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II SÉRIE-A — NÚMERO 35

recida justiça que satisfaz as mais vivas e profundas aspirações dos amigos do Gerês, e são o reconhecimento de mérito, prestígio e potencialidades da região, pois, como também dizia Luís Forjaz Trigueiros:

[...] Gosto do Minho como de certos amigos que não nos faltam nunca, nem mesmo quando nos faltam. É certo: gosto do Minho com amor, mas não só com amor. Também com amizade que, afinal, lhe sobrevive. Gosto do Minho — e gosto dos Minhos.

Sim, os Minhos. Porque naquele palmo verde de terra cabem as paisagens mais diferentes, o Minho tem ainda o encanto da diversidade.

E é aqui que se situam as «Termas do Gerês».

Às suas Caldas, já afamadas há algumas centenas de anos, acorrem forasteiros de todo o País. Ali se formou uma estância moderna, que muito concorreu para dar renome à mais bela região do Gerês. Todavia, apesar de muito falada por estes e outros factos, a sua geografia física e biológica só se tornou verdadeiramente conhecida após a expedição organizada pelo arcebispo de Braga no século xvm, em que tomaram parte o geógrafo J. Vicente Pereira e o matemático M. Joaquim da Maia (cf. Baltasar Silva, Discurso Histórico, Politico e Económico, Lisboa, 1786, p. 20).

Pelas suas condições naturais de isolamento e defesa, esta serra desde longe foi procurada pelo Homem. Encontram-se nela vestígios de povoamentos pré--históricos (principalmente o paleolítico) e proto--históricos, sobretudo do domínio romano (marcos e pontes). Esta vetustez do povoamento explica as muitas lendas que a seu respeito constam.

fí) Razões de ordem geográfica

Falar do Gerês, ou das Termas do Gerês, é de imediato lembrar-nos da serra do Gerês (ou Juriz, de seu nome arcaico) que sobressai do todo regional, e Chof-fat, o geólogo suíço, descrevia-a, em 1984, como «um maciço montanhoso recortado por picos e formas variadas, com um ar esbranquiçado que o torna ainda mais alto e afastado do que é na realidade...».

É toda uma arquitectura da pedra, facto que desde logo lhe confere um carácter peculiar e de que nos fala Ricardo Jorge:

Aqui figuram massas de cantaria em muralha escalonada de fortaleza ruída, como na encosta das Caldas; acolá são faixas de colunas esculpidas, laçarias intrincadas, flechas aceradas de catedral gótica, como no «Pé do Cabril»; além são os destroços duma Babel, como no morro do Borrageiro.

Qualquer excursão pela montanha a partir das «Termas» é um contínuo subir e descer, um descobrir das mais diversas configurações, um quase sem fim de agradáveis cansarias e surpresas.

Para além de montanha, o Gerês é também água. A água dos rios que o percorrem, caso do Gerês ou do Leonte, ou daqueles que ajudam a delimitá-lo, o Homem e o Cávado, por exemplo, água das inúmeras cascatas que se podem observar no seu interior — Arado, Pinçães, São Miguel, Torgo, Ponte Feia... —, as águas termais das Caldas do Gerês, as águas represadas

pelas barragens e que originam as albufeiras que cercam a serra pela vertente sudeste — Paradela, Sala-monde, Caniçada — e as águas, enfim, que, devido à grande pluviosidade, sobretudo na época das chuvas, correm meio perdidas por entre fragas ou em leitos de ocasião.

Uma serra plena de água mas uma serra que também, desde logo, nos supreende pelo vigor e carácter da vegetação que a cobre. Todo o vale do rio Gerês é dominado por importantes manchas de floresta ca-ducifólia, destacando-se de entre as espécies que a formam o carvalho-roble, o azereiro e o azevinho, o medronheiro...

À medida que subimos surge o carvalho-negral e a bétula, e nas partes mais elevadas destacam-se os matagais de urze e de tojo, para além de se registar a presença do zimbro.

No vale do Gerês sobressai a mata de Albergaria, grande mancha de carvalhal situada a norte das Caldas do Gerês.

Diverso é o revestimento vegetal da zona nascente do Gerês, uma sucessão de vales e desfiladeiros cobertos por extensas áreas de matagal — urze, gis-tas,... — e de gramíneas, apresentando um carácter árido e ausência de provoamento humano.

Finalmente, não se pode esquecer que a flora do Gerês alberga espécies botânicas do maior interesse, algumas apenas existentes nesta serra, caso do lirio-do--gerês ou do feto-do-gerês.

Mas a complexidade do «fenómeno» Parque Nacional da Peneda-Gerês, da serra e das próprias Termas do Gerês passa também por aquilo que um dia Leite de Vasconcelos escreveu (in Etnografia Portuguesa, vol. l, Lisboa, 1933, pp. 3-4):

Àquilo que se recebe de fora imprime igualmente o tempo, em regra, um cunho, um verniz, que quase o fazem ter por nacional, e entrar desse modo no plano de quem deseja conhecer os costumes da Nação a que o objecto ou fenómeno importado ficaram pertencendo...

Na vida de um povo de um povo civilizado, em qualquer momento da sua secular existência, há, portanto, duas ordens de fenómenos e de cousas que convém distinguir:

a) Os que constituem, por assim dizer, património da Nação, ou que foram gerados espontânea ou quase espontaneamente, antigos, tradicionais, característicos, e conformes ao génio dele, ou foram trazidos de fora;

b) E os que pertencem propriamente à civilização, importados mais ou menos recentemente de outros povos.

Vem isto a propósito do facto de ser habitual a visita de largos milhares de visitantes, nacionais e estrangeiros (só em 1989 ultrapassaram os 600 000), e, por arrastamento, a necessidade de que o Homem (na prática todos nós!) tem que ter consciência da sua responsabilidade na degradação potencial do domínio natural, tanto por questões de sobrevivência, como estéticas ou de sentimentalismo ou de educação, e, dentro de um espírito de previdência, pensar nas gerações futuras.