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1393 | II Série A - Número 036 | 22 de Fevereiro de 2001

 

PROJECTO DE LEI N.º 380/VIII
CRIAÇÃO, NO CONCELHO DE TORRES NOVAS, DA FREGUESIA DE MEIA VIA

Exposição de motivos

A Comissão Pró Freguesia de Meia Via, constituída por Teresa Maria Neves Rodrigues, representante da Assembleia de Freguesia de Santiago pelo Partido Socialista (PS), José Carlos Ferreira Rosa, representante da Assembleia de Freguesia de Santiago pelo Partido Social Democrata (PSD), José Augusto Paixão Conde, representante da Assembleia de Freguesia de Santiago pela Coligação Democrática Unitária (CDU), José Manuel Dias da Graça, representante da Junta de Freguesia de Santiago, e José Gil Carreira Maia Serôdio, proponente do projecto de freguesia de Meia Via e nomeado pela Assembleia de Freguesia de Santiago, através de dossier devidamente organizado, expressou a vontade das populações abrangidas em promover a criação da futura freguesia de Meia Via, pelo desmembramento da actual freguesia de Santiago.
Do mesmo dossier constam deliberações, aprovadas por unanimidade, da Junta de Freguesia de Santiago, Assembleia de Freguesia de Santiago, Câmara Municipal de Torres Novas e Assembleia Municipal de Torres Novas.
E da documentação apresentada constam, entre outros, os seguintes dados que fundamentam tal aspiração:

I - Razões de ordem histórica

Situada numa região de terras delgadas, Meia Via sempre fez parte da freguesia de Santiago.
Era uso dizer-se que "as terras da Meia Via não aguentam água nem sol" - eram pobres, por fracas, como pobres foram os meiavienses e os seus remotos antepassados.
Tal pobreza nunca foi, no entanto, impedimento definitivo para os meiavienses, ao longo dos tempos, se habituarem a ser eles próprios os construtores dos meios para melhorarem as suas vidas.
Nos primórdios instalaram-se em casais, unidades de povoamento antigo, de que são testemunho as denominações de muitas das nossas localidades.
Nas tais terras pobres os nossos antepassados calcorrearam léguas, arrotearam geiras, mediram alqueires e almudes, beberam quartilhos e canadas, abriram palmos de poços, regaram à picota e ao cabaço, produziram adobos, tijolos e telhas.
Desenvolviam, assim, as actividades agrícolas e artesanais próprias de cada época, em jornadas de canseiras intermináveis.
Uma vez no ano, por altura do solstício do Verão, era tempo de alegria. Reunidos os casais, sacrificavam uma rês, mais tarde apelidada por boi danado, que depois comiam em bodo colectivo, cantando e dançando cantos e danças de agradecimento à mãe natureza por boas colheitas de azeite, vinho e pão e gados saudáveis na criação.
Foi assim, pelo menos, até aos meados do século XVI.
Quando este conjunto de casais do "Espargal", antiga povoação que depois veio a chamar-se Meia Via, onde, reza a lenda, teriam os cingeleiros de Riachos encontrado a imagem do Sr. Jesus de Santiago, demonstrava já alguma pujança, ergueram a ermida de Nossa Senhora de Monserrate e surge a primeira referência à Meia Via num pergaminho de cariz religioso datado de 6 de Agosto de 1668.
O ritual de sacrifício do boi danado, evento religioso-pagão, fora então adaptado e integrado no calendário litúrgico católico, nascendo desse facto os festejos em honra do Divino Espírito Santo, que perduram nos nossos tempos.
Não é, portanto, conhecida a data exacta em que a Meia Via ganhou esta denominação, mas pensa-se que ela provém do facto da povoação estar situada a meio caminho na estrada real de ligação Lisboa/Coimbra e possuir um poço público (actualmente quase completamente destruído), onde as caravanas paravam para descanso de homens e bestas (in Mosaico Torrejano, de A. Gonçalves, pág. 228).
No início do século XIX viviam e subsistiam os meiavienses na base do cultivo de pequenas parcelas agrícolas e da exploração dos baldios existentes na Charneca e arredores, quando foram espoliados de madeiras e lenhas pelo então administrador concelhio de Torres Novas.
Descontentes e indignados, apresentaram reclamações e petições à Casa Real, conseguindo, com a sua pertinácia, despacho favorável à divisão dos referidos baldios pelas famílias, fugindo por este meio ao controlo e usurpação exercidos pela administração torrejana, constituindo-se em proprietários agrícolas, conseguindo, assim, mais um meio de subsistência.
Ainda nesse século foi instituída a escola oficial local e fundada a Sociedade Filarmónica Euterpe Meiaviense.
O século XX chegou e trouxe consigo a decadência do regime monárquico.
Por entre lutas políticas de monárquicos e republicanos foi construído o cemitério de Meia Via em 1909, com fundos recolhidos por subscrição pública para a qual contribuíram as populações de quase todos os lugares da freguesia de Santiago.
Em 1910 cai a monarquia.
A burguesia emergente em Meia Via, partidária da República, afirma-se pelo fortalecimento do ensino local, abre a escola às raparigas e funda o Grupo de Recreio Musical Meiaviense (TUNA) e a biblioteca, ambos funcionando no Teatro Maria Noémia, construído nos anos 1924 e 1925 e inaugurado em 1926.
Ficaram célebres as récitas e bailes dos anos 30 na Tuna.
É durante este período, de lutas políticas entre velhos adeptos monárquicos e republicanos vitoriosos motivados para à fundação da freguesia de Meia Via, que se acentua a divisão entre as populações de Meia Via, onde imperava a causa republicana, e os Pintainhos, Carreiro de Areia e Gateiras, ao ponto de até aos nossos dias as famílias destas últimas localidades se recusarem a sepultar os seus mortos no cemitério de Meia Via, que eles próprios ajudaram a pagar.
Foi o fim de qualquer tipo de vivência em comum que até aí possa ter existido.
Foi o culminar das lutas políticas de então que impediram a Meia Via de ser freguesia ainda antes dos anos 30.
Apesar das contrariedades, os meiavienses sempre conseguiram manter a sua capacidade de lutar, de festejar, de aprender, de se cultivar, de trabalhar, de assegurar as tradições e, sobretudo, de amar a sua terra. No entanto, salvo raras excepções, os meiavienses continuaram sendo, essencialmente, trabalhadores rurais e pequenos proprietários até à II Guerra Mundial.
Só no princípio da década de 50, com o enorme desenvolvimento da indústria ferroviária no Entroncamento e dos têxteis e lanifícios e do papel da metalomecânica, da destilação e dos transportes rodoviários em Torres Novas, tanto umas como outras reclamaram essa mão-de-obra não qualificada, que de rural se transformou em industrial.
Assim, os rurais e seus filhos transformam-se em operários, e, por sua vez, os filhos destes, já com formação