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II SÉRIE-A — NÚMERO 57

povoação deve o seu nome à existência de arroios. Assim era dada essa explicação, em 1758, pelo pároco Pedro Simões Duarte: «a quem talvez os antigos pusessem este nome por ficar ao Sul dela do nascente a Poente um não pequeno campo baixo e tão húmido que ainda cm o mais ardente, e dilatado Verão conserva alguns arroios ainda que pequenos de águas, que nascidas do Poente, correm por entre os brejos ao mar». (?)

A situação geográfica privilegiada da freguesia de Corroios favoreceu a fixação do homem desde tempos muito antigos, pelo menos a partir da época da presença romana, como documentam os materiais arqueológicos na Quinta do Rouxinol. Foi, porém, a partir da Idade Média, que a povoação de Corroios começou a desenvolver-se, sendo já consumida como freguesia do termo de Almada em 1369, conforme as informações obtidas através da pesquisa documental efectuada, cm meados do século xvni, pelo P.e Pedro Simões Duarte.

A proximidade de Lisboa e a existência de excelentes recursos naturais favoreceram o aproveitamento agrícola e florestal de toda a área.

Em 1385, D. João I ofereceu a Nuno Álvares Pereira terras do termo de Almada, incluindo as que se situavam na freguesia de Corroios. Aqui o condcstávcl organizou quintas agrícolas e, no fundo do esteiro, cm 1403, mandou construir o primeiro moinho dc maré da área do concelho do Seixal. Um ano mais tarde, doou estes bens ao Convento do Carmo, instituição religiosa que os administrou até 1834, ano em que foram nacionalizados: «Da outra banda do Tejo, no termo da vila de Almada, tem este convento a propriedade cm todo o salgado, que entra do barco de Martins Afonso para dentro; sítio, que também se chama Ponta dos Corvos, junto do Seixal. Este salgado entra daquela ponta para dentro dividido cm quatro braços de mar: um deles vai para Corroios, outro para Algenoa, outro para Amora, e em fim o outro para Arrentela: e a mesma propriedade tem cm todas as abras, esteiros, terras e águas daquela enseada. Nestes esteiros deixou já o Senhor Condcstávcl edificado o Moinho de Corroios, primeiro em todo aquele salgado que pelo tempo adiante se edificaram mais quatro, alguns dos quais o Convento beneficia por si, e outros tem aforado a diferentes pessoas, que lhe pagam certas quantias de trigo, com a pensão de o entregarem no seu celeiro desta cidade [Lisboa]». Q)

Para além do moinho de maré, os frades do Carmo possuíam, na área da freguesia dc Corroios, várias quintas agrícolas, das quais extraíam excelentes produtos, cm especial vinho e lenha, c obtinham valiosos rendimentos para o convento dc Lisboa. As quintas dc Corroios, Vargeira e Marialva, propriedades dos carmelitas, csiavam bem equipadas, possuindo as alfaias e instalações rurais necessárias para uma boa exploração agrícola, desde carros dc bois e arados até aos lagares de vinho e respectivos equipamentos. Durante séculos, quase até à actualidade, a agricultura, silvicultura, moagem c tráfego fluvial constituíram as actividades económicas mais representativas da freguesia que se integraram na vida económica de Lisboa.

Em 1736 a paróquia de Corroios, dedicada a Nossa Senhora da Graça, que ficava na província da Estremadura,

(2) A. N. T. T. Dicionário Geográfico, vol. xi. p. 2609.

(3) Frei José P. Santa Ana, Chronica dos Carmelitas, tomo i, Lisboa, 1745. pp. 381 e 382.

pertencia ao patriarcado de Lisboa, à comarca de Setúbal c ao termo da vila de Almada e possuía, para além da igreja matriz, as ermidas de São Pedro, Santo António, Nossa Senhora do Carmo e Santa Marta. (4)

Após o terramoto de 1755 a igreja matriz ficou totalmente arruinada, servindo em sua substituição a ermida dc Santo António da Olaia, na Quinta do Rouxinol. Na ermida de Santa Marta, nos dias 28 e 29 de Julho, feslejava-sc a padroeira com missa cantada e sermão, recebendo «muita gente de romagem de Caparica, Amora, Arrentela e Almada». (5)

Em 1758, a freguesia dc Corroios compreendia as seguintes povoações: Corroios, com 32 habitantes, Marialva, Santa Marta e Carrasco, bem como pequenos lugares com casas bastantes dispersas, e ainda algumas quintas distribuídas por todo o território, totalizando 170 habitantes, que, na sua maioria, trabalhavam no campo, sobretudo na produção do vinho e na recolha da lenha.

O principal porto fluvial da freguesia situava-se no sítio denominado Carrasco e só funcionava durante a preia-mar, não podendo receber muito mais dc quatro embarcações, número que habitualmente saía cm cada maré com carregamentos de lenha c de tojo, produtos energéticos para aquecimento c iluminação, que se destinavam a Lisboa, cidade que dependia energeticamente das charnecas da margem sul do estuário do Tejo. O consumo de lenha atingiu lais dimensões, que, em meados do século xvm, já pouco rcslava na área da freguesia dc Corroios: «Nesta freguesia há oito barcos de mato, que traficam em lenhas para Lisboa, e não pode ter mais, porque estes poucos tem extintas todas as lenhas c mato destes contornos.» (6)

Para além do porto do Carrasco existiam pequenos locais onde as embarcações chegavam para carregar os produtos. Assim, o moinho dc maré possuía o seu próprio cais, onde encostava o barco dos moinhos, embarcação própria para o transporte dc cereais c da farinha deste tipo dc moinhos erguidos na margem sul do estuário, dc Almada até Montijo. «Não é esta terra porto dc mar, mas no distrito dela no sítio chamado Carrasco, o há, que o faz o mesmo mar até ao sítio que torna a recolher com a vasante, e no tempo do preia-mar, principalmente, na ocasião de águas a que chamam vivas, se faz navegável qualquer barco até ao dito sítio, cm que ele acaba; frequentam o comummente quatro barcos, que dele saem nas marés dc Lisboa; e outros sítios carregados dc tojo, c lenha c pode o dito porto admitir poucos mais.» (7)

Até final do século XIX, a freguesia dc Corroios foi essencialmente rural, retalhada por quintas dc fidalgos, nobres e Convento do Carmo, possuindo uma indústria associada às actividades rurais: a indústria do vinho com os seus lagares; a indústria moageira com os moinhos dc maré (*) e dc vento. A partir desta data sentiu os efeitos da máquina a vapor, com a instalação da fábrica dc pólvora dc primeira categoria cm Vale de Milhaços, equipada com uma máquina a vapor que se mantém ainda cm funcionamento. Estamos perante um monumento industrial, de alio valor para a história das técnicas e da industrialização.

(*) P." Luís Cardoso, Dicionário Geográfico, tomo n, 1747, p. 693. r) A. N. T. T. Dicionário Geográfico, vol. xt, p. 2612. Ç) A. N. T. T., Dicionário Geográfico, p. 581. O A. N. T. T., Ibid., vol. XI, p. 2614.

(*) Antonio J. C. Maia Nabais, Moinhos de Mari. Património Industrial, Câmara Municipal do Seixal, 1986.