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II SÉRIE-A — NÚMERO 16

A construção deste edifício marca o início da industrialização na freguesia da Amora, embora com características pré-industriais, próprias da actividade moandeira incentivada em toda a área do Seixal desde a Idade Média.

Ainda na mesma época, Braz Annes, morador no lugar da Amora e criado particular da infanta D. Brites, mandou edificar um moinho junto da «Marinha das Vaccas», que funcionava com «água doce, que vinha das abertas do Caminho de Cisimbra».

No século xvi, na freguesia de Amora, eram localizadas variadíssimas vinhas, como se pode concluir da leitura de um livro Das Escrituras de Afforamentos, referente a esta área. Vejamos o nome de algumas vinhas referidas nesse livro, porque nos ajudam a compreender a sua extensão: «Valle de Pessegueiro (pagava de foro 1335 rs.), Vinha do Pinhal, Fonte da Praia, Vale da Loba, Vale de Crespim, que vai da Ingreja para Amora a Velha (Chciraventos) (pagava de foro 200 rs.), Cascalheira, Caza de Pão [...]»

O vinho produzido nos campos da Amora era de excelente qualidade. Pois quando no início do século xvi Garcia de Resende e Gil Vicente destacavam o vinho do Seixal pela sua qualidade e Gaspar Frutuoso o apontava como o melhor do reino, era ao vinho produzido nas terras do território do concelho do Seixal que se referiam. Este produto agrícola já era exportado no século xvi, como nos sugere Garcia de Resende na sua Miscelânea.

Os moradores da Amora eram homens do mar, carreiros, mateiros, moleiros, trabalhadores e lavadeiras, como nos refere o livro das Visitações, no início do século xvm. Por aqui se pode apreciar a grande variedade de actividades desenvolvidas nesta freguesia desde há longos anos e que, de um modo geral, eram comuns a todas as freguesias do concelho do Seixal.

Esta freguesia, a partir da segunda metade século xix, começa a sentir os efeitos da máquina a vapor. Assim, em 1862 já existia uma fábrica de moagem e descasque de arroz. Alguns anos depois, em 1888, é fundada a fábrica da Companhia de Vidros da Amora, na Quinta dos Lobatos, à beira do rio Judeu, onde se construiu um cais para embarque dos produtos fabris e matérias-primas.

Este estabelecimento fabril, especialmente dedicado ao fabrico de garrafas e garrafões, foi o primeiro do género a ser construído no País. Em 1900 já fabricavam 4 914 729 garrafas. Com esta fábrica, de grande interesse não só para a economia local mas também para a nacional, foi reduzida a importação de garrafas e garrafões que até então se adquiriam na Inglaterra e na Alemanha. Nos finais da década de 20 encerrou definitivamente.

Junto da fábrica foi construído um bairro operário, que ainda se pode observar, onde forma instalados os operários garrafeiras, que inicialmente vieram de Inglaterra mas que, devido ao Ultimatum inglês, foram repatriados pouco tempo depois, sendo de seguida substituídos por 30 operários especializados oriundos de Hamburgo.

Entre os vários efeitos provocados pela instalação desta fábrica, deve saliéntar-se o desenvolvimento do movimento associativo na freguesia. Assim, foi fundada pelos operários a Sociedade Filarmónica Operária Amorense e em 1905 foi criada uma Caixa de Auxílio Mútuo. Também nesta fábrica as greves, que por várias vezes a fizeram parar, testemunham como com a unidade dos trabalhadores foi possível obter vitórias para os trabalhadores no que respeita à defesa dos seus direitos.

Mais tarde outras fábricas se ergueram na freguesia, tais como a Fábrica de Pólvora da Companhia Africana, em Vale de Milhaços —fundada em 1928 e que ainda funciona —, a Fábrica de Cortiça Queimado e Pampolim, a Mundet, a Sociedade Portuguesa de Explosivos, em 1928 e depois transferida para Santa Marta, a Construtora Moderna, etc. Durante este século também se instalaram estaleiros navais na Amora (Venâncio) e no Talaminho.

Desde a Idade Média vários fidalgos e a comunidade religiosa dos Carmelitas tiveram em Amora propriedades, como em geral por todo o concelho do Seixal.

Já em 1384 Fernão Lopes, na Crónica de D. João I, refere Amora ao localizar as galés de D. João I, que estavam abrigadas no braço do rio Tejo que fica entre o Seixal, Arrentela e Amora. Também neste mesmo ano o Mestre de Avis deu a Nuno Álvares Pereira os bens que o judeu David Negro, almoxarife do rei D. Fernando, possuía em Amora e Arrentela. Mais tarde, em 1403, é feito ao Condestável o aforamento dos esteiros da Amora, Arrentela e Corroios. Um ano depois o mesmo Condestável faz a doação ao Convento do Carmo de todos os bens que possuía na região. Nesta época Pedro Ean-nes Lobato construiu a sua quinta em Cheira Ventos, propriedade que lhe foi oferecida por Nuno Álvares Pereira.

Em 19 de Outubro de 1569 D. Belchior Beliagro, cónego da Sé de Lisboa e bispo de Fez, que nasceu no Porto, faleceu em Amora, vítima de peste.

Houve nesta freguesia morgados e antigas famílias nobres, tais como o morgado da Quinta dos Condes de Portalegre, o da Quinta Grande, no lugar da Fonte de Prata — que foi dos Correias de Lacerdas —, o dos condes de Atalaia e o dos Moraes e Cabrais, no Tala-minho; cm Cheira Ventos havia o nobre antigo morgado dos Pintos e Gaias; neste mesmo lugar existiu outro morgado na antiga família dos Lobatos.

Também nesta freguesia a princesa D. Maria Benedicta, irmã da rainha D. Maria I, viúva do príncipe D. José e fundadora do Hospital dos Inválidos de Runa, teve um palácio e uma quinta que passaram depois para a infanta D. Isabel Maria.

Depois da morte desta infanta o príncipe D. Augusto comprou a propriedade, que no final do século passado beneficiou com a plantação de vinhas e de pinheiros e a reedificação do famoso Palácio da Amora, que ainda existe.

A partir da segunda metade deste século as encantadoras quintas desta freguesia foram substituídas por blocos de cimento armado, que poucos vestígios deixaram do passado rural desta área, a não ser os nomes que os bairros vão herdando das antigas quintas.

O acelerado processo de construção de bairros residenciais verificado nestas últimas décadas levou a um aumento extraordinário da população. Eis alguns dados relativos à evolução demográfica: em 1527, quando se fez o primeiro censo da população portuguesa, Amora registava 21 moradores (cerca de 50 habitantes); no início do século xvn, segundo Nicolau Oliveira, tinha 60 fogos e 250 habitantes; em 1758, conforme dos dados das Memórias Paroquiais, existiam, como números referentes à população desta freguesia, fogos — 229, pessoas de comunhão — 847, menores — 44.

Já no século xix, concretamente em 1839, Amora possuía 256 fogos e, em 1846, 1119 habitantes; em 1900, só atingiu os 2075 habitantes, aumentando, em 1940, para 3707 e. em 1950, para 4984 habitantes.

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