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II SÉRIE-A — NÚMERO 57

o campanário branco da sua igrejinha paroquial, a torre entre as franças do seu romântico arvoredo, a Amora com as suas chaminés c seus estaleiros...»

Assim, com esta palavras, no primeiro quartel deste século, Raul Proença convidava a visitar o conjunto de povoações ribeirinhas que estavam unidas entre si através do braço do Tejo, que, ao longo do icmpo, foi recebendo várias designações, desde «rio do Seixal», «saco do Seixal», até «rio Judeu» e «baía do Seixal».

O Seixal c as povoações ribeirinhas da sua área geográfica devem a sua origem e desenvolvimento à força atractiva do Tejo. O braço do rio, aqui, facilitou a aproximação das povoações ribeirinhas unindo-as e dando-lhes uma feição individual com características muito semelhantes, sobretudo na paisagem e nas actividades económicas desenvolvidas na orla da baía do Seixal.

A freguesia do Seixal compreende o núcleo urbano histórico da vila, o Bairro Novo, a Trindade e a Azinheira, mantendo um todo contínuo com Arrentela.

Neste território, que sc estende ao longo da zona ribeirinha do Tejo, existem ainda fortes marcas históricas dc diversas actividades económicas que deram uma individualidade ao Seixal marítimo c industrial: cais, estaleiros navais, moinhos dc maré e fábricas.

O Seixal, muito bem situado no canal que liga a baía ao estuário do Tejo, tornou-se, sobretudo a partir da Idade Moderna, o núcleo urbano mais conhecido da região, significando, por vezes, toda a área geográfica envolvente.

A abundância dc seixo existente nas praias do «rio do Seixal», segundo se crê, deu origem ao topónimo desta povoação ribeirinha da margem sul do Tejo, que viu surgir o seu desenvolvimento nos finais da Idade Média por factores de ordem natural, tais como a existência de praias abrigadas utilizadas para a construção c reparação naval, a navegabilidade a todas as horas do dia, bem como a proximidade dc Lisboa c a intensa procura de produtos locais, quer agrícolas, quer industriais.

A ocupação humana deste território data dos tempos pré-históricos, como documenta o terraço e os instrumentos do Paleolítico encontrados na Quinta da Trindade. Os romanos que ocuparam grande parte da área do estuário do Tejo, também aqui, designadamente na Quinta de São João, na Arrentela, deixaram marcas da sua presença.

Foi, porém, da Idade Média que mais testemunhos ficaram da ocupação desta área da outra banda. Em 1384, Fernão Lopes, na Crónica de D. João I, refere Amora ao localizar as galés do Mestre de Avis, que estavam abrigadas no braço do Tejo que fica entre o Seixal, Arrentela e Amora. Ainda neste mesmo ano D. João I ofereceu a Nuno Álvares Pereira os bens que o judeu David Negro, almoxarife do rei D. Fernando, possuía no Seixal, Arrentela e Amora.

Na transição da Idade Média para a Idade Moderna, fidalgos, nobres e instituições religiosas tornaram-se os principais proprietários do território do Seixal e das povoações vizinhas, possuindo casas de habitação, quintas agrícolas com pomares, vinhas, hortas, pinhais, moinhos de maré, lagares de vinho e de azeite. Os carmelitas e os frades trinos, desde o século xv até 1834, foram senhores de bens existentes nas terras do Seixal.

A esta vila aparece ligado Estevão da Cama, que foi aleaide-mor de Silves e Sines, comendador do Seixal e pai dc Vasco da Gama, notáveis navegadores dos descobrimentos portugueses, que, segundo a tradição, visitaram os estaleiros navais existentes na Ribeira das Naus, instalada no «rio do Seixal», onde se construíram c

repararam navios destinados à empresa dos Descobrimentos. Durante esta época, os estaleiros navais erguidos nas praias da baía do Seixal eram considerados dos melhores de então, juntamente com a Ribeira das Naus, cm Lisboa, c o da Telha, no Barreiro. Na Azinheira recebia--sc e conservava-se a madeira destinada a construção naval, funcionando como dependência da Ribeira das Naus. A importância deste sítio da arqueologia naval encontra-sc materializada no belo edifício pombalino presentemente em adiantado estado de ruína, que foi abrigo de galcotas e bergantins.

O Seixal, a partir do século XV, tornou-se o núcleo urbano mais conhecido do actual território do concelho, embora não fosse sede administrativa porque estava integrada na freguesia da Arrentela. Por vezes o lugar do Seixal era confundido com o de Arrentela, como sucedeu no século xvi com Gaspar Frutuoso: «o Seixal, chamado também Arrentela, onde se dão muitos dos bons vinhos de carregação para a índia». O mesmo autor referia ainda que «além Tejo, na vila do Seixal se produzem os melhores vinhos do Reino e que na sua enseada invemam muitos navios».

Outros autores quinhentistas, como Gil Vicente c Garcia de Resende, colocam cm evidência o Seixal como produtor de vinho de alta qualidade. Para Gil Vicente, a propósito do vinho, no Pranto de Maria Parda, «era glorioso Seixal/Senhor de outros seixais». Enquanto que Garcia de Resende apresenta o vinho do Seixal como produto de troca no comércio com o Oriente: «Querem ouro, prata, cobre, / vermelhão, querem coral / azougue também le vai / Que tê vinho vô vem pobre, /Se he de Almada, ou Seixal; / Nó vende nada alguns meses, /Te que vai os Portugueses».

O Seixal, para além de oferecer produtos dc primeira qualidade, lais como vinho, madeiras de pinho e sobreiro, lenha e farinhas destinadas ao fabrico do biscoito para as armadas, tomou-se célebre pela sua enseada abrigada capaz dc receber navios durante todos os dias c épocas do ano — autêntica marina natural que os marítimos quinhentistas souberam utilizar sabiamente para recolher caravelas e naus.

Enfim, o Seixal transformou-se rapidamente num dos principais cais da outra banda, garantindo a ligação entre Lisboa e o sul do País. Numa dessas passagens por este cais, em meados do século xvn, Afonso VI, vindo dc Azeitão, embarcou no Seixal, mandando aí erguer o letreiro: Vila Nova do Seixal. Por este cais saíam os principais produtos, quer das povoações e quintas dos arredores, quer da área da península de Setúbal.

No início do século xvi o Seixal possuía cerca de três dezenas de habitantes; os restantes moradores distribuíam--sc pelas quintas agrícolas, que exploravam, sobretudo, vinho, fruta c lenha.

O intenso movimento de tráfego fluvial e de actividade marítima — construção e reparação naval e pesca — elevou o Seixal a grande centro dc actividade económica, de modo que, no início do século xvm, Frei Agostinho dc Santa Maria afirmava a respeito da população que «quase todos aqueles moradores são marítimos e pescadores» e que era o maior e mais populoso lugar da freguesia da Arrentela, possuindo, então, cerca de 400 habitantes.

O crescimento do Seixal reflectiu-se na construção dc novos edifícios, designadamente, a igreja. Em 1726, o primeiro patriarca de Lisboa, D. Tomás de Almeida, concedeu licença para a edificação da igreja mairiz do Seixal, tendo-sc realizado a escritura para a sua construção no dia 29 dc Dezembro. Nesta data o número de habitantes rondava os