é um dos processos da formação das palavras em português.

Mas para passar da teoria à prática era necessário explicar a origem do nome através do seu significado. A esta necessidade respondeu a imaginação com uma «história».

Certo dia, um forasteiro, junto das nascentes, não sabendo se eram ambas medicinais, perguntou: «Qual delias?»

Depois, a justaposição das duas palavras da pergunta fez o nome «Qualdellas». Na fala do povo bastou um ligeiro toque fonético para elidir o «u» e a metamorfose gráfica do «Q» em «C» para chegar ao nome «Caldcllas».

A historia/inha é jocosa, mas ingénua. Pois a origem dos nomes não se explica com a imaginação, inventando histórias. Aliás, Qualdellas aparece no século xvi e as nascentes e a povoação já sc chamavam Caldellas pelo menos desde o século xm.

Apesar ilc tudo, a grafia dc Qualdellas precisa dc uma explicação. E, salvo melhor aviso, uma explicação lógica e objectiva pode ser esta: Caldcllas c Qualdellas não são dois nomes, mas apenas um nome escrito de dois modos.

Caldellas c o nome da povoação escrito correctamente, tal qual veio do latim. Qualdellas é o nome da mesma povoação, mas escrito com um erro de ortografia por um escrivão que trocou o «C» por «Q».

Em resumo: Caldelas é uma palavra formada do étimo latino «calda» com o sufixo diminuitivo também latino «ela» (no plural), muiio provavelmente da época da romanização, que à leira significa «pequenas águas quentes». O nome «Caldelas», primeiro, foi dado às duas nascentes termais; depois estendeu-se à povoação onde brotam as mesmas nascentes. Qualdellas é Caldelas com um eventual erro de ortografia.

Em resumo: as Termas de Caldelas (e hoje povoação e sede dc freguesia) já eram celebradas pelos Romanos c ali se encontram lápides votivas, às ninfas dedicadas, enquadradas hoje na parede interior do bufete.

Duas são as lápides referidas e que o consumado epigrafista Dr. Emílio Hubner inseriu no seu Corpus Inscriplionum Hispaniae Latinae—Suplemenium ex ephemeridis Epigraphicae (vol. vm, fase. m, seorsum expressam, Berolini, 1897, p. 399).

Eis as inscrições das duas lápides:

CAED (ni)

CIEN (us)

NYM

PHIS

EXVO

TO

D (e) A B (us)

NYM

PHIS

EXVO

TO

A primeira — «Caenicienus ninphis ex voto» («Cenicieno [consagra] às ninfas por voto [que fez]»}.

A segunda—«[...] deabus ninphis ex voto» {«[... consagra] às deusas ninfas por voto [que fez]»}.

Nesta segunda lápide falha a parte superior com o nome do «dedicante». As lápides foram encontradas nas escavações que se fizeram cm 1803, aquando da construção do primeiro estabelecimento balnear.

Existe, pois, uma parte comum às duas inscrições, exprimindo um voto (promessa) feito às «deusas ninfas» daquelas nascentes, e que os Romanos conheceram, utilizaram e apreciaram, atribuindo-lhes «poderes sobrenaturais» que, dc facto, se reduzem à virtude terapêutica que a ciência moderna lhes havia de atribuir.

Sustenta-se, por isso, a tese dc que os Romanos conheceram, utilizaram e apreciaram as duas pequenas nascentes de água quente (Caldelas) como águas mineromedicinais.