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3 DE ABRIL DE 1991

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É, também, para esse «espírito de previdência» que •procura apontar a presente iniciativa legislativa, pois a elevação das Termas do Gerês a vila poderá, de certo modo, contribuir para a prossecução dos seguintes objectivos, indispensáveis na área:

Melhoria da eficiência económica, fazendo corresponder à aptidão de cada área as actividades que melhor a aproveitam;

Manutenção na perenidade dos ecossistemas e conservação do património genético existente, criando uma rede de conservação da Natureza;

Adequação da actividade turística, dimensionan-do-a de acordo com a capacidade de carga do território e canalizando-a para as áreas de maior interesse e menor sensibilidade ecológica.

Pois, apesar de tudo, ao manterem-se até ao presente as Termas do Gerês como «simples lugar», ainda que não se possa falar de «isolamento» e da «conservação plena dos seus hábitos ancestrais», continua a ser uma região serrana com um tipo de economia e «dinâmica» completamente desfazada em relação aos tempos actuais e que, com a sua elevação a categoria de vila, muito poderá vir a beneficiar, quer a povoação e as suas gentes laboriosas, quer a área em que as mesmas se inserem.

Como se sabe, a antiga Bracara Augusta (Braga) foi sede de uma das mais importantes jurisdições romanas da Península Ibérica e testemunho inequívoco da passagem e presença dos romanos na região. A prová-lo a existência, nas proximidades, de uma das cinco vias militares romanas (geiras), que ligvam Braga a Astorga (Asturica Augusta).

Descia até ao rio Cávado, subia alguns quilómetros pela margem esquerda, atravessava para a margem direita na ponte romana (hoje conhecida pelo nome de ponte do Porto), passava na encosta nascente do monte de São Pedro Fins, ao lado da povoação de Caldelas, e entrava na Galiza pela actual fronteira da Portela do Homem, seguindo para Roma, capital do Império Romano do Ocidente.

Foi mandada construir pelo imperador Vespasiano, por volta do ano 75 da nossa era.

Consagrados e insuspeitos historiadores e toponimis-tas, como o Con. Arlindo Ribeiro da Cunha, sustentam a tese da origem do topónimo Gerês como sendo latina, derivada do étimo juressus, criado pelos romanos em razão das semelhanças e reduzidas dimensões geomorfológicas com os montes Jura, na Gália.

A confirmar esta tese aponta-se o facto de Frei Luís de Sousa na sua obra A Vida de Frei Bartolomeu dos Mártires, l.a ed., 1619, referir que o termo juressus era um nome antigo da serra do Gerês.

Também Amorim Girão, geógrafo, referindo-se aos glaciares da serra do Gerês, defendeu a grafia Jures num dos seus artigos publicados no Boletim do Centro de Estudos Geográficos, n.° 16-17, Coimbra, 1958, a pp. 98-100, como sendo a mais vernácula.

A origem latina dq topónimo Gerês parece não se pôr em causa, sofrendo as transformações juressus>jureus>jurês>geres, através dos fenómenos fonéticos e da evolução dos vocábulos que se verificam, através dos tempos, em todas as línguas.

É presumível que as «Termas do Gerês» já fossem conhecidas dos romanos, no entanto só começaram a ter renome no reinado de D. João V, que, em 1735, se interessou vivamente por estas termas dotando-as

com um conjunto de infra-estruturas, de que faziam parte a capela, hospital, poços para banhos termais e residências para o médico, boticário e capelão.

Os poços ou tanques de banhos termais correspondiam a outras tantas nascentes e neles foi colocada a seguinte inscrição:

Estas obras mandou fazer El-Rei Nosso Senhor D. João V à custa dos Povos sendo superintendentes d'ellas o Dr. Gaspar Pimenta d'Avellar, Provedor da Câmara de Guimarães. E para se fazer concorreu com muito zelo o Dr. Francisco Pereira da Cruz, deputado do Santo Ofício e desembargador da Casa da Supplicação de Lisboa.

Abril, 11 de MDCCXXXV.

Os poços e tanques de banhos termais, então construídos, já não existem.

Em 1882 inaugurou-se o primeiro hotel. Em 1885 a estrada vinda de Braga atingiu as termas, aumentando muito a afluência dos aquistas. A viagem fazia-se então normalmente em diligências que venciam as nove léguas do percursos (de Braga) em sete horas, com mudas em Santa Maria de Bouro. Os trens demoravam cerca de cinco horas.

Foi, sobretudo, a partir da segunda metade do século passado que o valor terapêutico dessas águas atingiu uma dimensão jamais conhecida, o que terá contribuído, juntamente com as belezas naturais, a flora e a fauna riquíssimas da sua serra, para que o rei de Portugal de então aqui se deslocasse também. De 12 a 15 de Outubro de 1887 esteve nas Termas do Gerês o rei D. Luís I e a sua comitiva, em que se integraram também D. Maria Pia, D. Carlos e D. Amélia, tendo D. Luís e D. Carlos participado numa caçada aos veados em Leonte.

Em 1897, por ocasião das escavações efectuadas para a construção dos alicerces dos actuais balneários de segunda classe, sitos junto à nascente das águas termais, foram encontradas diversas moedas dos imperadores romanos Gallienus (do ano 253 a 268) e Constancius (nos anos 305 e 306), o que prova a presença dos romanos nas termas do Gerês, embora se desconheça por quanto tempo e se procederam ou não ao levantamento de qualquer construção.

Foram encontradas nessas escavações outras moedas do tempo dos reis D. Afonso III, D. Afonso IV, D. João I, D. Duarte, D. Afonso V e D. João II, o que indica que as águas termais do Gerês foram aproveitadas nos séculos xiii, xiv, e xv.

Vários naturalistas, geólogos e etnógrafos consagraram ao Gerês relevantes estudos. O mais ilustre foi sem dúvida Link, que a visitou na companhia de Hoffman-segg. Por sinal que, vindo a caminho da serra e tendo--se hospedado no Mosteiro de Santa Maria de Bouro, teve aí o grave percalço e desgosto de ver os seus termómetro e barómetro destruídos por uma estulta brincadeira dos frades.

O velho pintor Artur Loureiro, apaixonado pelas belezas da serra, foi aí surpreendido pela morte em 1932. Junto da casa florestal da Portela de Leonte encontra--se uma singela memória dedicada a esse artista.

Na solidão do Gerês deu-se, entre 6 e 9 de Julho de 1829, a rendição de cerca de 5000 homens do comando do brigadeiro Pizzaro, restos das forças da Junta do Porto vencidas em Morouços e no Vouga. Após uma marcha de três dias (Santo Tirso, Braga, Ponte de Caldelas) essas forças, principalmente cons-